Cultura

SHAKIRA FAZ PRIMEIRA APRESENTAÇÃO NO BRASIL E MOSTRA SUA SENSUALIDADE

VEJA
| 16/03/2011 às 07:00
A cantora colombiana Shakira na apresentação em Porto Alegre
Foto: Dilson Silva
Rafael Maia
Direto de Porto Alegre

A música Pienso en Tí talvez seja uma das mais profundas, intimistas e tristes músicas da carreira da cantora colombiana, que pertence ao mundo, Shakira. Mas foi com essa canção que a cantora decidiu abrir o primeiro dos três shows no Brasil da nova turnê, The Sun Comes Out, com o tom certo. Ao som apenas da voz, envolta em tecido rosa e emergida do meio do público - deixando de lado todo o barulho e efeito especial de um megashow de uma megacantora -, Shakira iniciou o show por volta das 22h em Porto Alegre e subiu ao palco para completar, em português impecável, que o dever dela, naquela noite, era seduzir e satisfazer a vontade dos fãs.


Se a cantora tinha um dever explícito e declarado, qual era então o do público? As quase duas horas de show que se seguiram mostraram que cantar, dançar e bater palma eram o óbvio. O dever do público, ali, era se deixar ser hipnotizado e seduzido pela força da natureza, loira e de altura mediana, que começava a conduzir milhares de pessoas. A primeira tentativa foi com Why Wait For Later, com ritmos árabes de gosto pop facilmente assimilável, seguida das latinas e empolgadas Te Dejo Madrid e Si Te Vas. Quando chega a vez do hit Whenever, Wherever, o feitiço estava pronto: Shakira tinha o público aos seus pés.


De pés descalços, assim como o nome do primeiro álbum em espanhol que trouxe a então menina à fama instantânea, em 1995, Shakira foi, sem exageros, de tirar o fôlego. A cantora é um furacão implacável, das roupas provocantes aos movimentos sensuais, da simpatia honesta com o público ao gostoso sotaque inglês com um quê de Barranquilla, a cidade natal da cantora na Colômbia.

A noite ainda contou com as músicas de maior sucesso da carreira, como Hips Don't Lie, Waka Waka e Ojos Así, com a notada ausência, por parte do público, de Estoy Aquí, que pedia a canção discretamente. Tudo - absolutamente tudo - foi acompanhado de danças exaustivas, não raras vezes algumas frenéticas, mas todas de empolgar quem se atrevesse a ficar de braço cruzado.


No momento mais marcante do show, Shakira aproveitou o público enfeitiçado e sutilmente deu um pequeno puxão de orelha em quem, esteja em cima ou fora dos palcos, possa achar que música pop, feita para cantar com amigos e para se divertir, precisa se dissociar de um trabalho artístico com expressões originais e profundas. Para apresentar a canção Gypsy, que fala levianamente de uma história de amor com metáforas referentes à leveza de espírito e desprendimento material com que ciganos levam a vida, foi necessário um número de mais de 10 minutos. Talvez não necessário ao entendimento da música, que é banal, mas essencialmente construtivo para o tipo de artista que Shakira parece querer ser.


Vestida com uma roupa cigana, com os músicos da banda colocados em uma extensão do palco no meio do público, Shakira promoveu uma mistura enérgica de dança cigana e dança flamenca em momentos fortes, porém precisamente pensados, fazendo alusão a um ato sexual, à "morte" após o orgasmo intenso que suga todas as forças e à "ressureição", ainda mais enérgica. A encenação, no entanto, é sutil e inteligente, à moda Shakira, e, por isso mesmo, permite uma dezena de outras interpretações, à moda das grandes artes.


Ter a possibilidade de assistir à Shakira ao vivo é um bafo de ar fresco. Em um mercado de música pop altamente impregnado por conceitos fugazes, pouco palpáveis e embebidos de autotune, Shakira mostra à plastificação em massa do universo da música pop que diversão, simpatia, talento e arte são palavras que, quando andam de mçaos dadas, a artista e o público ganham.


Pop Music Festival e o renascimento da banda Train


O Pop Music Festival é um festival de música organizado pela cantora Shakira, do qual um dos braços, na América Latina, é a nova turnê da cantora, The World Comes Out. Na turnê brasileira, participam ainda a banda Chimarruts, o canto Ziggy Marley, o DJ Fatboy Slim e o grupo norte-americano Train, renascido nas paradas de sucesso internacional com o hit Hey Soul Sister.


Ziggy Marley, Chimarruts e Fatboy Slim fizeram apresentações convencionais - o que se podia esperar, com todos os subsentidos negativos e positivos desta afirmação. O espanto, para além da Shakira, ficou com o Train. Apesar de grande parte do público presente ao festival em Porto Alegre ter sequer nascido ou possuir pouca idade quando a banda lançou o primeiro álbum, em 1994, a capacidade de adaptação do Train a uma nova realidade, por assim dizer, foi admirável.


O primeiro álbum da Shakira também foi lançado em meados dos anos 90, mas, diferentemente da cantora colombiana, o Train não se manteve nas paradas de sucesso com mais de três músicas em mais de 15 anos de história. Por isso não se pode falar em exagero ao afirmar que a performance da banda norte-americana foi uma espécie de autotestamento de "vim, vi e venci". Se não tinham sucessos, como brincava diversas vezes o vocalista da banda, Patrick Monahan, ao dizer "eu sei que vocês não sabem a letra dessa mpusica", o Train precisou de outras artimanhas para conquistar a plateia. Valeu cantar Umbrella da cantora Rihanna, tirar a camisa no palco por três vezes e fazer a performance de Marry Me em uma procissão no meio do público. Ao final, restaram aplausos efusivos de um público novo, mas que saiu conquistado pela banda.