Cultura

VOCÊ QUER SER GORDO OU PREFERE SER MAGRO DE RUINDADE? POR OTTO FREITAS

VIDE
| 09/04/2012 às 07:09
A coluna Vida de Gordo chega ao número 25 e analisa ser gordo e ser magro
Foto: DIV
  Todo gordo quer ser magro. Não há um gordo sequer que goste de ser gordo, como Jeffinho já disse. Mas acontece que magro também é minoria, representa menos de 5% da população brasileira, segundo estimativas mais confiáveis, e padece de males exatamente iguais ou semelhantes aos do gordo.


   O magricela mesmo de verdade já sofre com o nome, ectomorfia, palavra dessa nossa língua rica que descreve a magreza excessiva. Daí vêm o bullyng e os apelidos (Raio X, Carcaça, Macarrão, Olivia Palito, Magrão, Magriça, Magrelo, Tripa, Bactéria, Esqueleto, Alfinete, Comprido), passando, no sentido inverso ao gordo, pela balança e a dificuldade de comprar roupa, se não for em loja de criança.


   A bulemia e a anorexia estão para o magro como a obesidade mórbida para o gordo, guardando-se as especificidades e características de cada caso, evidentemente. Aqui se considera o magro normal, incluídos os baixinhos e os muito altos, aqueles chamados vara-paus. Magro tem metabolismo acelerado e também briga com a balança, por razão contrária à do gordo, que tem metabolismo lento, e pode comer um boi inteiro que nada acontece.

   Os endocrinologistas asseguram, no entanto, que comer demais faz tanto mal aos magros como comer de menos aos gordos.


   Em matéria da Folha de São Paulo (Caderno Equilíbrio, 21/06/11), o jornalista Guilherme Genestreti lembra que os homens magros querem ter músculos e as mulheres as curvas no corpo. Embora por razões opostas, gordos e magros convivem com a mesma vergonha do corpo e dietas malucas. Tanto uns quanto os outros sonham em alcançar aquele corpo perfeito.  


   Magro demais é aquele que tem o IMC-Indice de Massa Corporal abaixo de 18,5 (calcula-se dividindo o peso em quilo pelo quadrado da altura em metro). É o chamado magro de ruindade, ou seja, aquele que tem predisposição genética para a magreza, matando de inveja o gordo que tem predisposição genética para o excesso de peso. Jeffinho mesmo diz que anda doido para ostentar uma ruindade dessas - Deus o perdoaria, ele tem certeza. Além do mais, magreza e dinheiro nunca são demais, como diz o ditado popular.

 

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  São condições inversamente proporcionais, por conta da própria condição do corpo humano, que vai perdendo suas capacidades com o tempo. O magrelo, com a idade, ganha pouco peso, por conta da desaceleração do seu metabolismo, que é rapidão, mas fica com o corpinho no ponto, deixa de ser esquelético. Já o gordinho, que já nasce com o metabolismo lerdo, com a idade vira praticamente uma baleia inerte, de metabolismo quase parado.


   Magro, pelo menos, pode ser elegante. Olha o caso da primeira dama francesa: nua, produz uma visão terrível, perde longe para Oliva Palito; vestida, é uma maravilha de exuberância e beleza.  Mesmo desconsiderando a aparência física - que conta muito no mundo de hoje, ninguém pode negar -, gordo não pode nada; magro pode tudo.

Magro tem privilégios naturais, condizentes com sua condição física.

  Pode, por exemplo, transformar em sofá confortável qualquer poltroninha de avião, de ônibus, de cinema ou de teatro. Gordo nem cabe nessas cadeiras. Para o gordo, o carro popular, todo apertadinho, parece de brinquedo; para o magro, são verdadeiros Cadilacs, como aquelas banheiras antigas, enormes e espaçosos.


   Enfim, a vantagem do magro sobre o gordo é infinita. Jeffinho emagrece e não acaba de listar todas elas. Uma coisa é certa: se magro tiver uma cruz a carregar, ela deve ser daquelas pequenininhas, bem levinhas, como jóias de bebê.  




* Otto Freitas (otto.freitas@terra.com.br), 58 anos, é jornalista, formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atua na imprensa baiana há quase 40 anos, em revistas, jornais e TV; comunicação corporativa e jornalismo digital.