"Bob Marley, que hoje completa 30 anos de morte, estaria triste se visse salvador, a cidade mais negra fora da África, dando tão pouca atenção ao reggae. A Praça do Reggae hoje está pior do que na época do chicote do "carlismo". A única forma de o Estado entrar lá é com a polícia e os programas sensacionalistas de televisão. O governo tem bons projetos, mas está deixando a desejar na Praça do Reggae, que não é minha, nem de ninguém; É do povo negro desta cidade". O desabafo de Albino Apolinário, presidente da União dos Blocos de Reggae (Unireggae), resumiu o pensamento dos amantes do movimento que marcaram presença na sessão especial do Dia Municipal do Reggae, realizada na noite desta quarta-feira (11), no plenário da Câmara de Salvador.
A Casa Legislativa foi colorida de vermelho, amarelo e verde e recheada de afirmações das raízes africanas do povo negro de Salvador, durante o evento que reuniu importantes representações. Políticas públicas para incentivar a cultura na Bahia foram discutidas. O secretário Estadual de Cultura, Albino Rubim, destacou a importância do movimento para a tradição baiana.
"Temos vários centros culturais, alguns na capital e outros no interior. Dinamizar os centros de cultura e fazer com que as apresentações de grupos de reggae se estendam para estes locais são objetivos nossos. O Carnaval do Pelourinho pode ser o circuito da diversidade. Uma praça do Centro Histórico, por exemplo, pode ser destinada especificamente para o reggae", declarou Rubim.
Autora da iniciativa da sessão solene, a vereadora Marta Rodrigues (PT), acredita que os pensamentos difundidos pelo ritmo musical incomodam quem não está interessado numa verdadeira transformação social. "O ritmo do reggae é marcado por introduzir ideais de transformação social, cultural e liberdade. Por que o reggae incomoda? Porque busca uma mudança e denuncia o racismo. Os governos passam, mas a comunidade rastafári vai continuar a ecoar a sua filosofia", afirma.
A falta de espaço para o reggae na TV e nas rádios foi questionada pelo subsecretário Municipal da Reparação, Edmilson Sales. Para ele, "se esse espaço for aberto e as pessoas conseguirem interpretar a mensagem que o reggae passa, com certeza, haverá uma rebelião nesta terra que impulsionará mudanças sociais".
Produtor e músico de reggae, Nilson Nascimento, também criticou os gestores públicos por não incentivar devidamente o movimento. Ele teve que sair de Salvador para viver de reggae. "É a única coisa que eu sei fazer na vida. Por que não conseguimos viver de reggae na cidade mais negra fora da África?", perguntou.
A solenidade foi embalada por apresentações musicais. Bob Marley, como não poderia ser diferente, foi o mais lembrado e deu o tom para os artistas Jô Calado, Millian Gordilho, Marinez e Kamaphew Tawa cantarem o ritmo da transformação social e liberdade no plenário que leva o nome de Cosme de Farias, político reconhecido pela defesa às liberdades democráticas.