Cultura

PARA QUEM A INTERNET NÃO DEU CERTO?, COMENTÁRIO DE MARCO GAVAZZA

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| 19/01/2011 às 12:03
Tem novidade? Tem sim senhor: a rede de blogs e milhões de internautas
Foto: RB

Comecei a me interessar por comunicação ainda criança, quando o jornal A Tarde circulava à tarde e chegava diariamente junto com meu pai, em sua volta do trabalho. Funcionário da Cruzeiro do Sul, empresa aérea depois absorvida pela Varig, meu pai sempre trazia também O Globo, Jornal do Brasil ou Diário do Comércio do dia, que circulavam nos aviões.  Após se acomodar em sua cadeira preferida, a leitura dos jornais entrava pela noite, com pausa apenas para a ceia. No dia seguinte eu costumava pegar os jornais devorados por meu pai e ler aquilo que eu conseguia entender.


Ao longo da tarde -eu estudava pela manhã- escutava um bom tempo de rádio, pois minha mãe deixava o Semp portátil (para a época, pois era do tamanho de um Aurélio) ligado o tempo todo. Percebi assim que jornais eram leituras masculinas e o rádio voltado para o interesse feminino, com novelas, musicais e programas de auditório e outros que não recordo. Especificamente para mim havia as revistinhas.  O Pato Donald, Mickey, Luluzinha e Bolinha, o Recruta Zero, Super Homem, Mandrake, Fantasma e mais, muitos mais. 


Uma vez por mês eu lia depois que meu pai lesse, é claro, a Seleções do Reader's Digest, cheia de histórias inacreditáveis, aventuras em lugares incríveis, as piadas com humor americano e um conteúdo subjetivo que deixava todo mundo com vontade de morar nos Estados Unidos. Mas isso eu só fiquei sabendo depois.  Eventualmente lia a Manchete ou a Fatos & Fotos, revistas que só eram compradas quando traziam matérias que interessavam especialmente a meu pai ou minha mãe. Além disso, lia tudo que caísse em minhas mãos, incluindo as tábuas das marés no Almanaque Eu Sei Tudo e  bulas de remédios.


Nas férias, invariavelmente passadas em Itapoan, meu pai esquecia os jornais enquanto gastava o dia às voltas com os cunhados, amigos, pescadores, banhos de mar, puxadas de rede, moquecas e também uma pinguinha, pois ninguém é de ferro. Aí ele trocava seu canal de informações para o rádio, um potente Admiral, através do qual ele ouvia desde o entardecer, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro. E eu ali colado, escutando Jerônimo o Herói do Sertão, A Hora do Brasil, o cômico Balança Mas Não Cai e a PRK 30. Dava pra sonhar acordado com o Rio. O noticiário internacional eu acompanhava pelos informativos exibidos nos cinemas antes dos filmes. Lês Actualitées Francaises, Jean Manzon e também o brasileiro Canal 100.


A televisão virou de cabeça pra baixo essa rotina de informação que vivi até os meus 10 ou 11 anos.  Aquela caixa luminosa concentrava notícias, novelas, música, reportagens, filmes -até filmes- os desenhos animados e tudo mais que houvesse para ser informado.  A propaganda, em todo este canário que descrevi (com certa saudade até), resplandecia com anúncios e jingles que ainda hoje permanecem na memória de muita gente. Quando a televisão ocupou o lugar de destaque nas salas das famílias brasileiras, os comerciais continuaram divertindo, emocionando, entretendo e convencendo tanto quanto a programação ou até mais.


Aí, damos um pulo de algumas décadas e diante da internet, que surgiu usando os computadores pessoais com suporte, a propaganda se apequenou.

Vinte anos depois de aberta para acesso público, em 1991, a propaganda na internet feita na Bahia, ainda é mínima e medíocre, salvo raras, raríssimas exceções.  Prefiro limitar meus comentários ao que é feito em nosso mercado porque é dele que sobrevivemos e nele estão as esperanças de quem está entrando na profissão agora.  


No início, a propaganda ignorou a internet porque ninguém acreditava que aquela história de acessar a web por telefone e ficar horas esperando abrir um site não poderia dar certo.  Deu certo. A tecnologia avançou, a fibra ótica foi incorporada e a banda larga tornou a internet bastante veloz. Aí agências e seus mídias relutavam em programar um "banner" (o que lhes soava estranho)  para que fosse visto por meia dúzia de pessoas, além de ninguém saber ao certo de que tamanho deveria ser um banner e como ele funcionaria.  Isso também foi resolvido. Criaram-se formatos padrões como em qualquer veículo de comunicação e nestes espaços pode ser veiculada qualquer coisa que a tecnologia da agência e seus criativos consigam produzir.  Isto sem falar em links, hipertexto, buscas, janelas e outros recursos só disponíveis  na web.


Hoje a internet é um shopping center sobre a mesa, sobre os joelhos ou seja lá onde estiver o internauta consumidor.  Compra-se e vende-se qualquer coisa pela web, as grandes redes nacionais de varejo preferem vender pela web e oferecem grandes vantagens para que isto seja feito.  Creio que não existe um veículo mais eficaz para a propaganda na avaliação custo/benefício que a nossa hoje íntima www qualquer coisa.  

Somente Ivete Sangalo garante ao site Vagalume um acesso de 100 mil internautas/dia, seja para ler e copiar letras ou ouvir músicas da cantora. Sabe quantas empresas baianas anunciam no Vagalume? Acertou. Nenhuma.


Ah, mas pra que fazer banner na internet? Ninguém vê, não tem charme. Em Cannes é o que menos aparece. E nem dá lucro.


Os principais portais locais de notícias -Bahia Já entre eles- chegam a quase 4 milhões de acessos mensais, o que representa mais de 130 mil acessos por dia. Quase o triplo da tiragem dos jornais impressos que circulam no estado. Ou seja: são excelentes canais de vendas e divulgação de produtos, com elevado índice de leitura e baixo custo. Ideal para qualquer anunciante. Entretanto as agências de propaganda da Bahia continuam a tratar a internet como algo menor.


Você consegue lembrar algum banner de empresa baiana que o surpreendeu na internet pela criatividade, beleza ou inovação? Nem eu. Nem ninguém.  Isto porque os departamentos de mídia simplesmente não incluem a web em suas planilhas de veiculação e quando o fazem, se aprovada a proposta, ela é tratada nos departamentos de criação como um castigo a ser cumprido.


Para mim é difícil entender. Sou da geração de publicitários que procurava dar criatividade e eficiência aos comerciais de televisão quando estes eram formados por um conjunto de três slides estáticos, em 20" de tempo.  Talvez por isso tenhamos conquistado mais Tops de Marketing que Prêmios Colunistas.