Cultura

MORRE UMA DAS MAIORES HISTORIADORAS DA CENA POLÍTICA COLONIAL BAIANA

VIDE
| 11/01/2011 às 14:03
Kátia Mattoso tinha 78 anos de idade e morreu em Paris
Foto: Terezinha Muricy
 A historiadora e cientista política Kátia Mattoso, 78 anos, morreu na manhã desta terça-feira, 11, em Paris, França. O comunicado foi feito no site da Fundação Pedro Calmon, que informou ainda a realização da missa de sétimo dia, na próxima segunda-feira, 17 de janeiro, às 10h, na Igreja de São Bento, Centro de Salvador.

O Governo do Estado divulgou mensagem sobre o falecimento da historiadora e cientista política Kátia Mattoso, aos 78 anos, na manhã desta terça-feira (11), em Paris, França. "Foi com pesar que tomamos conhecimento da morte de Kátia Mattoso. Dona de uma percepção privilegiada do processo histórico, vinculando habilmente o regional e o conjuntural, a historiadora soube, como poucos, investigar e compreender as origens da Bahia que somos hoje. Seu legado será duradouro", afirmou o governador Jaques Wagner.


De acordo com familiares, o enterro será na Grécia, país onde nasceu a professora.

Kátia era especialista em história social da escravidão no Brasil, Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia e Professora Emérita aposentada da Universidade de Paris V - Sorbonne. Autora, entre outras obras, de Ser Escravo no Brasil (1982) e Bahia Século XIX - Uma Província no Império (1992).

OBRA

Kátia Mattoso em sua obra "Ser escrevo no Brasil" ela nos transporta para o momento das perseguições na África, dos acordos entre os diversos líderes africanos e europeus; fala a respeito das trocas de mercadorias; das repugnantes viagens, ajudando a criar uma sensação de compreensão dos elementos históricos que compõe tal processo.
Kátia realiza um trabalho mais restrito as histórias da vida cotidianas e das estruturas da categoria escravo na sociedade, suas solidariedades, seus preconceitos, seus comportamentos.

Em suma, é visível a essência para os cativos em viverem dentro de comunidades, para a autora os laços de solidariedade eram fortificados por meio do grupo e não da família, uma vez que, a vida enquanto grupo familiar estava comprometido devido a grande proporção do poder comercial que transformava o negro em mercadoria de venda, compra e troca comercial.

Podemos analisar que os números de famílias nuclearem eram muito pequenos, tornando possível a não constituição da personalidade, assim os negros buscavam os seus valares nas comunidades. Pois a constituição de uma organização comunitária entre os escravos, só ocorria se houvesse uma expressiva quantidade de negros agrupados em grandes unidades produtivas.

Nas pequenas escravarias era possível ver uma ameaça, pois a sua pequena sociedade negra estava sujeita a incorporar a cultura dos brancos e perder de vez as suas tradições africanos.

A autora trabalha a comunidade como um conjunto formado por um bom número de pessoas que compartilham da mesma cultura e tradições. Em meio à constituição destes laços, os negros utilizavam os ritos sagrados do matrimonio e do batismo cristão, para ampliarem as suas uniões conjugais e parentais com outros escravos de outras propriedades, visando fortalecer seus elos de sociedades que havia sido rompido ao saírem da África para o Brasil na condição de escravo. É possível ver com clarividência a importância do casamento entre escravos, no qual se tornou um mecanismo que promovia uma rede de sociabilidade dentro das inúmeras propriedades.

Na aurora da análise da obra de Kátia Mattoso podemos perceber que as relações sociais e de solidariedade, visavam demonstrar as multiplicidades das formas de experiências, estratégias de resistência e de sobrevivência da cultura dos negros africanos em meio a várias sociedades contemporâneas.

Portanto podemos compreender que Kátia Mattoso, descobriu uma nova forma de trabalha o tema "Ser escravo". Uma análise quantitativa que nos remete a história de Fernand Braudel em "O mediterrâneo". O trabalho de Kátia força a sociedade atual a imaginar a distancia ou o tempo para estruturação do verbo "ser escravo" em meio aos longos processos que se constituía de modelos, padrões, normas e regras raciais, como diria Weber um "tipo ideal" o qual a cultura africana sobreviveu, passando da condição de "coisa" para sujeito do processo histórico social.