Foi no Ilê Axé Opô Afonjá o lançamento do livro Meu Tempo é Agora, escrito pela ialorixá Mãe Stella, reeditado 17 anos depois de vir a lume pela Assembleia Legislativa da Bahia. O ato contou com a presença do presidente da Casa, deputado Marcelo Nilo, da primeira-dama Fátima Mendonça, do ex-governador Waldir Pires, do deputado Bira Corôa e da deputada federal Lídice da Mata, entre outras autoridades, e inseriu-se nas comemorações do centenário desse tradicional terreiro de candomblé, que há exatos 34 anos está sob a liderança espiritual de Mãe Stella.

A cerimônia reuniu na última quinta-feira, a partir das 17h30, cerca de 200 pessoas. O presidente Marcelo Nilo fez questão de ressaltar o conteúdo simbólico do Legislativo optar por fazer o lançamento ali, no Ilê Axé Opô Afonjá, e manifestar a sua alegria de estar ?agora nesse solo sagrado, que, não faz muito tempo, era um território submetido absurdamente a constantes perseguições policiais, sendo o culto aos orixás proibido pelas autoridades constituídas?. Ele lembrou que, por espantoso que pareça, foi só na gestão do professor Roberto Santos como governador da Bahia, no final da década de 70 do século passado, que essa proibição foi extinta.

DIFERENÇA

Marcelo Nilo observou ainda que os presentes viviam um dia diferente, reverente não apenas à religião dos deuses africanos, mas igualmente a duas mulheres baianas, Mãe Stella de Oxossi e Fátima Mendonça. Em seguida revelou o interesse da primeira-dama com relação à esta publicação e o alcance do programa editorial do Legislativo, inicialmente apenas um instrumento de marketing cultural que evoluiu e se robusteceu, sendo agora um pólo para difusão da "nossa multifacetada cultura". Lembrou que só no último triênio foram lançados 42 livros, "todos comprometidos com a nossa terra e com a nossa gente" e de indiscutível relevância histórica, cultural e artística.

Para ele, essa nova edição de "Meu tempo é Agora", de Maria Stella de Azevedo Santos, oxigena o mundo das letras da Bahia e aproxima ainda mais o Poder Legislativo de seus representados, e, portanto, "de nossa história e raízes mais profundas". Antes de encerrar, o presidente da Assembleia louvou o tempo novo vivido pela Bahia, de democracia plena e em que todas as manifestações, não apenas as religiosas, étnicas e culturais são respeitadas pelo poder constituído ? tempo este em que o governador Jaques Wagner, ?um democrata irredutível?, atua para reduzir as desigualdades, reafirmar as liberdades sociais e peculiaridades da nossa vasta cultura.

Fátima Mendonça também homenageou Mãe Stella com um curto pronunciamento, remorando parte da trajetória de vida da ialorixá, sua companheira de profissão, pois ambas cursaram enfermagem. A primeira-dama lembrou que certa vez ela lhe havia confidenciado a razão de sua escolha "o desejo de estudar, conhecer o ser humano e sua alma. Destacou que Mãe Stella cursou a escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, sendo um exemplo a ser seguido por todos que tenham a vocação para esta profissão: "Quando eu própria me preparava para estudar e ser enfermeira não conhecia muito sobre Ana Nery ou Florence Nightgale, mas só conhecer Mãe Stella já firmava esta definição".

O Ogã José Ribamar Feitosa Daniel, presidente da Sociedade Cruz Santa, agradeceu à Mesa Diretora da Assembleia pela publicação do livro, "um manual indispensável para a compreensão dos orixás, escrito em linguagem coloquial, de forma descritiva, a religião, o seu dia-a-dia e detalhes da vida religiosa. Ele saudou Mãe Stella de Oxossi, sucessora legítima de Mãe Aninha, que aos 85 anos de idade, 34 deles à frente do tradicional terreiro de São Gonçalo do Retiro e pediu a Oxossi que lhe desse sapiência, saúde e muitos anos de vida.

Meu Tempo é Agora foi impresso pela Empresa Gráfica da Bahia, edição de cinco mil exemplares (a maior já feita pelo Legislativo) e tem 182 páginas, incluídos o glossário iorubá e um caderno de ilustrações de Jacira Oswald. A fotografia da autora na contracapa é de Paulo Mocofaya e projeto gráfico, bem como a programação visual, foi feita pelos irmãos André e Cláudius Portugal. Já a cuidadosa e difícil revisão (que levou em conta signos do alfabeto original), bem como a consultoria editorial do Ilé Axé Opô Afonjá foi realizada pelo professor Oscar Dourado. O prefácio foi escrito pelo ex-reitor da Ufba Germano Tabacoff. Para ele, "existem pessoas cometas que passam e pessoas estrelas que permanecem. Mãe Stella é uma estrela até no nome".