Cultura

E-COMMERCE E A ONDA DOS SITES DE COMPRAS COLETIVAS, p. MARCO GAVAZZA

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| 16/02/2011 às 07:23
O Peixe Urbano é o mais conhecido site de compras coletivas do país
Foto: DIV

"Quem dá menos? Quem dá menos? O último lance está em 10 reais. Quem dá 6 reais?"


Não pensei que veria tanta transformação no universo da comunicação comercial ao longo desta minha saga publicitária.  A internet que já vinha virando de ponta cabeça diversos conceitos sedimentados de comunicação entrou devagarzinho no e-commerce,  lá se vão uns 15 anos aqui no Brasil, época em que ninguém sentia a confiança necessária para comprar uma coisa que não podia ver, pegar, examinar e sair com ela debaixo do braço.


Lembro de ter assistido na época uma palestra feita por Tânia Cardoso, então diretora de marketing do antigo Baneb, onde ela afirmava que em 20 anos cerca de 50% do volume de dinheiro movimentado pelo comércio seria através da internet. Pouca gente acreditou no que Tânia afirmava, embora ninguém duvidasse de sua competência.  O tempo passou e as suas previsões começaram a acontecer.


Inicialmente sob um clima de desconfiança. As formas de pagamento eram através de agentes pouco conhecidos e ninguém se sentia seguro em informar o número do cartão de crédito o que fazia com que as poucas compras acabassem sendo feitas por emissão e impressão de boletos. Assim mesmo, coisas baratinhas, tipo um CD, um livro ou qualquer outra bobagem que caso se perdesse no emaranhado da rede, não significaria um rombo no orçamento do atrevido consumidor on line. Este tímido despertar para a comodidade de comprar sem sair de casa talvez tenha sido a primeira onda do e-commerce.


Logo as bandeiras mais famosas de cartões de crédito entraram no sistema eliminando intermediários, os mecanismos de proteção dos dados que trafegam na internet se sofisticaram e a variedade de ofertas cresceu muito em todos os segmentos. Grandes lojas de departamentos e marcas famosas criaram seus próprios sites de vendas e aí ninguém mais segurou a vontade de sair comprando, principalmente porque sempre havia uma boa redução de preço em relação às lojas físicas.


Para ajudar, os bancos desenvolveram sites em que é possível realizar praticamente todas as operações bancárias, exceto -por enquanto- sacar dinheiro no próprio notebook ou desktop.  Isto consolidou a web como um imenso shopping virtual e deu segurança ao público consumidor. Era -se estou certo- a segunda onda do e-commerce.


Agora, estamos diante do surgimento de uma nova era no comércio on line, com os sites de vendas coletivas e/ou com cupons de descontos.  Produtos e serviços de todos os tipos são anunciados com descontos de até 90% e as ofertas se esgotam poucas horas depois de anunciadas. É um duelo para oferecer maiores descontos e uma verdadeira corrida para imprimir cupons. Um fenômeno de vendas impensável há pouco tempo.


A idéia é nova (ou velha, se consideramos a velocidade da internet e seus eventos) e surgiu em Chicago, nos Estados Unidos, há cerca de dois anos.  Alguém achou que valia a pena reunir através do Twitter pessoas interessadas em comprar um mesmo produto.  Quando ele conseguia um número razoável de compradores, procurava uma loja e disparava ao vendedor: "Tenho 400 pessoas querendo comprar o liquidificador Beta. Qual o menor preço que v. pode fazer?" Os olhinhos do vendedor brilhavam e logo surgiam descontos de 30, 40 e até 50%.  Nascia a partir disso o Grupon, pioneiro e líder do setor em todo o mundo.


A moda chegou ao Brasil no início do ano passado com o Peixe Urbano e em cerca de dez meses inspirou a criação de outros quase mil sites.  As curvas de expansão de novos endereços de compras coletivas apontam para mais de 2 mil até dezembro de 2011, numa média de 10 novos sites a cada dia, em todo o Brasil.


Na Bahia, onde tudo demora um pouco mais para chegar, surgiram alguns sites entre o final do ano passado e hoje. Porém foram iniciativas tímidas, de estrutura mínima e aí alguns ficam no ar com uma ou duas ofertas durante dias, não despertando qualquer entusiasmo nos consumidores que seguem correndo atrás do Grupon, Peixe Urbano, Click On, Imperdível e centenas de outros que apresentam ofertas também em Salvador.


Há uns dois dias, mais um entrou no ar: o ObaGanhei, em http://www.obaganhei.com.br/  criado, desenvolvido e operado aqui mesmo, porém aparentemente com grande estrutura logística, criativa, operacional, tecnológica e de vendas. Pelo lançamento dá pra ver que ele pretende brigar com os grandes, tirar seguidores e anunciantes de outros sites e trazê-los para um agrupamento de ofertas de produtos e serviços essencialmente locais.


E qual a vantagem de vender com margens mínimas de lucro ou até sem lucro algum?


Propaganda grátis. Este é o segredo. Pequenos empreendedores que jamais poderiam enfrentar o custo de criar e veicular uma campanha de propaganda, de repente encontram uma chance de ter seus negócios conhecidos por milhões de internautas que caso se interessem por suas ofertas, forçosamente irão conhecer seus empreendimentos.  Daí em diante, fica com eles a tarefa de agradar e fidelizar o consumidor que chegou via cupom de desconto, fazendo com que este volte sempre, haja desconto ou não.  Em alguns casos, além da propaganda grátis, o anunciante ainda consegue vendas extras em função da oferta-cupom, principalmente no segmento de comes e bebes.


Se alguém anuncia picanha fatiada para duas pessoas, mais acompanhamento, com 60% de desconto, quem comprar o cupom-desconto na hora da sua utilização vai tomar uma cervejinha, um refrigerante, pedir uma sobremesa ou qualquer outra coisa, indo sempre além daquilo que adquiriu no site de ofertas. Fui com minha mulher a uma destas casas com cupons que custaram 9,90 reais cada e dava direito a uma refeição. O lugar é extremamente agradável, a música tranqüila, o atendimento cortês e a qualidade da comida excelente. Deixei por lá mais uns 40 reais entre bebidas e sobremesa.  E tem mais: a qualquer hora posso voltar sem me preocupar se há uma oferta ou não.


Propaganda grátis e compra a custo mínimo. Não pode existir fórmula melhor para tornar vendedor e comprador unidos para sempre.  Mas, nesta equação alguém ficou de fora e foram exatamente as agências de propaganda.


E agora? Perdemos mais espaço no mercado?  Não. As agências rápidas e ágeis logo identificarão nos sites de compras coletivas, novos segmentos de anunciantes e desenvolverão ferramentas para atendê-los também em mídias off line. Certamente criarão mecanismos para assessorá-los em sua nova e pioneira aventura no mundo da propaganda, conquistando confiança e fidelidade. Quem sabe assim despertem de verdade para a força de vendas que representa a internet e passem a programar a publicidade de seus grandes e tradicionais clientes -que não fazem nem farão oferta alguma através de cupons- também na rede.  Creio que os sites de compras coletivas ou de cupons de desconto representem a 3ª onda do e-commerce e se a propaganda não subir em suas pranchas agora e começar a surfar na web, vai ter que voltar nadando para a praia.