Cultura

VIDA DE GORDO: TRANSAR COM ESPELHO NO MOTEL É DOSE, POR OTTO FREITAS

VIDE
| 24/10/2011 às 09:00
Vida de gordo tem seus sacrifícios e suas virtudes
Foto: DIV
 

Gordo também sofre no amor. É uma solidão danada, a não ser que compre companhias profissionais, com o propósito exclusivo de fazer sexo. Mas Jeffinho é um amante à moda antiga, do tipo que adora mandar flores e ouvir Roberto Carlos, gosta mesmo é de um romance. Só namora misturando sexo com amor, carinho e amizade - e não tem medo de ser ridículo.

Acontece que gordo é praticamente um ogro, aquele obeso mitológico grandalhão, feio e desajeitado. Só mesmo na literatura e no cinema um ogro vive histórias de amor e paixão, como em contos de fadas tipo O Pequeno Polegar e Shrek. Na vida real, é tudo sonho e ilusão.


Jeffinho mesmo, que não se acha gordo e tem um espelho mentiroso em casa, fica todo feliz quando uma mulher bonita olha para ele. Depois de uma azaração fracassada, só então se dá conta: é o excesso de peso que chama a atenção das moças, que ainda preferem um tanquinho, mesmo que seja obtuso e a torneirinha não funcione direito.


Gordo parece que já nasce com a inscrição na testa: não pega ninguém. Mas Jeffinho garante: há controvérsias. Entretanto, uma conquista vitoriosa requer muita personalidade, por parte do Don Juan balofo, que não é bonito, nem tem roupas bacanas para disfarçar, já que a indústria não cria moda grande - produz sacos de vestir e, mesmo assim, de péssimo gosto.


Há que se ter, portanto, conversa interessante, inteligência, bom humor, alguma cultura geral - e pedir ajuda a Santo Antônio, para que a pretendida seja tolerante e ouça o coitado, ao menos um pouquinho. Normalmente, gordo não tem chance sequer de chegar perto, quanto mais abrir a boca. É uma luta! Mas, como dizem os jogadores de futebol, gordo é guerreiro!

 

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Para compensar tamanha desvantagem, Jeffinho recorre a alguns truques, como sair, preferencialmente, com amigo bonitão, de Brad Pitt em diante, que atrai a mulherada. Dá-lhe esperança, talvez sobre alguém, quem sabe.


Ledo engano. Nas baladas, entre as moças disponíveis há sempre as mais bonitas, as mais ou menos e as chamadas mocreias. Adivinhe com quem o gordo fica, no fim da noite? Isso caso ela não encontre melhor alternativa, uma vez que, havendo opção, até as mocreias desprezam os obesos.


Já as gordinhas estão fora de cogitação: gordo prefere as magrelas, especialmente as chamadas falsas magras. Dois gordos não dão certo. Primeiro porque todo gordo tem o pau embutido naquele bolo de banha que se forma sobre o pubis. Fica escondido de tal forma que é difícil assegurar sua existência, assim à primeira vista. Por outro lado, é mais fácil ganhar na Mega Sena do que acertar o caminho até o ponto G da criatura. Nem GPS ajuda!


Com as magras, o gordo se resolve melhor, caso elas sejam proativas. Mesmo assim, é necessário desenvolver técnicas especiais de alongamento e flexibilidade, para assegurar uma penetração satisfatória e o orgasmo pleno.

Jeffinho jura, sem cruzar os dedos: com a experiência, tornou-se um mestre nessa arte; criou posições tão criativas e variadas que o Kama Sutra mais parece uma revistinha ingênua e previsível.


Quem já experimentou não tem do que se queixar, afirma Jeffinho, ensaiando sua propaganda enganosa com aquela falsa modéstia de todo machão latino.


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Para enriquecer esta crônica - sobretudo no caso de o gordo superar todas as dificuldades e alcançar uma conquista - seguem trechos de um texto sobre gordo no motel, de autor desconhecido, que circula na internet. É mais uma colaboração dos leitores desta coluna:


"...Tudo em um motel parece que foi projetado minuciosamente para sacanear os obesos. Na grande maioria é preciso subir uma escadaria para chegar ao quarto. Isso não se faz. Ou o gordo trepa ou sobe escada. As duas coisas no mesmo dia são impraticáveis. O gordo chega tão esgotado no quarto que parece até que já deu duas no caminho.


... A parceira, então, propõe uma hidromassagem para relaxar. Já na banheira, o gordo percebe que nem a água quer ficar com ele. Metade cai fora. Dá um friozinho na barriga. Até porque parte da barriga, como um iceberg, fica pra fora da espuma.

Mas é na saída do banho que a situação fica ainda mais ridícula... Chega o fatídico momento de colocar o roupão. É triste. Com algum esforço, o cinto até fecha, mas o roupão não. Fica aquela fenda tipo Luma de Oliveira, que dá pra ver até o umbigo.


... Quando o gordo finalmente chega à cama, a situação é ainda pior. Para que tanto espelho? De todos os espelhos o mais cruel, sem dúvida, é o do teto. A vista é estarrecedora. Dá até para entender por que a maioria das mulheres transa com os olhos fechados".



 * Otto Freitas (otto.freitas@terra.com.br) é jornalista, formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atua na imprensa baiana há mais de 30 anos, em revistas, jornais e TV; comunicação corporativa e jornalismo digital.