Cultura

A HISTÓRIA DO GAÚCHO QUE USOU PROPAGANDA PARA CRESCER, P MARCO GAVAZZA

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| 13/04/2011 às 09:02
Qualquer semelhança com a churrascaria "Arrendo" é mera coincidência
Foto: DIV

Vou repassar a história para vocês pelo mesmo preço que paguei e dando-a como verdadeira, pois assim me foi garantido por quem contou para mim; uma pessoa em que sempre tive a máxima confiança.


Pois bem.  Conta-se que lá pelos anos 60 ou 70 do século passado,  num ponto qualquer do trecho de estrada que liga as localidades de Aiquara e Itagí, no centro-sul da Bahia, havia uma bomba de gasolina -não um posto de serviços como conhecemos hoje- pertencente a um gaúcho que lá também morava, numa casa bem atrás da tal bomba. O movimento não era lá essas coisas,  a freqüência de carros não era tão intensa, mas a bomba garantia a sobrevivência do gaúcho e sua família: a mulher e dois filhos.


Vivia assim sua vidinha sem maiores pretensões o tal gaúcho cujo nome não foi dito por quem me contou a historia ou eu mesmo já não lembro mais. Lá no meio da estrada, a mulher cuidando da família e de umas galinhas, os filhos indo pra escola e brincando no quintal. O gaúcho mantinha de uma horta no fundo da casa e estava sempre de prontidão para atender qualquer carro que precisasse abastecer em sua bomba de gasolina.  Assim se passavam os dias.


Como bom gaúcho que era e para quebrar a monotonia,  aos sábados ele fazia questão de armar sua churrasqueira, preparar um autêntico churrasco à gaúcha e receber os vizinhos que vinham de longe para degustar carnes, lingüiças e bistecas de sabor incomparável. Cada um trazia uma bebida e o sábado só terminava quando o domingo já vinha chegando.


Certo dia um dos freqüentadores do churrasco semanal, incontido diante da maciez e do ponto certo de uma costela, disse ao gaúcho: "Rapaz, este churrasco está uma coisa de louco. Você devia era ganhar dinheiro com isso. Fazer churrasco pra vender, aqui mesmo."  O gaúcho ficou feliz por mais um elogio entre os tantos que recebia,  mas o complemento do elogio ficou em sua cabeça. Fazer churrasco para vender. Quem sabe não era uma boa idéia? Assim podia aumentar a renda familiar e viver mais folgado um pouco. Talvez até juntar dinheiro para uma viagem até Porto Alegre, cidade que sua mulher nem conhecia.  O sábado passou e a idéia ficou martelando em sua mente semana a dentro.


Pensou, pensou, conversou com a mulher e os filhos e todos acharam a idéia boa. O gaúcho partiu então para a execução. Construiu ao lado da casa uma grande churrasqueira com tijolos que tinham sobrado na construção da varanda, conseguiu comprar umas mesas e cadeiras quase de graça na mão de um fazendeiro dali perto e que estavam guardadas num depósito desde que a família tinha ido morar  em Ilhéus e ainda arranjou mais um dinheirinho pra comprar -fiado- em Aiquara, os pratos e talheres.  Com tudo que precisava já providenciado, o gaúcho estava pronto para começar o novo empreendimento. Pediu aos amigos para espalhar que agora na bomba de gasolina tinha uma churrascaria e ele mesmo informava a todos os motoristas que paravam para abastecer que se fazia ali um churrasco de qualidade.


Mas como o movimento de carros era pequeno e os amigos raramente lembravam de passar a informação adiante, o movimento na churrascaria era uma tristeza. Uma ou outra pessoa aparecia de vez em quando, geralmente por conta de uma fome incontrolável e raros motoristas decidiam interromper a viagem para uma refeição ali no meio do nada.


Pior: os freqüentadores do churrasco aos sábados desapareceram, pois já não sabiam se deviam pagar pelo que comiam ou não.


Em pouco tempo depois de montada a churrascaria, o gaúcho era a própria imagem da melancolia. Não tanto por causa do dinheiro, afinal nem havia gastado muito, mas principalmente pela expectativa, pelo sonho que parecia jamais se concretizar.


Um churrasco um dia, outro não sei quantos dias depois e o gaúcho chegou à conclusão que melhor seria acabar com aquela brincadeira.  Não valia a pena, a decepção era diária, deixa a vida continuar como era antes.  Resolveu então tentar arranjar alguém interessado em alugar a churrascaria, pois como ele havia aprendido com seu velho pai, não se deve vender nada que se constrói com esforço e honestidade. Alugar era a melhor solução.


Tempo depois, numa ida até Itagí onde tinha umas coisas para resolver no banco, o gaúcho passou em frente a um ateliê de pinturas, onde a placa pendurada na porta informava, entre outras coisas, que ali se faziam faixas.  Aí o gaúcho finalmente concretizou sua decisão e mandou fazer uma faixa anunciando o negócio.  No mesmo dia a faixa estava pronta e o gaúcho de volta a sua casa, agora confiante de que tudo iría se resolver. No dia seguinte, logo cedo, espetou uma estaca alta de cada lado da bomba de gasolina e esticou lá no alto a faixa. Mas como o gaúcho não se preocupara muito com a linguagem usual do interior da Bahia, não usou o verbo "alugar" para anunciar o negócio. Usou o verbo "arrendar", comum na no sul. E assim, lá bem alto,  sobre a bomba de gasolina, a vistosa faixa com letras vermelhas e sombra amarela anunciava: Arrendo Churrascaria.


Foi o suficiente. Na mesma manhã, perto da hora do almoço,  começaram a parar os primeiros carros. Alguns abasteciam e desciam para comer o churrasco, outros nem olhavam para a bomba de gasolina e seguiam direto para as mesas, atraídos pelo cheiro maravilhoso que se espalhou por toda a área.


Em pouco tempo todo mundo na região conhecia, recomendava e freqüentava a Arrendo Churrascaria.  "Vamos comer um churrasco na Arrendo?" tornou-se um convite freqüente.


A história, segundo quem me contou, continuou com o sucesso absoluto da "Arrendo Churrascaria", seguido mais tarde pela aposentadoria do gaúcho que passou o comando do negócio para os filhos. Estes construíram novas instalações,  aumentaram o número de mesas,  diversificaram o cardápio e finalmente trocaram o nome do estabelecimento que passou a se chamar Rincão Gaúcho e existe -ainda segundo quem me contou- até hoje.  Um dia destes vou fazer o trecho Aiquara-Itagí pra conferir.


Mas o certo é que, verdadeira ou não, a historinha mostra a diferença que a propaganda pode fazer para o sucesso de um empreendimento. Uma simples placa na fachada de uma loja, pode definir se ela irá se destacar entre as concorrentes ou nem ser vista.


Não sei se o gaúcho e a Arrendo Churrascaria existiram mesmo ou se foi tudo um devaneio de quem me contou essa história, mas não tenho nenhuma dúvida de que para qualquer negócio dar certo, a propaganda tem que existir. Mesmo que seja uma faixa pendurada na porta.