Cultura

VIDA DE GORDO É SALTAR UMA CASCA DE BANANA TODO DIA, POR OTTO FREITAS

Otto Freitas é jornalista
| 09/05/2011 às 08:28
O gordo sofre preconceitos e tem que saltar uma casca de banana a cada dia
Foto: DIV
   São cinco mulheres e três homens, sentados  em circulo. A palavra é franqueada aos novatos, para que se apresentem.


  - Meu nome é  Jefferson, mas todo mundo me chama de Jeffinho. Eu sou gordo.

Todos os presentes, também obesos, respondem em coro:


  -Olá, Jeffinho, seja benvindo!


   Está aberta mais uma reunião da Associação dos Gordos Anônimos  - embora seja difícil imaginar como um gordo pode ficar anônimo. Mas, enfim, quando se trata de gordo tudo é possível.  


  Jeffinho atingiu os limites perigosos da obesidade mórbida e precisa de ajuda - venha de onde vier, até de centro espírita. Ele começa a contar sua longa história, desde o tempo da infância e adolescência, quando ainda era magro. Relata seu calvário, na maior parte da vida, entre tentativas e desistências em dietas mal sucedidas, enquanto  a balança avança mais veloz do que os dias.


  Passou um cheiro de comida, Jeffinho engorda logo três quilos. Ele é vítima da combinação desastrosa e fatal entre herança genética, sedentarismo radical e falta de educação alimentar. Sem contar que se tornou tiete do mitológico Dionísio, o Baco, deus grego do vinho, dos excessos e dos prazeres da boemia, mulheres incluidas.

  Enfim, o cara é um exagerado - mas não queria ser gordo, é claro. Com o tempo, no entanto, foi ficando assim.


  Além de lutar contra a balança, Jeffinho precisa enfrentar o preconceito do mundo que só valoriza os vencedores e trata o obeso com desprezo, motivo de piada, como se fosse um glutão preguiçoso, passivo, com todas as culpas e sem força de vontade.
 
   Mas, afinal, o que se pode esperar de uma sociedade que ignora os velhos e os portadores de deficiência física, é intolerante e violenta com as minorias.  


   É como se todo mundo gritasse: "Perdeu, entrega tudo!". Jeffinho nunca se entregou.
   Brasileiro como Ronaldão, que nunca desiste, e devoto de Santo Expedito, o protetor das causas difíceis, quase impossíveis, Jeffinho vai à luta, a cada dia sua agonia.


   Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, como na música. Mas sempre seguindo em frente (de carro, que ele não aguenta andar!), superando obstáculos e cascas de banana - e, sobretudo, sem perder o bom humor e as chanches de rir primeiro de si mesmo, como fazem as pessoas inteligentes. Afinal, quem ri primeiro ri melhor.   




* Otto Freitas é jornalista e estreia a partir de hoje no BJÁ falando da vida dos gordos, com humor e picardia ele que conhece bem do assunto otto.freitas@terra.com.br