Cultura

COFFEE BREAKE NA DEDICAÇÃO AO MARKETING POLÍTICO, POR MARCO GAVAZZA

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| 30/06/2010 às 10:00
Vai começar o jogo entre a ilusão e a eficiência do marketing político
Foto: Arthur Gondinho

A partir da próxima semana, começa oficialmente a campanha eleitoral 2010. Já trabalhei em campanhas eleitorais das mais diversas, envolvendo candidaturas desde deputados até presidente da república, na Bahia e em outros estados. Tanto ajudei Diógenes Almeida a ser prefeito de Tobias Barreto, em Sergipe; quanto ajudei, em Minas, Tancredo Neves a ser o primeiro candidato à presidência da república em eleições diretas, após os anos de chumbo. Ajudei João Durval e Waldyr Pires a serem governadores da Bahia. Ajudei José Ronaldo a ser prefeito de Feira de Santana. Enfim, enfrentei campanhas eleitorais de todos os portes e de candidatos dos mais diferentes perfis políticos.


Em todas elas o resultado é um enorme desgaste físico e intelectual, acompanhados ou não da satisfação de uma vitória. São 90 dias -ou 120 quando há um segundo turno- de raciocínio político ininterrupto, análises de pesquisas, interpretação de dados, avaliação de fatos e finalmente a transformação cotidiana de tudo isso em material de comunicação, desaguando no período do horário gratuito no rádio e na televisão, quando então a visão de uma cama é a visão do próprio paraíso. 


Os grandes cientistas políticos costumam afirmar que uma campanha eleitoral muitíssimo competente, acresce no máximo 20% de votos ao potencial que o candidato já possui espontaneamente. E como 20% a mais de votos podem decidir uma eleição, o trabalho precisa ter uma margem de erro próxima de zero. Isto num cenário em que a comunicação tem que alcançar desde a classe A até a classe D, atingindo homens e mulheres a partir dos 16 anos, de todos os níveis de instrução.  Isto significa na Bahia cerca de 8 milhões de pessoas espalhadas por 417 municípios. Concordem comigo: não é simples.


A campanha de 2010 torna-se ainda mais trabalhosa porque incorpora a internet aos meios tradicionais de comunicação e a web -sabemos todos nós- é uma armadilha.  Ela permite ao candidato o contato direto com o eleitor, seja no Twitter, no Skype, no  Messenger, num chat ou qualquer outro recurso de comunicação instantânea. Mas será que do outro lado quem está teclando é mesmo um eleitor ou será um eleitor de outro candidato? Ou pior: um profissional do candidato adversário mais forte?  Ou seja: o que já era difícil tornou-se também mais arriscado.


Especificamente na Bahia, o cenário é particularmente complexo, pois ela é um dos estados brasileiros em que além de candidato ou candidatos oposicionistas, existe mais de um candidato alinhado com a candidata do governo federal à presidência da república, Dilma Roussef, gerando assim um complicador que exige caminhar num fio de navalha.  


Toda esta descrição que fiz até aqui a respeito do trabalho que dá uma campanha eleitoral, não se limita a mais um comentário sobre comunicação, meu assunto neste espaço. É também uma forma de explicar a vocês que será indispensável para mim fazer uma pausa, deixando que meus poucos porém fiéis leitores,  disponham assim de mais tempo para navegar pelo Bahia Já. 


Estou integrando a equipe que fará a comunicação do candidato Geddel Vieira Lima ao governo da Bahia. Desta forma, independente do acúmulo de trabalho, pois uma campanha eleitoral é esta verdadeira maratona de raciocínios e desenvolvimento de peças publicitárias e de marketing direto que acabei de descrever,  não tenho a opção de continuar escrevendo esta coluna semanalmente também por questões de coerência e ética.  Não me sentiria honesto em usar este espaço para fazer comentários diretos ou indiretos sobre o candidato Geddel, pois isto iria de encontro com a linha editorial de neutralidade adotada pelo Bahia Já.


Ao mesmo tempo, não me sentiria honesto com o meu compromisso profissional ao dispor de um espaço privilegiado como este e não usá-lo ainda que de forma parcimoniosa, em benefício do candidato. Quando as únicas opções aparentes são correr e ser apanhado pelo bicho ou ficar e esperar ser devorado por ele,  cria-se uma "terceira via" que é ficar longe do bicho. Essa foi a alternativa que considerei mais digna. Até outubro ou novembro estarei cuidando de mais este desafio profissional -que no fim de tudo ajuda a manter a democracia de pé- e longe das nossas conversas semanais, as vezes interessantes, outras nem tanto, mas sempre pontuais.


Sentirei falta da convivência, dos comentários, das críticas e das reações.  Mas finda a corrida eleitoral e o merecido repouso que pretendo me dar, estarei de volta ao Bahia Já, para seguir comentando sobre outdoors, banners, comportamento do consumidor e outras coisas do gênero, além de eventualmente me atrever a comentar Byron, Borges e vírgulas. Agradeço ao Tasso Franco, meu amigo e editor do Bahia Já, pela paciência e compreensão, ao mesmo tempo que agradeço a quem consegue acompanhar minhas opiniões semanalmente, esperando que no meu retorno vocês também estejam bastante descansados.  Como costumo fazer no Twitter "pausa para um café". Desta vez, um pouco mais longa. Um grande abraço e desejem-me boa sorte.