Cultura

SEM RUMO! QUAL O RUMO DA MÚSICA BAIANA ATUAL?, Por CÉSAR RASEC

vide
| 25/04/2011 às 14:00
O pagode de "O Troco" é um exemplo da nova embalagem da música popular baiana
Foto: Ipiaú on-line
    Ao ouvir algumas estações de rádio FM de Salvador e acompanhando de perto a cena musical que acontece na periferia da cidade e nas festas embaladas por cervejas e capetas, por muita zoeira, por pegação acelerada, por muvuca e menos por música, pergunto, sem juízo de valor, qual o rumo da música baiana?


   Em busca de resposta, fui ligando os fatos, visualizando o que está acontecendo na cena baiana a partir de sua capital.


   Para começo de conversa, aponto um fato concreto, abrindo o leque de possibilidades. Os grandes artistas consagrados da música baiana, sejam vivos ou mortos, ficaram de fora da cena radiofônica. O que toca hoje na rádio é o que é pago e muito bem pago.


   Paralelamente, a indústria do disco entrou em colapso com a pirataria. O disco físico (LP e CD) passou a ser sinal (MP3) e este sinal gratuito está na internet, basta saber encontrar.


    As músicas passaram a ser feitas para alimentar as festas populares, notadamente o Carnaval e o São João. As festas fechadas e as micaretas passaram a replicar este tipo de música festiva, fechando um ciclo vicioso bancado por empresários do entretenimento.


   O sucesso radiofônico gerado pelo jabaculê trincou o mercado da música baiana, segmentando-o mais e mais. Tensões foram acirradas entre o rock, a Axé Music, o samba, o pagode, o reggae, o forró e o arrocha, só para citar alguns gêneros.


   No turbilhão de acontecimentos, o sucesso passou a ser fruto da engrenagem da produção, deixando a música à margem de tudo.


  Com o povo domando pelas músicas pagas para tocar nas rádios, ficou fácil produzir "sucessos", ou seja, gerar obras mercadológicas que evaporam como bolhas de sabão em todos os verões.


  O resultado está visível.


  De um lado o rock permanece no subterrâneo da cena.


   A Axé Music realimenta-se por conta do Carnaval e festas fechadas.


  O pagode pega carona no Carnaval e na ascensão econômica de produtores, que investem pesado em grupos surgidos da noite para o dia. São centenas de bandas que raramente trazem novidade e enchem as prateleiras dos gostos.


   A turma do reggae perdeu espaço por insistir no reggae de protesto. O protesto sem eco passou a ser música para poucos.


   A turma do arrocha, por sua vez, investiu nos piratas, considerados os maiores divulgadores dos "sucessos bolhas de sabão". Deu certo. Estão aí reinventando o bolero no teclado.


   Nos meses de maio e junho, a turma do forró de plástico abocanha uma fatia do mercado e o gênero ganha sobrevida para o ano seguinte. O forró é o São João.

Com a engrenagem azeitada e montada na força da grana, a música baiana perdeu a sua essência.


   Assim, a Bahia musical deixou de ser referência do Brasil.


   O rumo, então, é a permanência do que está estabelecido.


  Música como antigamente só para os verdadeiros artistas, cada vez mais raro.