Cultura

CRÔNICAS DE FLIPERAMA REVIVE SONHOS JUVENIS, por LÍGIA AGUIAR

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| 16/11/2011 às 08:59
Os sonhos juvenis e a "febre" dos fliperamas na arte de Mike Sam Chagas
Foto: DIV
 

Nas décadas de 1970 a 1990, do século XX, a febre dos fliperamas no Brasil, atingiu pessoas de todas as idades,hoje, com a chegada dos videosgames caseiros, as "mágicas" máquinas de jogos eletrônicos desapareceram.


Para revisitar essa tendência, o artista Mike Sam Chagas, em suas memórias juvenis, nos brinda com a exposição "Crônicas de Fliperama"  em cartaz na Caixa Cultural, até o dia 4 de dezembro.


A mostra tem a curadoria do artista visual Edgard Oliva, que diz "a pintura de Mike Sam é plena de vitalidade e nostalgia, como nossas mentes".

Apintura do artista mineiro, que elegeu Salvador para viver, é figurativa. A sua temática versa sobre avariedade dos jogos eletrônicos, chamados de Arcade, lembrança de Poços de Caldas, cidade em que nasceu,famosa por suas águas termais, e pelos cassinos, que no passado eram a maior atração local.


São pinturas a óleo de grande e médio porte, que retratam cenas do cotidiano de jovens estudantes em praças e jardins públicos de Salvador, principalmente no centro da cidade, numa narrativa visual que mostra as atitudes dos colegiais, nas horas de lazer, no modo de vestir e no relacionamento entre eles,revelando a dualidade entre as antigas máquinas do cassino com os jovens de hoje que são a geração do vídeo game.

Exímio desenhista domina a técnica da pintura com maestria, além da impecável fatura aplicada aos trabalhos.

O cronista do pincel usa a sua colorida paleta paratratar a matéria pictórica em vivos contrastes, com predominância da cor azul e suas várias nuances, destacando figura e fundo, em que deixa transparecer o ambiente feérico dos cassinos e salões de jogos, objeto principal das pinturas.


Mas as jovens mulheres e amores possíveis, também são protagonistas de muitas de suas obras, impregnadas de fortes tons róseos. Em outras, elas, mais maduras e sensuais, adquirem um ar das musas de Toulouse Lautrec, (1800/1901) impressas em cartazes litográficos, representação da vida boêmia da"Belle Époque".


Em uma das telas dessa mesma série, a figura central parece saída das mãos do artista austríaco EgonSchiele (1890/1905), com suas figuras distorcidas e magras.Essa foi uma homenagem de Mike, ao polêmico artista, amigo de Gustav Klimt, nome maior do movimento ArtNoveau austríaco (1862/1918).  


No conjunto essas referências alusivas à história da arte,aliadas ao tema central da mostra, à primeira vista, causam estranhamento. Após uma apurada apreciação,essa impressão se desfaz deixando antever uma total coerênciaestética e formal do artista.

Em sua trajetória,Mike Sam é formado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, (UFBA), recebeu o premio Arte e Cultura do Banco Capital, e Portas Abertas Para Artes Visuais da FUNCEB, além de participar de várias individuais e coletivas.


Preste atenção nessa exposição: as lembranças do passado que o artista imprime em suas pinturas, se misturam com a atualidade do mundo contemporâneo.


Histórico


O início da história dos Fliperamas no Brasil ocorreu em Poços de Caldas, na primeira metade do século XX. Nesse período, a cidade atraia não somente pela cura de suas águas milagrosas, mas também pelo grande número de cassinos e clubes de jogo. Em 1946, os cassinos encerram as suas atividades no Brasil, por decreto do Presidente Eurico Gaspar Dutra.


Mas é na década de 70 que ocorre uma grande expansão dos salões de jogos em função da implantação da empresa Taito no país, especializada em pinballs eletrônicos, possibilitando o baixo custo das máquinas.


Havia máquinas de fliperama em todos os lugares - bares, lanchonetes, rodoviárias e eram frequentados diariamente por muitos jovens, até a sua decadência no final dos anos 90.Ainda se vê, hoje, uma ou outra máquina, que também é utilizada na decoração retrô, moda que assola o país.


Lígia Aguiar é artista visual                                               www.ligiaaguiar.blogspot.com