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Encontro foi realizado na Senzala do Barro Preto, na sede do Ilê Ayê
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É numerosa a população negra no Sul do pais, mas completamente invisível pois, para o senso comum, estados como Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina são sinônimos de cultura branca e imigração européia. Esta foi a principal constatação extraída da mesa redonda que reuniu na noite da última sexta-feira, dia 30 de setembro, na Senzala do Barro Preto, no Curuzu, estudiosos dos três estados em questão para aprofundar aquele que será o tema do Ilê Aiyê no próximo Carnaval: Negros do Sul. Lá também tem.
- Pouca gente sabe, mas o Paraná é o estado mais negro da região Sul, com uma população afrodescente de cerca de três milhões de pessoas, o que corresponde a 27,4 por cento da população total do estado, contabilizou a socióloga Lena Garcia, doutora pela Unesp, uma das participantes da mesa redonda, que reuniu também as estudiosas em cultura negra Lucia Brito(RS) e Geruse Romão(SC).
As três convidadas traçaram um histórico da presença do negro nos seus estados, destacando que os primórdios se confundem com a própria escravatura. Ao contrário do que muitos pensam, e os livros de história escondem, como observou Lena Garcia, os negros marcaram expressivamente a cultura sulista, influenciando costumes e tradições e dando origem a diversas festas populares.
- Nós também temos afoxés e congados, lembrou Lucia Brito, que enfatizou em sua fala o grande sofrimento dos negros para serem reconhecidos e valorizados numa cultura branca dominante. Sem falar no trabalho humilhante que marcou a presença negra no período escravagista, quando o negro era levado ao Sul para trabalhar nas charquerias ( produção da carne de charque). Hoje, como ela lembrou, muito dessa história vem sendo recuperada, mas num contexto onde a discriminação social e racial ainda imperam e as políticas públicas são voltadas para o branco.
A história não é diferente no Paraná e Santa Catarina. A pesquisadora Geruse Romão, de Florianópolis, observou, por exemplo, que o contato do negro catarinense com elementos da sua cultura de origem é mínimo, quase inexiste, ao contrário da realidade de Salvador, onde o contato é facilitado pela conservação das tradições. Por isso mesmo, as três pesquisadoras se mostraram entusiasmadas com o tema do Ilê para o próximo carnaval: Vemos nesse tema uma maneira de os negros do Sul ganharem a visibilidade que merecem. Por isso mesmo, para nós, será um momento histórico, concluiu Lena Garcia.