Cultura

TUNGA: À LUZ DE DOIS MUNDOS CHEGA AO MUSEU RODIN BAHIA PRÓXIMO 27

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| 06/08/2010 às 11:28
De 27 de agosto próximo até 31 de outubro suas obras estarão no Rodin
Foto: DIV

Criada em 2005, a partir de obras do acervo do museu mais famoso do mundo, o Louvre, a instalação À La Lumiere de Deux Mondes (À Luz de Dois Mundos), de Tunga, foi considerada por especialistas e críticos de arte - incluindo os da própria equipe deste museu - "um trabalho profético", que contribuiria para a projeção da arte contemporânea brasileira. Dois anos depois, esta mesma obra foi exposta no PS1 do MOMA, um dos mais importantes espaços para a arte contemporânea internacional. Até então, apesar da repercussão dessas mostras, a instalação nunca havia sido montada no país do artista.


Agora, a obra de Tunga concebida especialmente para a montagem em Paris chega a Salvador numa exposição muito mais completa. Tunga: À Luz de Dois Mundos acompanha todo o processo criativo em torno da À La Lumiere de Deux Mondes - desde sua concepção até seus desdobramentos. A mostra apresenta quatro peças inéditas inspiradas em La Lumiere, desenhos e estudos da época da produção deste trabalho, cartazes das mostras do Louvre e no PS1 do MOMA e um vídeo sobre estas duas exposições, além de uma apresentação audiovisual que o crítico Paulo Sérgio Duarte criou especialmente sobre a obra principal e que foi incorporada à exposição de Salvador. Tunga: À Luz de Dois Mundos será aberta no dia 27 de agosto (sexta), às 19h, ficando em cartaz até o dia 31 de outubro, na Sala Contemporânea do Palacete das Artes Rodin Bahia (Rua da Graça, 284, Graça, Salvador-BA).


"Tunga é um dos mais complexos e mais respeitados artistas contemporâneos do Brasil. Tanto por sua estética marcante, característica, quanto pelo aprofundamento que faz da dimensão intelectual e filosófica do fazer artístico", enfatiza Daniel Rangel, diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia.


Para Paulo Sérgio Duarte, que além de crítico é professor e pesquisador, a obra de Tunga une de uma maneira especial a experiência intelectual e a estética: "Toda obra dele lida com um complexo de teorias e conceitos que alicerçam uma poética de intensidade e potência. Mesmo assim, ele nunca deixou que sua erudição pusesse à sombra a evidência plástica necessária à experiência da arte. Artistas com formação rala se deixam seduzir por algumas teorias, empobrecendo a materialidade do trabalho terrivelmente. É isto que não acontece na obra de Tunga", afirma  Paulo Sérgio, em sua apresentação.


Daniel Rangel destaca ainda os constantes desdobramentos que Tunga faz de suas próprias obras, como o público poderá ver na exposição de Salvador. "É impressionante a sua velocidade de produção. Quando Tunga descansa do trabalho de escultor, faz isso desenhando, por exemplo. Ele não pára nunca, completa.


SECULT

Tunga: À Luz de Dois Mundos é uma exposição integrante do Programa Quarta Dimensão, realizado pela Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, unidade da Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia. O Programa como objetivo reunir nomes brasileiros consagrados no circuito nacional e internacional das artes visuais, tendo como característica em comum a forte presença da tridimensionalidade em seus trabalhos. O Programa busca provocar a relação entre o trabalho destes artistas e a obra do escultor francês Auguste Rodin, exposta no Casarão no Palacete das Artes Rodin Bahia. A curadoria do Programa Quarta Dimensão é do próprio Daniel Rangel, que além de diretor de Museus é ex-assistente de Tunga (no período de 1998 a 2003).


Foi, inclusive, a partir das conversas que aconteceram entre Tunga e Daniel, pela relação de proximidade entre os dois, que surgiu o conceito do Quarta Dimensão. Daniel fez um convite para Tunga expor na Sala Contemporânea do Palacete das Artes justamente com a proposta de estimular o diálogo entre seu trabalho e a tridimensionalidade de Rodin. Durante a visita do artista, o que era a idéia de uma exposição foi ampliada para a concepção de um programa, com a inclusão de outros grandes nomes como Mario Cravo Neto e Waltercio Caldas, cujas obras foram expostas este ano no Palacete das Artes. Depois de Tunga, o próximo artista a participar do Programa Quarta Dimensão é José Rezende.


OS DOIS MUNDOS DE TUNGA


Os dois mundos referidos no título da obra À La Lumiere de Deux Mondes (À Luz de Dois Mundos) estão representados por 03 toneladas de bronze, aço, resina e ouro, que se entrelaçam nos vários elementos da escultura, aparentemente sustentada por um frágil equilíbrio de balanço e contrapeso. A obra, inicialmente concebida para ser apresentada sob o vão central da pirâmide do Louvre, revela uma composição de bengalas gigantes que apoiam, envolvidas em tramas de cabos de aço, réplicas em bronze de cabeças de estátuas do acervo do Louvre, ao lado de crânios humanos também em bronze. Juntas, estas cabeças e crânios velam um enorme esqueleto humano, sem cabeça, que aparentemente dorme numa grande rede.


 "É uma obra rara no seu percurso, com um repertório de formas e materiais já dominados em trabalhos anteriores que, aqui, agenciam, pela primeira vez, uma clara relação entre arte, política e história. Dois mundos em equilibro, literalmente em balanço", explica Paulo Sérgio Duarte.


A montagem de Salvador "Tunga: À Luz de Dois Mundos", ultrapassa a proposta das duas montagens internacionais (no Louvre e no PS1 do MOMA), ao apresentar a instalação principal acompanhada de outros elementos que ilustram o começo de sua criação até a elaboração de novas obras, baseadas e inspiradas em À La Lumiere. Desta forma, o público que visitar a mostra de Tunga em Salvador vai encontrar muitos mais subsídios tanto para fruir a exposição, quanto para conhecer um pouco mais sobre a obra e processo de criação deste artista, assim como sua capacidade de gerar desdobramentos e novas obras a partir de um mesmo trabalho, num intenso e dedicado processo intelectual e artístico.


SOBRE O ARTISTA


Tunga, o Antônio José de Barros de Carvalho e Melo Mourão, nasceu no Rio de Janeiro (1952), cidade onde concluiu o curso de arquitetura e urbanismo e também fez sua primeira mostra individual, no Museu de Arte Moderna (1974).  Com uma obra que passeia pela escultura, desenho, pintura, performance, vídeo e instalações, o artista investiga e aborda diferentes disciplinas em sua produção criativa, incluindo a literatura, a poesia, a filosofia, a psicanálise, o teatro e a ciência.


Na década de 1980, deu conferências no Instituto de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Santa Úrsula e na Universidade Candido Mendes. Recebeu o Prêmio Governo do Estado pela exposição realizada no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, em 1986. Em 1990, recebeu o Prêmio Brasília de Artes Plásticas e, em 1991, o Prêmio Mário Pedrosa, da Associação Brasileira de Críticos de Arte - ABCA, pela obra Preliminares do Palíndromo Incesto. Em meados da década de 90, começa a ter seus trabalhos exibidos sistematicamente na América Latina, EUA e Europa. Sua obra foi tema de pesquisas e teses de estudiosos do Brasil e exterior.


Comenta-se também que foi Tunga quem convenceu Bernardo Paz a transformar a fazenda onde guardava seu precioso acervo de arte contemporânea, em Brumadinho, Minas Gerais, em um museu aberto a visitação. Dessa sugestão, nasceu em 2004 o Inhotim Centro de Arte Contemporânea, que dedica dois pavilhões à obra de Tunga: a Galeria Lezart e a Galeria Rouge.


Do início de sua carreira, até hoje, Tunga já participou de centenas exposições coletivas e Bienais. Entre as mais importantes, estão a Bienal de Veneza (1982) e a Documenta Kassel (1997), na Alemanha. Destacam-se, além disso, suas mostras no Hara Museum of Contemporary Art, em Tókio (1985); a Kanaal Foundation, na Bélgica (1989); o Stedelijk Museum, na Holanda (1989); a Galerie Nationale do Jeu de Paume (1992), em Paris; o MOMA de Nova York (1993), o Ludwig Museum, na Alemanha (1993) e a Bienal de Havana, em Cuba (1994), as bienais do Mercosul (1999), de Kwang-Ju, na Coréia (2000), e de Lyon, na França (2000).


Suas exposições individuais também rondaram pelos espaços expositivos dos mais variados países. Entre eles: Chicago Museum of Contemporary Art (1989); Whitechapel Gallery, em Londres (1989); The Power Plant, no Canada (1990); The Third Eye Center, em Glasgow (1990); Bard College, em Nova York (1997); MoMA de Miami (1997); Phoenix Art Museum, no Arizona (1998); Centro Cultural Recoleta, em Buenos Aires (1999); Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo (2001); MARCO, no Mexico (2001); Jeu de Paume, em Paris (2001); Luhring Augustine Gallery, em Nova York (2002); Moderna Art Museet, em Stockholm (2003); Christopher Grimes Gallery (2004); "Art Unlimited", na Suiça (2005); Galerie Daniel Templon, em Paris (2005); Pirâmide do Louvre (2005), em Paris; Jardim Botânico do Rio de Janeiro (2006); Le Havre (2006), em Paris; Luhring Augustine, em Nova York (2007); e PS1-MoMA (2007), também em Nova York.


Entre suas publicações, estão "Barroco de Lírios" (1997), o catálogo "Tunga, Galerie Nationale du Jeu de Paume" (2001) e "TUNGA" e "Laminado Souls", ambos no mesmo ano (2007). Ao lado do cineasta Eryk Rocha, participou, ainda, da concepção de dois curtas-metragens - "Quimera", selecionado em Cannes em maio de 2004 e "Medula", que abriu o Festival Internacional de curtas-metragens do Rio de Janeiro, em 2005. Já "Nervo de Prata", feito em parceria com Arthur Omar, foi gravado bem antes, no final da década de 80 (1987).


Possui obras em coleções particulares, museus e galerias do Brasil e exterior, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Reina Sofia (Madrid, Espanha), Peggy coleção Guggenheim (Veneza, Itália), Moderna Museet (Estocolmo, Suécia), Museu del Barrio (Nova Iorque, EUA) e MFA (Houston, EUA). Entre as galerias mais importantes, Tunga é representado por Millan (São Paulo), Galerie Daniel Tamplon (Paris), Pilar Corrias (Londres) e Galeria Luhring Agostinho (New York).


Serviço


O que: Tunga: À Luz de Dois Mundos (Programa Quarta Dimensão) Onde: Palacete das Artes Rodin Bahia (Rua da Graça, 284, Graça, Salvador, Bahia). Abertura: 27 de agosto (sexta-feira) de 2010, às 19h Visitação: Até 31 de outubro | de terça a sexta, das 10 às 18h, fins de semana e feriados, das 13 às 17h. Gratuito. Realização: Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia / Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia.