Cultura

FALTA RESPEITO À HERÓIS DA REVOLUÇÃO DOS ALFAIATES, POR TASSO FRANCO

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| 06/05/2011 às 16:28
Praça da Piedade: Obra de Carybé vira quaradouro e abrigo de sombreiros de camelôs
Foto: BJÁ
  A Praça da Piedade, uma das mais importantes de Salvador do ponto de vista histórico e das relações com a comunidade, sobretudo porque é o ponto de encontro dos aposentados, está um lixo só. Uma vergonha para um sítio tão relevante, com tanta história, abandonado à própria sorte com mendigos, lixo, coco, mijo, ocupação de bancos por desocupados, camelôs, vendedores de toda ordem, numa situação que dá pena.

  Literalmente, a praça fede. E nesse lixo todo, nessa situação indescritível de abandono, um sacrilégio à memória dos 4 heróis da Revolução dos Alfaiates, João de Deus do Nascimento, mestre alfaiate; Manoel Faustino dos Santos Lira, aprendiz de alfaiata; Luis Gonzaga das Virgens, soldado; e Lucas Dantas do Amorim Torres, soldado; executados à forca em 12 de agosto de 1779, e que tinham bustos colocados na praça com letreiros identificadores e um pouco da história.

  Ainda restam dois dos bustos colocados em 1998, quando a praça foi reformada e ganhou um gradil com obra de arte do artista Carybé, a última que fez na cidade da Bahia em vida, antes de morrer, agora sem identificações, e dois outros pedestais quebrados e sem os bustos. O gradil de Carybé, que é uma obra de arte valiosa, virou quarador de roupas e haste para propagandas, local de colocar também sombreiros, arames e outos badulaques.

  Serve também de encosto para leito de pessoas que dormem na praça, abandonados à própria sorte, ou vendedores ambulantes e suas familias.

  O diretor presidente do Olodum. João Jorge, está tão indignado coma a falta de respeito aos heróis da revolução baiana que vai encampar um movimento no sentido de recuperar a praça e dar dignidiade a essas figuras históricas. "É demais, uma situação injuriosa", atesta.

  A praça da Piedade foi a primeira a surgir extra-muros da fortaleza de Salvador, na linha Sul, acima do São Bento, que também tem um largo igualmente abandonado, sujo e maltrapilho, e marcou época nas fases da colônia e do império a partir da instalação do Convento dos Capuchinhos Franciscanos Menores ponto de referência às preces na expansão da cidade que crescia em direção à Barra, sua mancha original com a Vila Velha do Pereira, época da instalação da Capitania Hereditária da Bahia, em 1534.

  Além disso, a Praça já funcionou como centro do Poder na Bahia até que a Casa do Poder Legislativo, onde hoje se situa o Instituto Geográfico e Histórico foi dividida ao meio para dar passagem a Avenida Sete em direção à Mercês e ao Campo Grande.

   A Piedade abrigou centenas de movimentos paredistas, movimentos estudantis, os poetas da Praça, o Movimento de Ocupação dos Poetas e Poetisas (MOCPOP), foi centro de batalha nas lutas pela Independência da Bahia, em 1821, portanto, tem um cabedal eorme de história e não pode ficar numa situação degradante desta natureza, porque é uma agressão à memória da cidade.

   Ao lado do Gabinete Português de Leitura estão abrigados nos bancos de mármore da praça dezenas de mendigos, desocupados, drogados, numa situação de degradação lastimável. No lado da Igreja de São Pedro a ocupação é feita por vendedores de coco, vendedores de caldo de cana, ambulantes que comercializam óculos e relógios, tudo isso afastando as pessoas do local, as famílias, os aposentados.

   A grama da praça está carcomida, a fonte lumimosa não funciona, a fiação da rede elétrica de algumas áreas está exposta e representa perigo, placas de mármore foram arrancadas, todas as placas de bronze dos heróis da Revolução dos Alfaiates forem furtadas, nunca ví nada igual em desordem.

   Se a praça da Piedade está fazendo vergonha aos baianos, um turista, então, nem é bom passar por lá.