- Meu nome é Jefferson, mas todo mundo me chama de Jeffinho. Eu sou gordo.
Todos os presentes, também obesos, respondem em coro:
-Olá, Jeffinho, seja benvindo!
Está aberta mais uma reunião da Associação dos Gordos Anônimos - embora seja difícil imaginar como um gordo pode ficar anônimo. Mas, enfim, quando se trata de gordo tudo é possível.
Jeffinho atingiu os limites perigosos da obesidade mórbida e precisa de ajuda - venha de onde vier, até de centro espírita. Ele começa a contar sua longa história, desde o tempo da infância e adolescência, quando ainda era magro. Relata seu calvário, na maior parte da vida, entre tentativas e desistências em dietas mal sucedidas, enquanto a balança avança mais veloz do que os dias.
Passou um cheiro de comida, Jeffinho engorda logo três quilos. Ele é vítima da combinação desastrosa e fatal entre herança genética, sedentarismo radical e falta de educação alimentar. Sem contar que se tornou tiete do mitológico Dionísio, o Baco, deus grego do vinho, dos excessos e dos prazeres da boemia, mulheres incluidas.
Enfim, o cara é um exagerado - mas não queria ser gordo, é claro. Com o tempo, no entanto, foi ficando assim.
Além de lutar contra a balança, Jeffinho precisa enfrentar o preconceito do mundo que só valoriza os vencedores e trata o obeso com desprezo, motivo de piada, como se fosse um glutão preguiçoso, passivo, com todas as culpas e sem força de vontade.
Mas, afinal, o que se pode esperar de uma sociedade que ignora os velhos e os portadores de deficiência física, é intolerante e violenta com as minorias.
É como se todo mundo gritasse: "Perdeu, entrega tudo!". Jeffinho nunca se entregou.
Brasileiro como Ronaldão, que nunca desiste, e devoto de Santo Expedito, o protetor das causas difíceis, quase impossíveis, Jeffinho vai à luta, a cada dia sua agonia.
Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, como na música. Mas sempre seguindo em frente (de carro, que ele não aguenta andar!), superando obstáculos e cascas de banana - e, sobretudo, sem perder o bom humor e as chanches de rir primeiro de si mesmo, como fazem as pessoas inteligentes. Afinal, quem ri primeiro ri melhor.