Um grande e colorido cortejo cênico reuniu centenas de pessoas que desfilaram pelas ruas do Pelourinho, na tarde de ontem, dia 19 de agosto, encerrando a Semana de Cultura Popular, que teve como tema "Riqueza e Diversidade" e que começou na segunda-feira (15), promovida pelo Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), através do Pelourinho Cultural. O cortejo saiu do Cruzeiro de São Francisco às 15h até a Praça das Artes, parando em alguns pontos do Centro Histórico.

Bonecões de Mamulengos, Grupo "Os Coroas", Grupo "Boi Bonito", de Abrantes, "Ciganas", a Escola de Dança da Fundação Cultural da Bahia - Funceb, entre outras manifestações de arte e cultura, transformaram o Pelourinho em um enorme caldeirão cultural. Quando as alas foram ocupando o Largo do Pelourinho, turistas e baianos tiveram a dimensão do tamanho do cortejo e dispararam seus flashes das máquinas fotográficas ou aparelhos celulares. "Isso aqui é cultura, é Pelourinho, é Brasil! Lindo demais!" exclamou a turista carioca, Bruna Oliveira. Após a pequena pausa, o cortejo seguiu para a Praça das Artes, onde ocorreram apresentações em um palco montado com toda a infraestrutura de som e iluminação. O primeiro grupo a se apresentar foi o "Zambiapunga", que mostrou o maracatu desenvolvido por jovens do colégio Renam Baleeiro, do bairro de Águas Claras, através do projeto "Corre Beco".

O momento mais emocionante do encerramento ocorreu quando senhoras do Grupo Eterna Juventude exibiram toda a vitalidade e alegria dançando acompanhadas da percussão da Banda Olodum Mirim. A mais animada era justamente a senhora mais experiente do grupo, que tem noventa anos e é deficiente visual, mas demonstrou uma alegria de viver contagiante, arrancando aplausos efusivos da plateia composta, em sua maioria, por jovens e adolescentes.

Após a apresentação, o idealizador do grupo e artista plástico, Joaquim Assis, conhecido como "Joca", passou uma mensagem de respeito aos idosos e às diferenças e explicou sobre o grupo. "Fundei o Eterna Juventude há 12 anos, com a proposta de usar a arte da reciclagem com senhoras idosas como instrumento de resgate da auto-estima, fortemente abalado pelo abandono familiar e da própria limitação física causado pelo avançar da idade. Cultura para elas é não perder a identidade e história que construíram. Hoje atendemos mais de 382 senhoras e isso é muito gratificante para mim", conclui.

Depois foi a vez da Escola de Dança da Funceb realizar apresentações com coreografias diversificadas como "Dora", "Embaixada Africana" e "Xaxado". A Banda Olodum Mirim também se apresentou com a presença de dançarinas da Escola Olodum. O Bumba-meu-boi ocupou o palco da Praça das Artes com o "Grupo Boi Bonito", apresentados pelos moradores da região de Abrantes.
 
"O grupo foi formado há seis anos e sempre nos apresentamos em eventos culturais" diz o coveiro Carlos Barbosa, responsável por representar o boi. Jonas da Conceição herdou o "Boi Bonito" dos seus avós e revitalizou o grupo. "Precisava resgatar a identidade dos meus avós, que foram repassados para meus pais mas que estava esquecido. Reuni alguns amigos em 1998 e recriei o "Boi Bonito" pois nossas raízes não podem ser abandonadas. Fiquei muito feliz em ser "descoberto" pelo Pelourinho essa Semana de Cultura Popular", conclui.

A coordenadora do Centro de Culturas Populares e Identitárias, Arany Santana, explicou como foi o desafio de tornar real a reunião de diversas manifestações culturais no Pelourinho. "Esse evento superou as nossas expectativas e foi uma grande ousadia da nossa parte, pois o CCPI acabou de nascer, já contando com muita colaboração e dedicação de todos os envolvidos. Me considero bastante satisfeita. Esse projeto foi direcionado para o público jovem (crianças e adolescentes) oriundos do Pelourinho e bairros próximos e de escolas municipais para dar uma dimensão de que cultura popular não se restringe somente a Salvador. É um projeto de educação além da sala de aula no sentido de formar cidadãos mais conhecedores das suas origens", definiu.