Cultura

TERREIRO DE JESUS É PURA HISTÓRIA NA CIDADE DO SALVADOR,p TASSO FRANCO

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| 28/04/2011 às 16:20
Igreja de São Domingos, pouco conhecida, escritório de Cosme de Farias
Foto: BJÁ

  (Crônica dedicada a João Jorge do Olodum)
  
  O Terreiro de Jesus é a terceira praça mais antiga da cidade do Salvador. Sua história está intrisecamente vinculada à fundação da fortaleza e nasceu na segunda quadra do século XVI, graças a ação dos jesuitas, a poderosa Companhia de Jesus de Ignácio de Loyola, que já ocupava a área Norte e se viu espremida com a porta que guarnecia o local, intra-muros, forçando o então governador Mem de Sá, terceiro após o pioneiro Tomé de Souza, a permitir que os padrecos e seus seguidores ocupassem o platô do atual terreiro e daí expandissem à cidade rumo ao calvário, hoje, Santo Antonio Além do Carmo.


  São os jesuitas, portanto, que iniciam a construção do atual centro histórico do Pelourinho, no traçado que se inicou no Terreiro ocupado pela nova catedral, posteriormente, no século XVII e XVIII, as igrejas de São Domingos, São Pedro dos Clérigos a extensão que vai dar no cruzeiro e tempo a São Francisco de Assis, patriarca desta Ordem, e as ruas trasnsversais e longitudinais do traçado, a Gregório de Mattos, Laranjeiras e outras.


  E o que há de mais destacado no Terreiro de Jesus, desde que a Sé Primacial foi derrubada pelas "picaretas do progresso" nos anos 1930, dando surgimento ao IPHAN, é a Catedral Basília de Salvador, um dos mais imponentes tempos religiosos católicos da cidade, construida para ser o oratório do Colégio Jesuitas, erguida fora dos muros da cidade, local onde o padre Antonio Vieira (1608/1697) pregou alguns dos seus sermões e donde, sentando na sacristia, presenciou a invasão holandesa à Bahia, em 1625.


  O Terreiro de Jesus é, portanto, pura história da cidade do Salvador. Nenhum outro sitio tem, seguramente, mais fatos históricos ligados à cidade do que o Terreiro. É só lembrar que, ao lado da catedral está o prédio onde funcionou a primeira escola médica do país, criada por Dom João VI, em sua passagem pela Bahia em direção ao Rio de Janeiro, sede do novo Império Português, a partir de 1808.


  Foi por esse espaço que as tropas brasis entraram na cidade após a fuga de Madeira de Melo, na época da independência da Bahia, em 1822, e rezaram um "Te Deum" na capela jesuítica. E, em tempos recentes da ditadura militar, era no Terreiro que se concentravam os protestos contra os governadores e comandos militares de plantão no estado. Chegaram a mudar a data do "Te Deum" para que esses confrontos não ocorressem com mais valia.


   Estão sepultados na Catedral da Sé os cardeais primazes do Brasil, por tradição da igreja, o último deles, dom Lucas Moreira Neves, o qual faleceu em Roma e teve corpo trasladado para a Bahia mesmo que sua terra natal, São João Del Rey, quisesse que lá fosse sepultado. Na Ordem Franciscana, há um museu e relicários da época colonial. A azulejaria é riquíssima em história e Portugal se valeu de afrescos de sua arte paisagística para reconstruir a cidade de Lisboa, destruida parcialmente, pelo terremoto do século XVIII.


   O Terreiro de Jesus, hoje, no entanto, parece um espectro "hameletiano". As igrejas ficam fechadas e os sinos não dobram na hora do ângelus. Diz-se que os guardiães dos tempos temem furtos de imagens e, salvo em dias de missa ou grupos guiados não de pode entrar sequer na catefral.

   A praça serve para rodas de capoeira, comércio de berimbaus e outras peças de souvenir da Bahia, baianas de acarajés e trançadeiras de cabelos rastafaria. Deveria ser mais cuidada, um brinco. Mas, não é.

   O Poder Público só lhe dar um banho de loja quando uma autoridades importante do mundo por lá aparece, como aconteceu com Condolezza Ricce, hoje, uma senhora desconhecida. Se visse ao centro histórico como cidadã normal, como prometera, poderia tomar um choppe na Cantaina da Lua que ninguém a importunaria.

   A Cantina da Lua foi nosso pouso do gerreiro durante anos na décadas de 70/80, em farras, almoço, tertúlias, namoros. Ainda hoje freqüento o espaço e vou ao bar do cravinho tomar um aparetivo. Clarindo Silva ainda é o guardião do Terreiro e dá seu plantão diário na Cantina, da manhã à noite.

   Leal engraxate já foi o dono literal desse espaço, mas seguiu para o andar dos céus. E Bonfim, o genial pintor que traçava sua arte nos batentes de lioz da catedral também já se foi. Uma hora dessas vamos nosotros. Daí essas linhas sobre o Terreiro para quem quiser conhecer um pouco da história de Salvador.