Cultura

SALVE O 2 DE JULHO, UMA HISTÓRIA AINDA A SER CONTADA, por TASSO FRANCO

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| 01/07/2011 às 10:01
Celebração pictória do 2 de Julho
Foto: REP
  A história da Independência da Bahia do jugo português, em 1823, ainda está para ser escrita sem o ufanismo exagerado da baianidade, observando a importância do movimento e colocando-o em seu devido espaço na História do país. Foi um fato relevante, constitui-se na data cívica mais importante do Estado, é comemorado com todo vigor que a data merece, mas algunas tintas e feitos ocorridos durante as lutas pela independência são supervalorizados e estão acima de sua real dimensão.

  Começa pelas heroinas descritas pela historiografia baiana, Joana Angélica e Maria Quitéria, a primeira morta num incidente casual após lutas pela conquista do Forte de São Pedro, anterior a independência, num fato isolado e cometido por soldados lusitanos embriagados que desciam rumo às roças do adjacente Campo da Pólvora e ao tentarem invadir o Convento da Lapa mataram a soror.

  Joana Angélica nunca esteve engajada nas lutas ou no movimento pela independência, mas, devido sua morte acabou sendo coroada como mártir, heroina.

  A outra personagem, Maria Quitéria, carece de estudos sobre seus feitos. É relevante sua participação em tropas do Exército Pacificador, sobretudo para uma mulher do século XIX, e aí talvez esteja o maior simbolismo de sua ousadia, mas isso não seria suficiente nem se conhece ações de heroismo à frente de campos de batalha.

  Até porque, a rigor, não tivemos campos de batalhas nas lutas pela Independência se comparados com a Independência dos EUA e a Batalha de Leningrado.

  Outro folclore singular descrito em penas da ficção literária baiana e que querem transformar em heroismo são as tais praianas de Itaparica, as quais teriam enfrentado soldados portugueses com folhas de cansanção. Ora, isso é uma brincadeira, uma piada, e que não se pode levar a sério.

  Na verdade, as lutas pela Independência da Bahia organizadas pelos homens proprietários das terras do Recôncavo, a elite rural da época que teve seus negócios prejudicados pela junta e depois ação autoritária do governador em armas da Bahia, Ignácio Madeira de Mello, foi um movimento que contou com forças nativistas e depois com apoio de Dom Pedro I e sua armada.

  Foi uma guerra de cerco a Madeira de Mello, o qual aos poucos ficou isolado na capital com sua Divisão Lusitana, sem mantimentos, sem alimentos, com as fontes vitais de suprimentos cortadas em Pirajá, Itapuã e Itaparica sem batalhas medianas, sem confrontos de maior grandeza e assim por diante.

  Tanto que, quando o Exército Pacificador, e os historiadores narram que "esfarrapado e faminto" entrou na capital baiana no 2 de Julho, a partir da Estrada das Boiadas (Liberdade) neste madrugada, Madeira de Mello colocou suas tropas e a elite dirigente em barcos e zarpou para Portugal.

  Foi perseguido pelas tropas do almirante e admiral Thomas Cochrane, a partir de Morro de São Paulo, este que nunca teve coragem de invadir Salvador pela Baía de Todos, à serviço de Dom Pedro I, sem nada acontecer.

  No 2 de Julho propriamente dito não houve um tiro sequer.

  O que se discute com alguma relevância, hoje, é se a Independência da Bahia foi importante para consolidar o Império de Dom Pedro I ou não.

  Ora, a Bahia já não era centro do poder desde 1763 quando a capital da Colônia foi transferida para o Rio. A Independência do Brasil deu-se sem participação baiana, no eixo dominante do poder (Rio/São Paulo/Minas), a 7 de setembro de 1822.

  Portanto, Bahia, Pará, Pernambuco, Maranhão (locais onde aconteceram outros movimentos) ficaram à reboque e foram, aos poucos sendo integrados.

  Madeira de Mello, por mais que quizesse, não teria forças para instaurar um enclave português duradouro na Bahia porque isso também não era desejo do pai de Dom Pedro I, o qual retornara a Portugal para manter o Reino Pourtuguês em pé.

  Então, vamos comemorar o 2 de Julho com toda emoção e respeito às tradições baianas dentro do nosso realismo histórico.