Cultura

PRESIDENTE DA CÂMARA BAHIANA DO LIVRO FAZ BALANÇO E PASSA FUNÇÃO

VIDE
| 03/01/2011 às 18:44
Prezados Associados.

No último dia 21, reunimo-nos em Assembleia Geral Ordinária para eleger a nova Diretoria para o biênio 2011/2012. Oficializamos também o Comitê de Autores da CBaL. Foi eleita para a presidência a livreira Andréa Fiamenghi. Seu mandato começa hoje, repleto de desafios. Antes de falar deles, cumpre a mim prestar contas do período transcorrido.

Fizemos algo, mas o que foi feito foi pouco. Se a entidade adquiriu maior visibilidade, se passou a ter um reconhecimento oficial do Estado como representante preferencial de livreiros, autores e editores, se passou à parceira, junto a Fagga, da Bienal de Salvador, atendendo aquela empresa diversas reivindicações da cadeia do livro quanto ao evento, se representou a Bahia em quatro bienais fora do estado, em grandes estandes, falhou em seu papel essencial: tirar da anemia e irrelevância nacional a cadeia produtiva do livro da Bahia. 

Nossa aposta principal, o Mais Cultura, que significava inicialmente a aquisição de 100 exemplares (de acervo) de 1.000 títulos de livros baianos, a preço de capa, por uma convênio MinC/FPC, além de 500 exemplares de 100 dos mesmos títulos, conquista obtida por negociação da Câmara com o MinC, falhou. O MinC mandou o dinheiro, mas o Estado não entrou com a contrapartida. Assim, ninguém conseguiu vender nada. Criou-se grande expectativa e... Nada! De alguns editores, eu sei o tamanho da frustração. De outros, imagino. A Câmara apostou nisso, mandou representante à comissão que escolheu os títulos, brigou pelos títulos de seus associados, confiante que as coisas sairiam como prometido. 

Administrativamente, internamente, conseguimos resgatar dívidas bancárias e de impostos, regularizamos a inscrição municipal, mas, no final da gestão, fomos atacados por uma estaparfúrdia decisão judicial, que ainda será objeto de prova de nossa parte do quão absurda é, que bloqueou nossa conta, nos cortando o meio de arrecadar o que quer que seja. De qualquer forma, as exigências que se fazem no Brasil a quem tem um CNPJ, uma montanha de obrigações burocráticas intransponível a quem não disponha de grande estrutura de funcionários dedicados a vencê-la, impuseram-me gastar 80% de meu tempo dedicado à entidade com trâmites burocráticos. Poderia tê-lo gastado melhor, poderia ter lutado politicamente para tornar realidade o Mais Cultura, para termos vale-livro, como tem o Estado do Rio de Janeiro, para termos uma Bienal com R$ 11 milhões de verba do Estado, como a de Pernambuco, não com R$ 200 mil, como a daqui, para termos uma festa literária no calendário nacional de festas literárias, para termos uma feira de livros decente, ao menos em Salvador, para que possamos divulgar nossa produção, mas não, tive que lidar com o desgastante dia a dia da prestação de contas, dos boletos, das tarifas, dos contadores, das declarações, dos impostos, das papeladas.

Não vou me queixar da grande ausência da maioria das editoras, dos livreiros, dos distribuidores, das filiais, dos editores, dos gráficos, nas reuniões que chamei para encaminharmos soluções. É assim mesmo, não temos tempo, temos motivos históricos para não apostar no caminho coletivo e motivos culturais (baianos) para não participar dele. Se algo deu errado, a culpa é de quem estava à frente, é assim que a maioria pensa, é assim que eu penso, estamos conversados.

Mas não quero o mesmo destino, o mesmo balanço melancólico, para a Presidente que assume hoje. Orgulho-me por passar a faixa a alguém que é membro da cadeia produtiva do livro propriamente dita. Não cabia mais que escritores como eu, por absoluto desleixo de editores, livreiros e afins, assumissem uma entidade fundada e pensada para a cadeia produtiva básica. Não que ela não tenha que contar com escritores. Pode e deve, uma coisa apoia a outra, mas uma Câmara só de escritores não faz sentido, melhor fundar por aqui uma regional da UBE. 

Tenho uma proposta para permitir a sobrevivência da Câmara e convido todos para debatê-la no próximo dia 10, segunda-feira, às 16 horas, na sede da Câmara, na Biblioteca dos Barris, 2º andar. A proposta é abrirmos mão do CNPJ, aprovarmos em Assembleia a baixa no CNPJ junto à Receita Federal. Seguiríamos existindo enquanto entidade no Cartório, ninguém nos tiraria a tradição de 52 anos, mas não seríamos mais pessoa jurídica. Se um dia vier a prometida federalização da CBL, tanto melhor, estamos prontos a aderir, mas, enquanto isso, seríamos apenas uma entidade para fins políticos, para representar a cadeia produtiva em seus fins primeiros: lutar pela salvação da cadeia, do livro, no grande estado brasileiro que menos lê e menos investe em leitura.

A Câmara precisa fazer política. Precisa fazer política de mãos limpas, que sempre tivemos, por sinal. Porque alguém tem que alertar o meio político para a tragédia que é a educação e a leitura neste estado. Quando conversamos com pessoas de fora da Bahia, eles veem claramente o descalabro, o escândalo que é um estado com a tradição literária, intelectual, da Bahia, ter as piores avaliações nacionais em escolaridade, qualidade de ensino e leitura, pois tais coisas tem tudo a ver umas com as outras. Aqui quase ninguém enxerga. Não temos festa literária (teríamos tudo para ter - infraestrutura turística, tradição, nome, gente para fazer), temos uma bienal xoxa se comparada a qualquer outra, não temos vale-livro, ao contrário de São Paulo, Rio, Minas, Tocantins, Pernambuco, Ceará e outros, não temos editoras com plena distribuição nacional, pouquíssimas publicam autores de fora, enquanto os melhores autores da Bahia são publicados por editoras de fora. Não é preciso fazer política? Não é preciso gritar, espernear, contra tal estado de coisas? Ou vamos assumir o fracasso sem luta como novo componente da baianidade? Seria uma novidade, uma contradição em relação à baianidade tradicional, tão ciosa de seus livros e suas editoras, de Pinto de Aguiar, da Catilina, do primeiro livro impresso no Brasil. 

Acredito que é incompatível, para a nova Diretoria, como foi para mim, conduzir a necessária luta política com a administração de um CNPJ próprio. Se alguém achar o contrário, trate de lotar a reunião convocada e, assim, provar que há mãos dispostas a ajudar. 

O futuro da Câmara Bahiana do Livro, desta tradição de 52 anos, está nas mãos de vocês, nas nossas mãos, pois a partir de hoje sou um associado como qualquer outro.
Não vamos deixar Andréa sozinha. Não vamos morrer sem lutar. 
Grande abraço
Aurélio Schommer ex-Presidente da Câmara Bahiana do Livro