Cultura

VIDA DE GORDO TEM CADA DIETA MALUCA INACREDITÁVEL, POR OTTO FREITAS

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| 15/08/2011 às 09:00
Para diminuir o peso tem cada dieta maluca que é coisa do outro mundo
Foto: DIV
  Jeffinho acordou meio deprimido, com uma vontade danada de fazer nada - no máximo, se enfiar sob as cobertas para ver filmes antigos, entupindo-se de chocolate e pipoca. Para fugir da melancolia, resolveu participar de mais uma reunião da Associação dos Gordos Anônimos-AGA, aonde faz tempo que não vai. Falou muito sobre o que havia guardado na lembrança de quando ainda era alegre, jovem - e se imaginava eterno.


  Chegou aos vinte e poucos anos com sobrepeso instalado, fruto da ignorância, da desinformação e da arrogância típica da idade (achava que poderia emagrecer quando quisesse). Tinha uma vida desregrada, de muita comida e bebida, sexo e rock and roll (só não havia drogas porque Jeffinho sempre foi careta).


  Seus horários incomuns também contribuíam para esse desequilíbrio: trabalhava à noite sempre; durante o dia, às vezes. Virou aranha, que vive do que tece, e precisava defender o leite das crianças. Mas quando saia do emprego, já de madrugada, eventualmente esquecia o caminho de casa e se embrenhava por farras bravias - seu recorde é de 48 horas no ar.  


  Foi nesse tempo que Jeffinho se tornou um iniciado em medicações perigosas e dietas malucas; também jurou jamais se obrigar a praticar qualquer atividade física, tirando levantamento de copo e garfo. Desde então, passou a vida entre consultórios de endocrinologistas e nutricionistas, em busca de soluções milagrosas para ser emagrecido rapidamente e sem esforço.


  Não faltaram fórmulas mirabolantes. Os inibidores de apetite apresentavam-se em perigosas cápsulas contendo misturas explosivas de anfetaminas, tranquilizantes, diuréticos e laxantes.


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  Jeffinho fez sua estréia tomando Moderex, nome fantasia de um dos mais vendidos moderadores de apetite lançados pela indústria farmacêutica na época. Depois foi a um desses médicos que aparecem do nada, apresentam-se como salvadores da pátria e enchem o consultório de gordos abestalhados atraídos por uma enganosa propaganda boca-a-boca. Como nesse tempo ainda não existiam as tais farmácias de manipulação, o próprio doutor vendia potes de suas cápsulas misteriosas. Jeffinho quase fica doido. Sentia enjôos e fortes dores de cabeça. Não passou das primeiras doses, jogou tudo fora. 


   Teve também a endocrinologista e nutróloga natureba-chique, com estágios no Japão e nos Estados Unidos. Sabia ler a íris dos olhos e prescrevia fórmulas com substâncias cujos nomes escrevia em inglês e latim. Sempre recomendava certa farmácia de manipulação de sua confiança. Tempos depois, a dona da farmácia apareceu na TV denunciando que pagava fortunas de comissão a médicos parceiros.  


   Jeffinho não engordou, nem emagreceu. Largou tudo de novo, mas logo caiu em novas mãos aventureiras: uma endocrinologista-capitalista modernosa com fama de alquimista. Ela resolvia tudo na própria clínica - praticamente um complexo multifuncional instalado em bairro nobre da cidade. Só não vendia as fórmulas que receitava, mas havia até lojinha de pratos prontos, guloseimas, chás e afins.


  A alquimista jurava que só prescrevia fórmulas contendo substâncias naturais, mas enchia Jeffinho de sibutramina, bromazepan, fenproporex, triptofano, fluoxetina, piridoxina, propanolol e otras cositas mas. Atualmente, 55% de toda a sibutramina produzida no mundo são consumidos no Brasil, que só agora está decidindo sobre sua proibição, sob protesto dos médicos.


   Jeffinho emagreceu rápido, mesmo continuando sedentário e sem obedecer à dieta. Sentia desconforto, náuseas, tontura, mal estar, mas seguia adiante com o tratamento, até que parou de emagrecer. Não agüentava mais tomar a medicação e abandonou a barca furada. Engordou de novo, recuperando todos os quilos que tinha antes e ganhando os que jamais foram seus. Enfim, tornou-se mais obeso do que nunca.


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  Entre um doutor e outro, Jeffinho ia testando, por conta própria, as dietas que aprendia. Ficou um ano no Vigilantes do Peso. Fez dieta da lua e das sopas - a de salsão, também conhecido como aipo, e a de abóbora são torturantes, deixaram Jeffinho traumatizado para sempre.

  Ele chupou limão em jejum, ignorando sua úlcera: comeu pipoca sem sal e sem manteiga, mais sem graça do que pipoca de santo; tomou misturas inusitadas de sucos e chás que provocavam intermináveis caganeiras; fez restrição de carboidratos e tinha pesadelos se afogando em um balaio gigante cheio de pão francês quentinho da hora. Também experimentou a dieta das proteínas, sua preferida, porque podia se empanturrar de ovo frito boiando na manteiga, bacon, picanha e pernil de porco com a gordura pingando - seu colesterol foi parar lá no alto do elevador Lacerda.


   Jeffinho não fez a dieta da luz, em que só poderia beber água e se alimentar de luz. Também não seguiu o método francês ferme la bouche, de eficiência comprovada: fechar a boca, se mudar para a academia de ginástica e passar o resto da vida comendo folha. Mas isso requer alto grau de evolução espiritual e perseverança de peregrino no Caminho de Santiago. Feliz ou infelizmente, Jeffinho ainda não alcançou essa nível de transcendência.



* Otto Freitas é jornalista, formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atua na imprensa baiana há mais de 30 anos, trabalhando em jornais diários, TV, revista, e na área de comunicação empresarial e digital.  otto.freitas@terra.com.br