Cultura

DENISSENA APRESENTA EXPO AGDÁS URBANOS NA CONTEMPORANEIDADE, NO PELÔ

Confira
| 17/05/2010 às 09:27
Na expo, uma relação entre contexto da cidade e iconografia do candomblé
Foto: Denissena
Fé, arte urbana, simbolismos tradicionais e contemporâneos se misturam na
mostra "Agdás Urbanos na Contemporaneidade", do artista visual baiano
Denissena, a partir de 20 de maio, às 19h, no Museu da Cerâmica Udo Knoff
(Pelourinho). Na exposição, a relação entre o contexto da cidade e a
iconografia do candomblé ganha destaque através do grafite e dos agdás -
vaso cônico feito de cerâmica. Promovida pela Diretoria de Museus do
Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Dimus/IPAC), a
montagem reúne 24 peças que retratam o universo religioso de matrizes
africanas e indígenas.

"A cerâmica, que é um elemento normalmente utilizado apenas por ceramistas,
vira suporte para o grafite de Denissena, reunindo tradição e
contemporaneidade, religião e arte", diz o diretor de museus do IPAC, Daniel
Rangel. "A correria do dia-a-dia não deixa as pessoas reconhecerem o valor
do grafite e da religiosidade expressa nas oferendas às divindades que são
colocadas nos agdás. Quando inserimos esses dois elementos em um museu, um
lugar dedicado a arte e a contemplação, eles ganham outro status. Cria-se
uma oportunidade para que as pessoas cultivem um outro olhar e se desprendam
um pouco de seus preconceitos", acredita Denissena.

A exposição 

Em "Agdás urbanos na contemporaneidade", Denissena mostra ao
público o fruto de quase 10 anos de pesquisa e imersão no universo do
candomblé de nação Angola, trazendo elementos de identidade da religião. A
tradicional cerâmica é o suporte de todas as criações. Além de ter uma
função culinária (no preparo de moquecas, por exemplo), é um objeto muito
presente em liturgias, utilizado em rituais de oferendas aos orixás. E
stabelecendo uma ligação entre a contemporaneidade e tradições religiosas, o
agdá, variação do termo alguidar, é policromado através da técnica do
grafite.

O artista recorre a variados elementos que mantêm relação com as divindades:
cores, como o vermelho de Xangô, o branco de Oxalá, assim como objetos que
fazem parte da iconografia: o arco e a flecha de Oxossi ou as folhas de
Ossaim. Outros elementos do cotidiano também servem de metáfora para o
significado de cada entidade. Assim, o telefone simboliza Exu, o orixá
mensageiro; o fósforo representa Xangô, que tem o fogo como elemento, e os
gêmeos erês (cuja palavra significa "divertimento") são representados por
brinquedos - bonecos da linha Playmobil.

No trabalho, é a partir dessa associação de símbolos que Denissena
representa um recorte das mitologias de matriz africana. "Embora na arte
contemporânea seja muito comum o uso de elementos universais, em minha
produção, sempre busco um diálogo com a cultura brasileira. A arte também
tem uma função social de resgate de manifestações culturais. Nesse sentido,
creio que representar o candomblé no Museu Udo é uma forma de valorizar o
que é nosso", defende o artista.

O artista

Além de grafiteiro, o soteropolitano Denissena é
ilustrador e escultor. O "operário cultural", como ele mesmo se
classifica, também atua como *designer* é e educador social. Desde
2000, é voluntário no Projeto Cidadão, uma ONG situada no bairro do
Cabula (Salvador), onde iniciou sua paixão pelo grafite. Ainda como
arte-educador, Dênis já atuou em outras instituições como Liceu de
Artes e Ofícios da Bahia e a ONG Eletrocooperativa.

É grafiteiro integrante do Projeto Salvador Grafita, da Prefeitura Municipal de
Salvador, desde quando o projeto foi criado, em 2005. Versátil,
Denissena também projeta cenografias para *shows* e espetáculos
teatrais, decoração de ambientes. Entre seus trabalhos mais recentes
está a ilustrações do livro "Histórias de negro" (Edufba, 2009), de
Ubiratan Castro.

Em julho de 2009, o artista expôs na Galeria Okioiei, em Tóquio, e, em
2006, participou do 33º Salão Internacional de humor de Piracicaba
(SP). A coletiva "Muros" (Galeria Solar Ferrão /setembro-novembro de
2009), a coletiva "Arte Graffiti na Galeria" (Conjunto Cultural da
Caixa / abril-maio de 2008) ou mesmo "Vira-raça", mostra de fotografia
que integrou o 3º Festival Nacional Agosto da Fotografia (Terreiro Ibá
Oji Tundê / agosto de 2007), são algumas das exposições no currículo
de Denissena.