Cultura

PROFESSORES UTILIZAM CELULARES PARA ESTIMULAR ESTUDO DOS ALUNOS

Vide
| 14/05/2010 às 13:16

Lei polêmica em São Paulo proibiu o uso de celular em escolas estaduais, em 2008. Mas refutando a ideia de que aparelho de mídia móvel é algo a ser banido das instituições de ensino, muitos educadores estão utilizando a tecnologia para estimular os estudos dos jovens. Esta é a filosofia do projeto Minha Vida Mobile, que surgiu em Minas Gerais, em 2006, começou a ser desenvolvido em São Paulo e agora tem edição no estado da Bahia. O MVMob-Ba começou em Salvador, no dia 31 de março, seguiu para Candeias, Simões Filho e Lauro de Freitas, onde colheu o aval de diretores, professores e, claro, estudantes. A iniciativa tem o apoio financeiro das secretarias de Cultura e da Fazenda, do Estado da Bahia, via Faz Cultura, além do patrocínio da Vivo. A próxima edição acontece em São Francisco do Conde, no dia 19 de maio, na Escola Martinho Salles Brasil. 

"Eu não conhecia o projeto, mas via potencialidade, imaginava que a Vivo fazia alguma coisa educativa. Pra mim, foi maravilhoso", avalia Antônio Lídio dos Santos Filho, diretor da Escola Yêda Barradas Carneiro, em Candeias. "Para mim demonstrou que o celular pode ser utilizado em sala de aula, voltado para o pedagógico. A professora de português gostou tanto dos resultados, que já está desenvolvendo uma atividade com celular na classe. Foi fantástico. Conscientizou os alunos sobre o uso do celular e eles comentaram em casa, as famílias estão acompanhando os trabalhos dos filhos no site", conclui.

Estímulo a mais para estudantes de 10 a 18 anos que vem participando das oficinas, os trabalhos produzidos por eles, nas linguagens de vídeo, áudio, fotografia e texto são imediatamente postados no portal do projeto ((www.mvmob.com.br/ba). O MVMob-Ba está presente em mais de 60 redes sociais, com atuação destacada no Orkut, Facebook, Twitter, Flickr, MySpace e Cultura Digital, entre outros. O conteúdo publicado pode ser compartilhado com mais de 200 redes.   

Rebolation - Na quarta-feira, 12 de maio, os arte-educadores do MVMob-Ba realizaram duas oficinas, de quatro horas cada, em Lauro de Freitas. Pela manhã os alunos desenvolveram temáticas como a Violência nas escolas (audiovisual, em formato de telejornal), uma paródia musical baseada na música Sábado de sol, um ensaio fotográfico sobre as diferentes tribos que circulam pelos corredores do Colégio Estadual Hermano Gouveia Neto. À tarde, entre as produções, foi realizada uma rádio-novela, com violão ao vivo.  

Reflexo da cultura local, os trabalhos tiveram como marca o jeito de falar e músicas do baiano. Em projeto realizado em stop-motion foi utilizada a técnica de animação com massinha de modelar para retratar figurinhas típicas, como cantor, percussionista e garotas com roupas sensuais em um show do Parangolé. A trilha sonora utilizada foi o Rebolation e o nome do trabalho buscou inspiração na escola: Hermanolation. Os estudantes ainda desenvolveram uma enquete sobre a temática O que você quer ser quando crescer?

Cartilha - Cleidson Carlos Cirino Santos, de 18 anos, estudante do 3º ano, considera legal aprender a mexer com o celular para fazer trabalhos em sala de aula: "É um equipamento que a gente usa todo dia, para conversar, ouvir música, nunca tive ideia de fazer algo para me ajudar na escola".  Naiara Araújo, com 16 anos, explicou que já fazia fotos, filmes e colocava na pasta do Orkut. "Agora eu vou poder colocar meu trabalho no portal do MVMob e mais pessoas vão poder ver o que faço. Vou pesquisar na cartilha", planeja.

        

A estudante refere-se à "cartilha" que foi criada para auxiliar o trabalho dos arte-educadores e que teve assessoria pedagógica de Roberta Scatolini, para quem "o projeto incentiva o trabalho em grupo e qualifica o sujeito como alguém que pode agir de forma consciente, crítica e criativa". O material didático é distribuído aos jovens que participam das oficinas.

Antes de acolher o projeto MVMob no Hermano Gouveia Neto, a diretora Eliete dos Santos Lima disse que considerou a iniciativa tão peculiar, que realizou uma ação para o Dia das Mães utilizando celulares com os alunos. "Cada turma fez um clipe, que foi exibido para as homenageadas. Elas gostaram muito e selecionamos, entre os alunos com mais habilidade e interesse, os que iriam participar das oficinas pela manhã e pela tarde. Agora quem ficou de fora está pedindo para ter mais uma edição. E os professores adoraram a ideia, tanto que alguns pediram para participar também", conclui.    

O projeto Minha Vida Mobile - MVMob foi criado pelo jornalista e gestor cultural Wagner Merije. Ele comenta que a intenção das oficinas é estimular alunos e professores a se apropriarem das novas tecnologias e desenvolverem habilidades e capacidades tais como interpretação, síntese, criticidade, criatividade, análise, além de incentivar o interesse pela pesquisa e pela construção de linguagens artísticas.

"A adesão entusiástica de uns veio como estímulo, enquanto que para os mais resistentes foi preciso mostrar que a escola é o melhor lugar para debater sobre os benefícios das novas tecnologias e seu impacto na educação", registra o mentor. Na Bahia, a coordenação de audiovisual é de Ducca Rios e a produção executiva de Maria Luiza Barros. Depois de São Francisco do Conde o projeto segue para Camaçari e Santo Amaro.