Cultura

SALVADOR TEM VERGONHA DE SER CHAMADA DE VILA DO CARAMURU E VILA VELHA

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| 28/03/2011 às 09:50
Planta original da Cidade do Salvador. comentário de Tasso Franco sobre sua fundação
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Salvador completa nesta terça-feira, 29, 462 anos de existência. É uma data simbólica oficializada pelo Congresso de História da Bahia, 1949, por influência de Frederico Edelweiss, durante encontro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Claro que, em 29 de março de 1549, não havia cidade alguma.


Os historiadores optaram pela data da chegada da esquadra de Tomé de Souza à Baía de Todos os Santos e estabeleceu-se este marco.


Ignoraram, por completo, o povoamento que Diogo Álvares, o Caramuru, estabeleceu no altiplano do hoje bairro da Graça, inclusive com a instalação de uma capela original na Barra (onde se situa o sitio da família Clemente Mariani), isso a partir de 1509/1510; e também a colonização oficial a partir de 1534 com a Capitania Hereditária de Francisco Pereira Coutinho, 1534, onde este camarada fundou a Vila Velha ou Vila Velha do Pereira, no atual Porto da Barra.


Pernambuco e Olinda optaram pela data da Capitania Hereditária sendo, portanto, em comemorações oficiais mais velhas que Salvador. 


Tomé de Souza, de fato, só desembarcou em terras brasis dia 1º de abril protegido por uma formação suíça de lanceiros em linha de "picas", temendo ser alvejado por alguma flecha tupinambá. Nada aconteceu. Claro, Tomé era um militar. E, como tal, rezava por normas de caserna e obedecia a códigos de conduta.


Recentemente, o secretário da SSP/BA, Maurício Barbosa, e o comandante da PM, coronel Nilton Marcarenhas foram ao bairro do Calabar em nome de instalar uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), tal como Tomé, se protegeram com militares armados e colocados em pontos estratégicos e em seus redores. Nada. Nenhuma "flecha perdida" do Alto das Pombas os atingiram.


Aqui já teve um secretário de segurança, general Edson Sá, governo Paulo Souto (2003/2006) que mudava de roteiros toda vez que ia a sede da SSP. Nunca seguia pelo mesmo caminho. Se fosse a Alagoinhas, seguia pela BA-090  via Catu e voltava via Passé e BR-324. Justifica-se, pois, a precaução de Tomé.


Então, o dito Tomé, primeiro governador Geral do Brasil, cargo correspondente a presidente da República, nos dias andantes, só colocou suas tropas em movimento para que o mestre-de-obras Luis Dias iniciasse a construção do núcleo central da fortaleza-cidade, em 1º de maio, quando então começou a ser erguida Salvador.


Em enquete neste Bahia Já perguntamos quem teria colocado o nome de Salvador na capital baiana e dos 99 leitores que responderam a pergunta, 61.62% disseram que foi Tomé de Souza; 15% Gonçalo Coelho; 11% Luis Dias; 8% Dom João III; e 4% Garcia D'Ávila. Erraram, pois.


Não há registro oficial (fonte primária) de quem teria colocado o nome de Salvador. Ao que tudo indica, já no Regimento de Almeirin, que é considerada a "Constituição Prévia do Brasil", o rei Dom João III determinou a construção da cidade fortaleza em nome do Senhor, isso em 1548. E, sendo Dom João III católico fervoroso, admite-se que Salvador tenha saído dessa inspiração do Senhor.


Tomé de Souza veio para cumprir ordens e estabelecer o governo geral ficando a construção da cidade, o núcleo inicial, a cargo de Luis Dias, dos pedreiros e carpinteiros que trouxe de Portugal, a mão de obra degredada, os nativos tupinambás. E, numa segunda etapa, os negros africanos.


Na Câmara de Vereadores ninguém quer debater esse tema.  O então vereador José Carlos Fernandes (2004/2008) disse que promoveria um debate e nada aconteceu. Salvador, dito assim, tem data errada de sua fundação. Pois, toda cidade, considera os primórdios e, algumas delas, mudaram de nome no decorrer do processo. Até mesmo o Brasil começou como Terra da Santa Cruz, Vera Cruz e Brasil.


Feira de Santana que é a segunda cidade mais importante do Estado se chamava Santana dos Olhos D´Água; Santo Amaro se chamava, originalmente, Santo Amaro da Purificação; Cachoeira já foi Freguesia de Nossa Senhora do Rosário e Vila de Nossa Senhora do Porto da Cachoeira do Paraguaçu; e Camaçari já foi Montenegro.


Salvador não pode ter vergonha de um dia, em seus primórdios, ter sido chamada de Vila do Caramuru e Vila Velha do Pereira.

* Crônica em homenagem ao jornalista Popó, da Fundação Gregório de Mattos y Guerra, vulgo Ipojucã Cabral