Cultura

FÓRUM VAI CONSTRUIR DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO QUILOMBOLA PARA A BAHIA

Veja
| 08/07/2010 às 16:14
Elaborar as políticas públicas que atendam às especificidades educacionais das comunidades quilombolas da Bahia e reiterar a importância de se discutir, sob vários aspectos, a realidade desses povos. É com este objetivo que mais de 400 professores, estudantes e lideranças quilombolas, de quase todos os Territórios de Identidade da Bahia, participam, até sexta-feira (9), do II Fórum Baiano de Educação Quilombola, no município de Seabra (a 456Km de Salvador), Território da Chapada Diamantina.

As discussões, iniciadas na terça-feira (6), darão origem às Diretrizes Estaduais da Educação Quilombola para a Bahia, que, segundo a representante da comunidade de Águas Claras (Salvador), remanescente do Quilombo do Urubu, Aidê Carvalho, o Estado já vem construindo. "O movimento do Estado, para criar uma política de reparação junto com as comunidades, já vem sendo percebido pelo grupo e é tido como um avanço a favor da educação e do cumprimento da lei nº 10.639 (que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira)", destaca Aidê.

Para a coordenadora para as relações étnico-raciais e diversidade da Secretaria da Educação, Nádia Cardoso, o Estado avança na construção das políticas públicas direcionadas às comunidades quilombolas. "Nós precisamos promover uma educação que inclua com dignidade as crianças quilombolas", ratificou.

Representando as comunidades quilombolas do estado, Maria Rosa da Silva, destacou o "aprendizado" como a melhor ferramenta para a auto-estima das pessoas que vivem em quilombos e para desarmar a discriminação ainda sofrida por elas nas escolas e nas sociedades. "Aqui, a gente tem um complemento, a oportunidade de estar aprendendo. Cada vez que eu participo de um evento como esse, eu ganho forças para voltar à minha comunidade e dizer para eles que nós somos negros de verdade e que nós somos bonitos sim", disse Maria Rosa.

Diversas cidades que integram o Território de Identidade da Chapada Diamantina, inclusive Seabra, são originadas de quilombos. Rio de Contas é uma delas. Lá, a professora Sandra Aparecida Augusto Santos ensina crianças de 4 a 6 anos em uma escola da comunidade quilombola de Barra do Brumado. "Participo do Fórum para falar sobre a nossa educação e para saber melhor sobre como passar os assuntos. Agora, nós estamos recebendo novos livros didáticos, que estão mais de acordo com a nossa realidade, quando os alunos se vêem nos livros, o resultado é bem mais positivo", analisa Sandra.



Ações no Estado - Desde o I Fórum Baiano, em 2009, cerca de 500 professores e lideranças quilombolas já passaram por cursos de formação continuada, que permanecem sendo oferecidos pela Bahia, por meio de universidades e da própria Secretaria da Educação. A construção e reforma de escolas nas comunidades também estão previstas.

Segundo Nildon Pitombo, superintendente de Educação Básica da Secretaria da Educação, as políticas de reparação não deverão ser feitas de forma isolada. O apoio das universidades também é essencial no processo de formação de educadores. "O regime de colaboração é uma ferramenta capaz de provocar uma mudança significativa na realidade das comunidades quilombolas da Bahia. Precisamos valorizar a matriz africana na sociedade brasileira", disse o superintendente.

No país, existem mais de 1.340 comunidades, certificadas até setembro de 2009 pela Fundação Palmares. Destas, 297 estão na Bahia, entretanto, estima-se que existam mais de 500 remanescentes de quilombos no estado.


Programação - No primeiro dia do Fórum, os participantes ouviram palestra do Prof. Ms. Carlos Eduardo Santana sobre a formação dos quilombos no Brasil e sobre a cultura africana. Além da exposição de Carlos Eduardo, documentários que retratam a vida nas comunidades quilombolas também foram exibidos.

O segundo dia do evento aconteceu no Centro Educacional de Seabra e foi dedicado ao encontro dos grupos de trabalho, que discutiram propostas de políticas educacionais relativas à alfabetização de jovens e adultos, à educação básica, à educação profissional, ao ensino superior e à educação do campo.

A programação do II Fórum Baiano de Educação Quilombola também inclui conferências, plenárias, comunicação de trabalhos de pesquisa e apresentações culturais, além da exposição das propostas originadas dos grupos de trabalho.