Cultura

COM VOCÊS: O RELÓGIO DE SÃO PEDRO, A CARA DE SALVADOR, p TASSO FRANCO

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| 10/06/2011 às 10:28
Relógio de São Pedro visto de outro ângulo cercado de ambulantes por todos os lados
Foto: BJÁ
  A Praça Barão do Rio Branco [José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845/1912)] onde se situa o Relógio de São Pedro, em Salvador, homenagem da fase demolidora de J.J.Seabra (1912) quando rasgou a Avenida do Estado e derrubou a Igreja de São Pedro Velho e parte do prédio do Senado, entre outros, para ligar o centro à Barra com a nova Avenida Sete de Setembro, hoje, virou a feira popular do Lobito, em Luanda, Angola, onde tudo se compra e se vende, desde frutas, verduras, calcinhas, jóias, cuecas, jaca, DVDs piratas e assim por diante.
 
  E, mais: se quiser fazer as unhas em plena Sete, área do relógio, é aí mesmo com manicure à céu aberto. Tirar pressão, também. Consultar um oculista, ginecologista, urologista, cartomante, idem. Comer uma quiabada, vale. Fazer fotos 3x4 para documentos, amolar tesouras, alicate de unhas, pronto. É um dos maiores shoppings populares a céu aberto da cidade.


  É também conhecida como Praça do Relógio, Largo do Relógio, há uma confusão enorme porque a estátua do barão, borrada da cabeça aos pés com cocos de pombos, terra batida sem grama, mijo por toda parte e detritos outros, fica uma em frente a outra, mas, ocupadas essas áreas estão por vendedores ambulantes de tal ordem que, a luz de um curioso, não dá para enxergar o monumento de autoria do escultuor e desenhista Pasquale de Chirico e confecção do artesão Henri Le Paute, porque cercado de mercadores de caldo de cana e bugingangas. O relógio, há anos, deixou de ser referência no marcar as horas na cidade.


  Mas, pelo menos que se cuidasse desse local da cidade repleto de história, e também um ponto de referência um glamour para os carnavalescos dos anos 1960 e primórdios dos anos 1970, quando na Praça do Relógio se concentravam as mocinhas mais bonitas da cidade para verem a passagem dos trios elétricos iniciais, e nosotros apelidávamos aquelas donzelas, porque nessa época ainda existia isso na Cidade da Bahia, de "as meninas do relógio".


   E felizadro era aquele que conseguisse beijar, dar uma colada numa dessas meninas no Carnaval, que estava santificado, porque lá era o ponto da paquera, de tomar o telefone, de marcar o namoro para o decorrer do ano, e não essa beijança total e até promíscua que acontece, nos dias atuais, nas trilhas dos trios elétricos.


   A área também se tornou uma referência e ponto de encanadores, biscateiros desentupidores de pias e ralos. Mas, hoje, é um grande camelôdromo nas suas cercanias. Em frente, olhando-se para o prédio do IGHB (antigo Senado) vê-se a Rua Portão da Piedade, área mais dedicada à vendas de bolsas, sandálias, celulares, CDs, DVs (piratas) e onde se situam lojas de sapatos, a Leão de Ouro, Nunes, Diva, Dini, Mendes e resiste a Petronius Jr. É a área chic do Relógio, o glamour, que deságua na sede da OAB.


   Na outra transversal, saída para a boca de entrada da Estação da Lapa, está a rua Nova de São Bento, interligando-se a 11 de Junho, esta, sim, quase em frente ao monumento do Relógio, as duas se interligando onde se vende produtos de toda natureza, e há umas tendas especializadas em folhas, descarregos, exus diversos, pembas, velas, ferros e tudo mais para amores e desamores, bozós e crenças.

  Há, nesse trecho, muitas lojas, restaurantes coma a quilo e outros atrativos. Até dois motéis para aquele pisco rápido custando apenas R$20,00 a estadia momentânea.


   Na outra ponta, paralela ao Portão da Piedade está a rua 21 de Abril, esta também desaguando em povo nas proximidades de entrada da Estação da Lapa, um formigueiro humano, artéria que concentra, mais próximo do relógio vendas de lanches, sucos, sumos, pastéis e guloseimas; e mais adiante, vendas de frutas e verduras, um feirão à céu aberto, higiene limitada, mas, onde o povo compra pinha, melancia, acerola, agora, na época junina, amendoim cru e cozido, laranja, licores e milho verde.
  

   E, nesses espaços se misturam batedores de carteira, taxistas, baianas do acarajé, mendigos, policiais de um posto da PM, mercadores, prestadores de serviços, meninas que entregam panfletos, o povo que vem do interior para servir-se num posto do INSS, e gente que vai e vem para os escritórios do Ed Politécnica e para o comércio formal da Sete.


   Você quer conhecer uma parte da Bahia interessante, que tem a cara do povo de Salvador, o espaço é esse aí. Por pouco não vou a Ótica Gomes, onde segundo a moça que me abordou no Relógio, na compra de um óculos completo ainda levava um óculos esporte de graça. E perguntei: - E faço o que com o meu que está em mi cara. - Esse o senhor joga fora que tá velho.

  E, com essa foi comer num restaurante popular da Rua da Forca.