Esse mérito é fundamental porque o candomblé tem uma infinidade de interpretações e estudos mais detalhados sobre orixás, folhas, origens, comidas, rituais, crenças e outros, e faltava um livro condensado, com 95 páginas apenas, onde o leitor encontrasse o básico para entender essa janelinha de fé.
É um beabá, um ABC sobre o candomblé, muito didático e que faz com que o leitor tenha conhecimento desde a sua origem até os dias atuais.
Evidente que, quem deseja se aprofundar em estudos sobre o candomblé existem muitas publicações na Bahia, desde "Um Homem Livre" sobre Pierre Fatumbi Verger, de Jean-Pierre le Bouler, o próprio estudo de Verger sobre as folhas, trabalhos de Vivaldo da Costa Lima, Júlio Barga, Ieda Pessoa de Castro, Renato da Silveira, Waldeloir Rego, Mãe Stella e outros.
Pena que Vivaldo da Costa Lima (falecido em 2010) tenha escrito pouco dado o seu perfeccionismo e cuidados especiais com esse tema. Ainda assim, "A Família de Santo nos candomblés Jejes-nagôs da Bahia" (Ed Corrupio), deste autor, é um clássico nessa matéria.
Importante tratar o tema candomblé com distinção e todo respeito que merece, o que esses autores têm feito (e fizeram) sem esses chavões jornalísticos frequentes dando conta de que toda mãe de santo é uma sábia e coisas do gênero.
O livro de ZédeJesusBarrêto tem esse prazer especial porque aborda o tema desde a origem, a Bahia e o tráfico de escravos, sem o que não haveria candomblé na Bahia, santeria em Cuba e outras formas de expressões religiosas afro-latinas na América e no Caribe, a importância de ser tratado como religião e não de uma seita menosprezada, as irmadadaes religosas católicas dos negros, os terreiros, o sincretismo e os orixás.
Diria que, de tudo um pouco, bem dosado, bem colocado, sem exageros e sem ufanismos afro-baianos tão comuns nos dias correntes entendendo que se trata de um mundo rico e ainda pouco conhecido da sociedade, e que precisa ser difundido e ocupar o seu espaço como de direito.
O resumo sobre as festas populares contido no livro, apenas 4 páginas, é um primor porque relata tudo sucintamente mostrando o que já foi e o que é, na atualidade.
Também a abordagem sobre os orixas é bastante didática, compreensível nas poucas linhas dedicadas a cada um deles. E, o que é mais significativo: sem medo de falar do sincretismo colocando-o no seu devido lugar, no momento histórico e as interpretações que se dão na contemporaneirdade.
Se existe uma religião de difícil entendimento (quando profundo) é o candomblé. Quem duvidar é só ler Ewé, considerações sobre as folhas sagradas de Pierre Verger. É muito mais difícil do que interpretações da Legenda Áurea, de Jacopo de Vararzze , sobre a vida dos santos católicos.
Candomblé da Bahia de ZédeJesusBarrêto é um livro para iniciantes e, ao mesmo tempo, um trabalho desses de cabeceira de computador, ótimo para pesquisas rápidas, retirar dúvidas, entender a janelinha da fé, sem que para isso tenha que ler uma bíblia.