Cultura

CENTRO HISTÓRICO RECEBE TERNO DE REIS COM 300 INTEGRANTES

Como parte do Projeto Festas da Diversidade no Pelô, maior reisado de Salvador fará desfile no Centro Histórico
| 03/01/2012 às 20:16

Nesta quinta-feira, 5, às 21 horas, o Centro Histórico receberá o maior reisado da Bahia: Terno da Alvorada. A folia de Reis, integrante do Projeto Festas da Diversidade no Pelô, tem o apoio do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI) para comemorar um momento histórico na sua trajetória. Os quase 300 componentes, na sua maioria da terceira idade, se reunirão para marcar os 30 anos desde a primeira vez em que as ruas do Pelourinho abrigaram o desfile.      

De acordo com Maria do Socorro Barros, comerciante da região e uma das coordenadoras do reisado, é a primeira vez em anos que eles conseguem um apoio cultural. “Estamos muito felizes e vamos comemorar em grande estilo o nosso aniversário. Foram anos de muitas dificuldades, mas nunca pensamos em desistir de sair pelas ruas do Centro Histórico”, assegura.

Este ano, excepcionalmente, o grupo sairá do Largo do Pelourinho e seguirá pelas ruas em cortejo com muita alegria e música até a Lapinha. “É a primeira vez que faremos este trajeto, é longo, mas conseguiremos. Faz parte do nosso DNA superar as dificuldades”, diz ela, elogiando o atual momento do Pelourinho. “Importante pontuar as mudanças que estamos tendo no Centro Histórico. Como comerciante aqui há anos tenho visto um esforço muito grande no sentido de revitalizar culturalmente a nossa região. A criação do CCPI tem sido importante e esperamos que ele possa ter cada vez mais autonomia para realizar seus projetos”, festeja.

A história do Terno da Alvorada começou em 1982, quando um grupo de amigos decidiu se reunir para marcar o Dia de Reis, comemorado 6 de janeiro. Naquela época, de acordo com Socorro, o terno era conhecido como Ternos dos Malucos. “Isso porque fazíamos tudo improvisadamente, sem dinheiro, e no fim da festa recolhíamos recursos para pagar os músicos. O engraçado era que até o sofrimento era divertido. Para nós, era tudo motivo de festa”, explica. Este ano, o reisado recebeu o apoio do CCPI, órgão da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult/BA). “Queremos marcar a nossa gratidão ao Centro que se sensibilizou com o nosso projeto e a nossa causa”, pontua.

Terno de Reis, Folia de Reis ou Reisado

A visita dos Reis Magos ao menino Jesus no Brasil se converteu em visitação nas casas, que dura do final de dezembro até o Dia de Reis, e é feita por grupos organizados, muitos dos quais motivados por propósitos sociais e filantrópicos. Cada grupo, chamado em alguns lugares de Folia de Reis, em outros Terno de Reis ou Reisados, é composto por músicos tocando instrumentos, em sua maioria de confecção caseira e artesanal, como tambores, reco-reco, flauta e rabeca (espécie de violino rústico), além da tradicional viola caipira e do acordeão, também conhecida em certas regiões como sanfona, gaita ou pé-de-bode.

Além dos músicos instrumentistas e cantores, o grupo muitas vezes se compõe também de dançarinos, palhaços e outras figuras folclóricas devidamente caracterizadas segundo as lendas e tradições locais. Todos se organizam sob a liderança do Mestre da Folia e seguem com reverência os passos da bandeira, cumprindo rituais tradicionais de inquestionável beleza e riqueza cultural.

As canções são sempre sobre temas religiosos, com exceção daquelas tocadas nas tradicionais paradas para jantares, almoços ou repouso dos foliões, onde acontecem animadas festas com cantorias e danças típicas regionais, como catira, moda de viola e cateretê.

Contudo, ao contrário dos Reis da tradição, o propósito da folia não é o de levar presentes mas de recebê-los do dono da casa para finalidades filantrópicas, exceto, obviamente, as fartas mesas dos jantares e as bebidas que são oferecidas aos foliões. Com o tempo, as apresentações sofreram adaptações, mas os personagens ainda são fielmente representados, como os Reis Magos e o menino Jesus.