Cultura

BEL BORBA E A CRIAÇÃO DO MAR A TERRA COM SABEDORIA, POR LIGIA AGUIAR

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| 20/03/2012 às 10:00
Obras com fragmentos da implosão do estádio da Fonte Nova, Rodin Bahia
Foto: DIV
   Bel Borba renovou o visual da paisagem urbana de Salvador, quando em 1996, saiu na frente com o projeto Novo Grafismo de Rua, e deixou como contribuição para toda a cidade coloridos e contemporâneos painéis, na técnica de mosaico.


   Ele sempre a pensar a cidade... desta vez mostra todo o seu talento na exposição Aqui. Em Sete Elementos,em cartaz no Palacete Das Artes Rodin Bahia, até o dia 23 de março.


   O inquieto artista, a cada dia se supera, busca novos desafios, e leva ao público belos resultados, como este em que se apropriou de toneladas de fragmentos da implosão do estádio da Fonte Nova.


   Com o deslocamento, deu um novo sentido aos escombros, ressignificando-os em monumentais esculturas que chegam a atingir cinco metros de altura. Outras menores adquirem novas formas, como cadeira, bicicleta, cabeças, entre outras.


   O estádio foi perenizado não somente com registros históricos e fotográficos, mas também com as totêmicas esculturas trabalhadas em baixo relevo, matéria palpável, do que foi um dia uma arena, em que acolheu momentos de fortes emoções vividas por muitas gerações de torcedores.


   O próprio Bel filosofa, a "Vibração da Plateia deve ter impregnado cada molécula daquele concreto, a matéria tem memória".


   Um dos grandes méritos do artista é que ele vive a sua cidade com olhos atentos, com o que acontece ao seu redor. Olhos de artista, sintonizado com o seu tempo, com o lugar onde vive.


   A sua inquietude artística o deixa em constante processo criativo. Como um artista multifacetado, nesta mostra ele não se detém em uma só linguagem e utiliza meios e suportes variados, como a série "Tapetes Voadores". Bel se apodera de tapetes baratos, similares ao Persa, sobre eles usa tinta branca em abundância, revelando nessa interferência, um surpreendente contraste de figuras que parecem saídas dos contos de "As Mil e Uma Noites".


   Ainda na exposição, o artista homenageia a sua pequenina filha, Bela, com uma grande pintura que registra um momento íntimo de troca de fraldas.


   Em permanente criatividade, as várias idas ao consultório dentário, rendeu uma instalação fotográfica que mostra pessoas desdentadas sorrindo, e ao lado, outras já com os sorrisos restaurados. A tinta branca, mais uma vez, atua com pinceladas que remete à venda nos olhos dos retratados. Este trabalho de estética digital possui um grande apelo visual.


   No "Azulejo da Vida" ele relata com um grande poder de síntese, em traços rápidos, a sua experiência de vida: do nascimento aos dias atuais.


   Bel se renova a cada dia seja na vida pessoal ou na artística, como ele mesmo diz "tiro partido das dificuldades".


   Em 2009, na exposição Água Grande, ele abraçou a causa da Associação Viva Saveiros, na tentativa de salvar os históricos e tradicionais saveiros da extinção, reutilizou 100 toneladas de aço carbono para esculpir 23 esculturas de grande porte. Para acolher os imensos e belos trabalhos, Bel escolheu um inusitado local: o Galpão 1 da CODEBA, no Comércio. A exposição foi um grande sucesso.


    Incansável, mais uma vez, ele sai da terra e se lança ao mar, retoma a causa e expõe "Saveiros da Bahia", que está em cartaz no Centro Cultural dos Correios, no Largo de São Francisco, Centro Histórico.


   A mostra reúne criações como pinturas, esculturas, desenhos e gravuras de várias fases da carreira de Bel, que têm a cultuada embarcação como tema, e fica em cartaz até 28 de abril.


   Aproveite e vá apreciar as duas mostras, pois neste ano Bel não fará novas exposições em Salvador. Levantará novos voos. Só nos resta aguardar o próximo...


    É... Diante desses seus 35 anos de arte, podemos dizer que Bel Borba é um artista de peso. Literalmente...