Cultura

SÓ INSERÇÃO SOCIAL AJUDA NA RECUPERAÇÃO DOS DEPENDENTES QUÍMICOS

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| 29/10/2011 às 09:23
Nenhum país vai conseguir tirar seus adolescentes da dependência química se não trabalhar com a reinserção social, destacou John E. Burns (EUA), doutor em Administração de Programas de Tratamento de Dependência Química, durante sua palestra no VI Simpósio de Alcoologia e outras Drogas, promovido pela Vila Serena Bahia sobre o Smart Recovery, considerado uma ferramenta de auto monitoramento para o dependente químico.

Em sua opinião, se não houver investimentos na reinserção, não adiantará investimentos em CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) ou ampliação de leitos psiquiátricos para o tratamento da dependência, porque a recuperação para a dependência de qualquer droga depende da mudança de vida; a substância é circunstancial. Psicólogo, teólogo e mestre em sociologia, John Burns defende que o caminho para se livrar do vício é a mudança de atitude, de modo de viver.
 
Mas destaca que no Brasil e nos demais países que estão vendo seus jovens consumirem cada vez mais drogas duas situações distintas dificultam essa mudança de vida: "Os adolescentes das classes média e alta tem resistência em mudar; os pobres não tem como mudar". 

Recuperação de adultos 

A mudança de vida, pré-requisito para permanecer longe da dependência adquirida, é encarada de outra forma quando o adicto é mais de 18 anos, explica John Burns, que fundou a Vila Serena no Brasil, há 30 anos. Segundo o especialista, cerca de 30% dos dependentes alcançam uma recuperação apenas com o tratamento de 30 a 90 dias, enquanto as possibilidades de quem participa de atividades em grupos posteriormente à internação por cerca de 2 anos passa a 60 - 80%.
 
"Tratamento não é recuperação", alerta. Em sua palestra Uma abordagem cognitivo comportamental: Smart Recovery, Burns destacou que nos Estados Unidos centros de tratamento de curto prazo estão sendo substituídos por instituições de longo prazo que são financeiramente viáveis. Entre os modelos citou pensões, condomínios, escolas, empresas, igrejas, clubes recreativos e esportivos, cafés, clubes de livros e programas de rádio e televisão. Ele lembra que o tratamento em grupos tem a vantagem de não ter custo, ao contrário das internações curtas.

O  Smart Recovery ( ou a recuperação inteligente) é baseado em técnicas de terapias ocupacionais e tem alcançado excelentes resultados no pós-tratamento da dependência química nos Estados Unidos. "O poder está no grupo, porque ele é o próprio terapeuta", argumenta John Burns, acrescentando que o Brasil, enquanto governo, está começando a entender isso. Citou a recente Resolução - RDC 29, de 30 de junho de 2011, editada pela Anvisa, que prevê no parágrafo único do Art. 1º , que "o principal instrumento terapêutico a ser utilizado para o tratamento das pessoas com transtornos decorrentes de uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas deverá ser a convivência entre os pares (...)".

Burns também elogiou a iniciativas de algumas empresas no Brasil que estão investindo em tratamento em grupos, com a supervisão de assistentes sociais e psicólogos. Em sua opinião, isso é importante porque significa que a empresa oferece chance de recuperação aos funcionários, em vez de demiti-los e criar um problema social. Como doutor no assunto, considera que um grupo está sempre em fluxo: pessoalmente, emocionalmente e fisicamente. Mas ressalta a necessidade dos grupos tradicionais como os Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos se atualizarem para poder sobreviver como grupos que ajudam os dependentes em recuperação. Por considerar que tratamento de dependência química é uma arte e não uma ciência, ele defende a utilização de dinâmicas que não deixem os participantes tão presos a um culto, como acontece hoje nos AAs e NAs, que seguem os 12 passos. O Simpósio prossegue amanhã (29), a partir da 8h30, com duas conferências nacionais e uma mesa redonda. Henrique Bottura (SP), falará sobre Jogo Patológico e outros transtornos de impulso. Sérgio de Paula Ramos (RS) abordará o tema Do álcool ao crack: uma viagem sem pai. E a Mesa Redonda terá como tema Recuperação: a fala de uma vivência, tendo como participantes José Lamartine (BA) e Hilda Pelegrini (BA).