Cultura

O DRAMA DE JEFFINHO EM COLOCAR UM BALÃO INFOGÁSTRICO, POR OTTO FREITAS

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| 20/06/2011 às 09:03
Balão infogástrico é usado no tratamento de obsidade e contém alguns perigos
Foto: REP
 

Balão colorido nos céus de junho é lindo, mas ficou perigoso, no mundo moderno. Por isso, é proibido soltar balão, em qualquer tempo e principalmente agora, durante as festas juninas. Enquanto arrumava as malas para ir atrás de uma boa mesa típica e do verdadeiro forró pé-de-serra no interior, Jeffinho leu na imprensa (Veja, edição 2.219, de 1º/6/2011) que outro balão, o infogástrico, também pode ser um perigo.


O balão infogástrico foi desenvolvido por médicos alemães, na década de 1980, e vem sendo usado, desde os anos 1990, como alternativa para o tratamento da obesidade mórbida. É uma espécie de bola de soprar de silicone, que é inflada depois de introduzida no estômago, em procedimento semelhante ao exame conhecido como endoscopia digestiva. Dentro, leva azul de metileno dissolvido em soro fisiológico, mistura que funciona como alarme para o caso de o dispositivo se romper - o paciente começa a fazer xixi azul e o balão precisa ser retirado imediatamente.


Logo que a novidade apareceu na praça, Jeffinho procurou um especialista no assunto. Foi em busca de informação, para avaliar e decidir se adotaria ou não esse recurso para emagrecer (segundo os médicos, pode-se perder em torno de 15% do peso). Abandonou a idéia depois de conversar longamente com o médico. O tratamento era caro, o seguro saúde não cobria as despesas e o doutor não o convenceu sobre riscos e efeitos colaterais - principalmente, não explicou direito porque o balão tem que ser retirado após seis meses de uso e não se pode colocar outro.


Isso não deve ser coisa boa, matutou Jeffinho, com a pulga atrás da orelha. Como vale mais um gordo vivo do que um magro morto, bateu em retirada. Até porque, depois dos seis meses, o paciente tem que se virar para continuar emagrecendo, apoiado no tripé tradicional: atividade física, alimentação adequada e ajuda psícológica. Sem o balão, que ocupa espaço e engana o estômago ao provocar falsa sensação de saciedade, o apetite volta ao normal. Então, pensou Jeffinho na ocasião, prá quê balão? Deve-se fazer o que precisa ser feito e pronto, nada de enganação.


Foi o santo de Jeffinho que o ajudou na decisão, pois o caso é pior do que imaginava, conforme ficou sabendo ao ler a matéria da revista. O procedimento - que hoje é largamente divulgado e oferecido com pagamento facilitado em até 36 meses - provoca efeitos colaterais: "Na primeira semana de implantação", diz a Veja, "o organismo reage ao novo objeto por meio de dores abdominais fortes e vômitos constantes. Além de tomarem remédios contra cólica, 20% dos pacientes precisam ser internados para receber medicação intravenosa contra enjoos".


Inicialmente, o balão era utilizado por quem precisava perder peso antes de se submeter à cirurgia bariátrica ou qualquer outra. Depois, tornou-se um método de tratamento independente para quem quer emagrecer - e aí, como se sabe, o marketing dos bariátricos é poderoso e entra em campo, com todos os titulares.  


O fato é que, enquanto carrega o balão, o paciente perde peso, efetivamente - mas pode recuperar tudo se não prosseguir com a dieta, após sua retirada. Como diz um médico na mesma reportagem, "não há nada no mundo que substitua o efeito duradouro proporcionado pelas mudanças dos hábitos de vida".  


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Quando era menino-adolescente, Jeffinho não perdia uma trezena de Santo Antonio; preferia a reza cantada com suas melodias lindíssimas. Ele ainda guarda a lembrança do cheiro de incenso e do perfume das angélicas que enfeitavam o altar azul de papel crepom. Também não esquece a rizadaria da criançada, que não dava muita atenção ao santo - todo mundo ficava era de olho grande na mesa farta de bolos, doces e refrigerantes para a comilança das noites de Santo Antônio, especialmente no dia 13, o do santo.


Como esse peso todo, no São João Jeffinho já não pode mais pular fogueira e cair no forró até de manhã, como fazia antigamente. Dança um pouquinho, solta umas estrelinhas e chuvinhas com as crianças e, enquanto descansa, se distrai com a rica culinária da festa: não dispensa um licor de jeninpapo e um quentão feito com boa cachaça (pode ser com vinho também). Entre um gole e outro, amendoim e milho cozido com coco, de tira-gosto; para arrematar, bolos de milho e de aipim adoçam a vida.


Desse jeito, não tem balão infogástrico certo, evidentemente! Mas, como Jeffinho não é médico, quem guiser engolir o balão que engula. Ele prefere a beleza colorida dos balões de papel de seda se juntando às estrelas no céu iluminado, como acontecia nos tempos antigos. Além do mais, azul por azul, melhor é pegar carona na cauda do cometa, como diz Guilherme Arantes, passear pela Via Láctea e voltar prá casa - esse "nosso Lindo balão azul", tão maltratado e devastado pelo homem, com sua gula insaciável e destrutiva.



* Otto Freitas é jornalista, formado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Atua na imprensa baiana há mais de 30 anos, trabalhando em jornais diários, TV, revista, e na área de comunicação empresarial e digital.  otto.freitas@terra.com.br