Cultura

ESPETÁCULO "AS VELHAS" FAZ TEMPORADA NO TEATRO VILA VELHA EM JANEIRO

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| 27/12/2010 às 09:28

O espetáculo As Velhas, que acaba de receber quatro indicações para o Prêmio Braskem de Teatro, vai cumprir temporada no Teatro Vila Velha de 14 a 30 de janeiro, sempre de sexta a domingo, às 20 horas. A montagem com inspiração no texto da potiguar Lourdes Ramalho, escrito em 1975, concorre nas categorias: espetáculo adulto, direção, para Luiz Marfuz, e atriz, em indicação dupla, para Andrea Elia e Claudia di Moura. Os vencedores serão conhecidos durante cerimônia de premiação no Teatro Castro Alves, em data a ser definida.

O espetáculo conta a história de duas mulheres que lutam pela posse de terras, maridos e filhos, numa espiral de vingança e solidariedade, que termina por revelar a beleza trágica do sertão. No palco principal, seis personagens vivem dramas passionais em meio à secura da terra, espremidos entre a impotência ou revolta para mudar a realidade.

Andréa Elia, Cláudia Di Moura, Anderson Dy Souza, Fernando Santana, Jefferson Oliveira, e Jussara Mathias interpretam passionais comedores de lagartixa assada deste drama com nuances de comicidade, que estreou com sucesso em novembro, no Teatro Sesc-Senac Pelourinho.

No Teatro Vila Velha, a temporada tem ingressos a R$20 (inteira) e R$10 (meia). A realização é da Cardim Projetos e a produção de Kalik Produções Artísticas. O espetáculo foi selecionado pelo Edital Manoel Lopes Pontes de Apoio à Montagem de Espetáculos de Teatro - 2009, da Fundação Cultural do Estado da Bahia, Secult - Secretaria de Cultura.

            Luiz Marfuz, cujos mais recentes trabalhos são Policarpo Quaresma e A Última Sessão de Teatro, explica que As Velhas trata de questões universais como amor, ciúme, vingança e poder que, embora persistam, "são vistas sob outros ângulos, a exemplo da virgindade, das frentes de emergência, da indústria da seca". Para o encenador, o espetáculo se diferencia de outras montagens que miram na temática sertaneja, por abordar o subjetivo, refletido no corpo dos sertanejos.

Em cena, os atores lidam com elementos culturais nordestinos, conflitos cordelescos e expressões regionalistas. "Fizemos pesquisas físicas, improvisações e construção de partituras vocais e corporais para construir o sertão de cada um", detalha o diretor, destacando que o espetáculo aborda questões agrárias, sem que coronéis, mandantes, governantes e representante dos poder econômico ou político apareçam de forma explícita ou maniqueísta.

Para enfatizar o intimismo, a montagem objetiva por a respiração do espectador no ritmo da dos personagens, utilizando, para isto, uma estrutura cenográfica em formato de semi-arena, criada pelo cenógrafo Rodrigo Frota.

Duelo de atrizes

Na trama, Mariana é uma mulher massacrada pelo sistema moral. "Ela é tão calcificada pelo sistema conservador que acaba se arriscando a também ficar sem os filhos. Então esta grande perdedora se vê envolvida em mais uma armadinha", diz a intérprete da personagem, Cláudia di Moura (Ogum). A atriz conta que teve um primeiro contato com a dramaturgia de Lourdes Ramalho em 2003, quando fez a leitura de um texto da escritora.

"O ator Urias Lima me disse que eu precisava conhecer As Velhas, que eu deveria fazer esta mãe que perde muito da vida". Quando leu o texto, Cláudia ficou muito mexida, por considerar que ele era atual, na sua abordagem da justiça social e de dramas pessoais. "E Marfuz pega este texto e mostra este homem animalizado, dentro da concepção dele, com uma peregrinação silenciosa, para dentro", avalia.  

A atriz Andrea Elia conta que foi arrebatada já na primeira leitura da obra, pois percebeu a sua personagem, a cigana Ludovina (Vina), como parte de um universo bem definido e com profundo lastro psicológico e que, tendo o corpo aleijado, aguça sentidos para sobreviver. "A história se passa no sertão, mas emana o interno dos personagens e o olhar de Marfuz para o ator instiga a construção da cena", analisa.

A intérprete narra que o diretor convidou a equipe a conhecer mais o sertão, a assistir filmes sobre temáticas relacionadas ao drama, a ganhar intimidade com obras como a de Garcia Lorca. "È um momento muito rico quando um diretor abre canais", considera Andrea, citando ainda como Marfuz é aberto ao diálogo e aproveita a contribuição do grupo. "Se tem um gesto, um olhar, ele está olhando", diz, pela primeira vez junto com o diretor em um espetáculo teatral.

O diretor enxerga o teatro como uma arte do diálogo dentro e fora do palco e que vê o processo de trabalho como coletivo, com atores, técnicos, criadores, equipe, espectadores: "Hoje se questiona bastante e idéia do diretor sabe-tudo que vem com a concepção pronta e os atores apenas executam. Este nosso processo é um vaivém entre pensar e fazer, construir e destruir, morrer e renascer".


 



SERVIÇO


 As Velhas - espetáculo teatral


Quando: 14 a 30 de janeiro, de sexta a domingo, 20h

Local: Teatro Vila Velha, Palco Principal

Ingresso: R$20 (inteira) e R$10 (meia)


Direção: Luiz Marfuz

Texto: Lourdes Ramalho

Elenco: Núcleo de Mariana - Cláudia di Moura - Mariana / Fernando Santana - Chicó e Tonho / Jussara Mathias - Branca. Núcleo de Vina - Andrea  Elia - Vina / Anderson dy Souza - José. Elo entre os núcleos: Jefferson Oliveira - Tomás

Cenário: Rodrigo Frota

Figurino: Miguel Carvalho

Direção Musical: André Simões

Maquiagem: Marie Thauront

Iluminação: Luiz Renato

Assistência de Direção: Thiago Gomes e Diego Pinheiro

Preparação Corporal: Leonel Henckes

Preparação Vocal: Meran Vargens

Preparação para Canto: Marcelo Jardim