Cultura

GORDO NÃO CABE EM POLTRONA E VIAGEM DE AVIÃO É TERROR, p OTTO FREITAS

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| 07/11/2011 às 00:12
Pior que ainda tem gente que defende gordo pagar duas passagens em avião
Foto: DIV
 

Não faltam pesquisas para confirmar e reafirmar o que todo mundo sente na pele, gordos e magros: poltrona de avião é pequena e não atende às necessidades da maior parte dos passageiros, sobretudo em voos domésticos - excetuando-se criança, faquir, anões em geral, asiáticos e seus descendentes.


O encosto dos assentos tem, em média, 45 cm de largura, mas cerca de 70% dos passageiros pesquisados têm mais de 45 cm de largura entre os ombros. Quanto mais gordo (mais de 70% dos usuários estão acima do peso, segundo as pesquisas) e mais alto for o passageiro, maior o seu desconforto.

Mas, em vez de resolver o problema, há quem tente vender mais caro os assentos da primeira fila e da saída de emergência, que têm mais espaço para as pernas, pelo menos.


Geralmente, esses lugares são reservados para o que as companhias chamam de "prioridades": idosos, portadores de deficiência física e pessoas com criança de colo. Em vez de cobrar mais caro, o certo seria incluir gordos e grandões entre as "prioridades".

Alguns vôos nacionais têm classe executiva e econômica. A executiva equivale a uma cadeira e meia da classe econômica.

Ou seja, três passageiros da classe econômica ocupam o mesmo espaço que dois na executiva. Então, o gordo que não tem grana para voar na primeira classe, na executiva, ou pagar por duas poltronas, tem que sofrer o aperto, além de espremer e asfixiar o magro ao seu lado (sempre colocam um magro ao lado do gordo, parece sacanagem!).  


Beguinha tem um metro e noventa de altura e uns cento e poucos quilos. Ele é um paraibano narigudo, desses que botam o pé no salão de passageiros e o nariz vai logo adiantando o check in. É um amigo especial, padrinho de Jeffinho, a quem ensinou lição preciosa: quando a amizade é verdadeira, tempo não é nada e "longe é um lugar que não existe".


Certa vez, Beguinha passou quase o vôo inteiro, entre Hong Kong e a Tailândia, com um indiano maior e muito mais gordo que ele (2,20 m de altura e uns 300 kg) dormindo e roncando no seu ombro. Até que, finalmente, um comissário mais sensato transferiu o gigante obeso para a classe executiva, antes que sufocasse o Paraíba.

Naqueles aviões menores das companhias regionais a situação é mais grave ainda. O gordo viaja de banda, ou compra duas poltronas; os altos passam a viagem inteira curvados, batendo a cabeça no teto e levando porrada nos joelhos.


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Como se vê, viajar de avião é um terror para os gordos, mesmo os que não têm medo de avião. Jeffinho, que é gato escaldado, desenvolveu algumas estratégias para aliviar o sofrimento. Para começar, sempre escolhe a poltrona do corredor, pois facilita as idas ao banheiro e deixa livre a outra metade do corpo, oposta ao único vizinho.

Mas convém ficar atento, para não ser atropelado pela comissária mal humorada, que leva seu ombro com aquele pesado carrinho de bebidas - se é que suco artificial de caixa, refrigerante e cerveja quentes e vinho barato podem ser incluídos na nobre categoria das bebidas.


Outro recurso adotado por Jeffinho, que não pode abrir mão do extensor de cinto, é ficar na porta de emergência, se não precisar pagar mais por isso. A poltrona não reclina, mas o espaço para as pernas é confortável. Sem contar que, nessa posição, o gordo é de grande utilidade: em caso de descompressão, se a porta se abrir acidentalmente, o gordo é sugado para fora, mas fica entalado, não passa no buraco, estabilizando a aeronave. Além de rolha de poço, o obeso vira também rolha de porta de avião.

O 0fato é que, em geral, poltrona de avião é tão estreita que o gordo não senta, se encaixa. Caveirão, colega de peleja de Jeffinho, é um gordão modernoso (coisa aí de 1:85m, 200kg), que só usa roupas coloridas, pinta o cabelo de vermelho e nutri no queixo um rabicho pintado de lilás.


Caveirão
enlouquece com os esticões que a cueca lhe dá no saco. Quando senta, os braços da poltrona apertada vão puxando as calças e as cuecas para cima, apertando os testículos. Ele levanta, ajeita a cueca entre as pernas, e, ao se sentar, lá se vão as calças e as cuecas puxadas para cima novamente. É uma verdadeira tortura!

Uma coisa é certa: seja gordo ou magro, beber lá em cima é um perigo. No máximo, uma ou duas taças de vinho. Se enfiar a cara, a embriaguês chega rapidamente, porque acima das nuvens uma dose vale por três. Nem dá tempo de acabar aquele saquinho raquítico com uns três ou quatro carocinhos de amendoim.

Mas a cadeirinha do avião se transforma em imensa e confortável poltrona, praticamente uma cama king size. Dá para dormir legal!


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Nota do autor

Em crônica recente, este colunista atribuiu a Santo Expedito o poder de resolver causas impossíveis. Na verdade, ele é o protetor das causas urgentes e de difícil solução. Cometeu-se uma injustiça com São Judas Tadeu, que tem o seu dia festejado em outubro (28). Ele, sim, é o patrono das causas perdidas. Sabendo disso, Diante disso, Jeffinho tornou-se devoto devoto e fez promessa para emagrecer aos dois santos. Por garantia.