Cultura

JEFFINHO PREOCUPADO COM IMPOSTO DA SAÚDE PARA GORDOS, POR OTTO FREITAS

VIDE
| 12/09/2011 às 09:00
VIDA DE GORDO: Daqui a pouco o governo vai criar um imposto só para os gordos.
Foto: DIV

Vários textos e sugestões têm chegado a esta coluna, com histórias e casos de preconceito e dificuldades enfrentadas pelos gordos, além de episódios engraçados envolvendo obesos e manifestações de solidariedade a Jeffinho, na sua luta contra a balança. O jornalista Paolo Marconi - um gordinho resolvido,  gourmet sem preconceito e chef de cozinha amador muito requisitado pelos amigos - indicou um texto de David Hume, filósofo, historiador e ensaísta escocês cujo tricentenário foi comemorado este ano.

Hume nasceu em Edimburgo, em 7 de maio de 1711. É considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria filosofia ocidental. Sua importância no desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável, mas somente no fim do século XX o caráter positivo e construtivo do seu projeto filosófico começou a  destacar.


Segundo a Folha de São Paulo, o filósofo chamava a atenção "nos salões parisienses não só pela
inteligência e humor, mas também pela obesidade". Na Carta à Sra. Dysart de Eccles, escrita em 19 de março de 1751, ele satiriza instituições públicas e discute o significado filosófico da barriga. "Ao corpo
atlético, símbolo da austeridade e vigor espartanos, Hume opõe a pança, símbolo do luxo e da falta de ardor cívico", diz o jornal.


A seguir, trechos destacados deste texto de David Hume, traduzido por Pedro Paulo Pimenta e publicado na Folha de São Paulo/Ilustríssima, em agosto (7/8/11):


"Meus cumprimentos ao procurador-geral. No momento, infelizmente, não tenho um cavalo à disposição para levar minha gorda carcaça a prestar minhas homenagens a Sua Obesidade Suprema...


Tenha a bondade de comunicar ao Procurador que li recentemente num autor antigo chamado Estrabão que, em algumas cidades da Gália, era estabelecido por lei um padrão fixo de corpulência, e que o Senado estipulava uma medida além da qual o proprietário de uma barriga que presumivelmente a
excedesse era obrigado a pagar ao erário multa proporcional à sua rotundidade.

Sua Excelência e eu passaríamos muito mal se uma lei como esta fosse aprovada pelo nosso Parlamento. Pois receio que já transgredimos o estatuto. Muito me admira, com efeito, que nenhuma harpia do Tesouro jamais tenha pensado nesse método de arrecadação".


"Como as pessoas magras são sempre as mais ativas, inquietas e ambiciosas, em toda parte elas governam o mundo e podem certamente oprimir seus antagonistas quando bem entenderem. Não permitam os céus que os partidos tory e whig sejam abolidos. Pois então a nação se dividiria em gordos e magros, e nossa facção estaria, receio, em situação deplorável".


"Além disso, quem há de saber se clérigos devotos não irão alegar que a Igreja corre perigo, se houver imposição de uma taxa sobre a gordura?".


"Não posso senão louvar a memória de Júlio César pela grande estima que mostrou aos gordos, e pela sua aversão aos magros. O mundo inteiro está de acordo que esse imperador foi o maior de todos os gênios que já existiram, e o maior juiz do gênero humano".]

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Ainda bem que "nenhuma harpia do Tesouro" nacional da atualidade teve essa idéia de cobrar imposto por peso. Senão, os gordos brasileiros - que representam parcela cada vez maior da população - carregariam sobre as costas já curvadas uma carga tributária ainda maior.


Mas não se deve festejar de véspera. Não será surpresa se, qualquer dia desses, for criado o imposto do gordo para substituir a CPMF, tributo que deixou um monte de gente cheia de saudade - gente que hoje se fingede morta, mas faz de tudo para ela voltar.


* Otto Freitas (
otto.freitas@terra.com.br) é jornalista, formado pela Faculdade
de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atua na imprensa baiana há
mais de 30 anos, em revistas, jornais e TV; comunicação corporativa e
jornalismo digital.