Cultura

FEIJOADA SERGIPANA EM BUSCA DA INFORMAÇÃO LIMPA, POR MARCO GAVAZZA

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| 14/04/2010 às 08:15
O fato não distorcido é uma busca incessante dos leitores
Foto: Casadogalo
Nas democracias capitalistas, em que o Estado insiste em concorrer com o capital ou meter o dedo em tudo, as coisas resultam meio híbridas, como uma feijoada sergipana, que a gente não sabe ao certo se é uma feijoada ou um cozido. Essa sombra estatal sobre o capital se alastra por todos os setores e sem dó nem piedade, chega até a comunicação.

Nos sistemas totalitários recebe-se diretamente dos órgãos responsáveis a indicação do que deve ser notícia, do que precisa ter destaque e do que deve ser ignorado. É um método em que se extingue a liberdade de opinião e as posições ideológicas de qualquer jornalista, repórter, comentarista ou de quem quer que seja e por extensão, do próprio veículo de comunicação, que passa a ser uma publicação oficial dos detentores do poder. É primitivo, porém é claro, explícito. É assim e quem não gostar que vá fazer outra coisa.

Nas democracias com sombras, onde o capital é mais frágil exatamente por conta da ingerência do Estado, de forma nem sempre direta, também é assim, mas é diferente. Dá pra explicar.

A partir do momento em que a comunicação engatinhou no sentido de tornar-se uma ferramenta de informação em larga escala, ela gerou custos. Um simples cartaz anunciando o leilão de um novo lote de escravos chegados à Roma antiga, precisava ser pago para que alguém o desenhasse. De lá até hoje, com as coberturas em real time da televisão em qualquer lugar do planeta, estes custos alcançaram patamares difíceis de imaginar, mas que continuam precisando de que alguém os pague.

Quando consideramos um sistema democrático em que o Estado cumpre apenas a sua função social e de instrumento regulador dos vetores do crescimento, vemos que nele o capital se fortalece e banca folgadamente os custos da comunicação de massa como anunciante. Isto permite que jornais, rádios, televisões, revistas etc. possam operar de forma moderna e eficaz, mantendo a sua independência de pensamento. Para a sociedade, são veículos de informações com credibilidade e posicionamento claro a respeito das questões que afetam o universo em que atuam, sejam quais forem suas orientações editoriais.

Já nas democracias com sombras e outras interferências silenciosas sobre o mercado, acrescidas do comportamento de grupos de gestores públicos devoradores de impostos e recursos públicos em benefício próprio, o capital se enfraquece, o poder aquisitivo da população se esvai, os anunciantes minguam. Neste momento, o Estado transforma-se em anunciante "salvando" veículos de comunicação ou impedindo-os de entrar em estado terminal. Exatamente neste instante se levantam as cortinas para o magnífico espetáculo de ilusionismo coletivo.

Ontem escutei numa rádio local, em um único intervalo comercial, quatro inserções de propaganda do governo. O quanto representa isso ao longo de todo o dia e de todo o mês, em receita para a emissora? Uma grana considerável e que ela não encontra vindo de anunciantes do setor privado -do capital- pois este além de não suportar tanto investimento, o faz de maneira planejada. A verba de propaganda sai das próprias vendas

Junto com esta destinação estatal de verba para rádio, jornal, televisão ou qualquer outro veículo de comunicação de massa que também contenha jornalismo (diferente dos outdoors, busdoor, mkt direto e outros veículos que são exclusivamente publicitários) chega um recado implícito e silencioso que diz: "Fale bem de mim e não deixe ninguém falar mal senão você perde essa verbinha".

Esta é a hora em que o dono -ou os donos- do meio de comunicação de massa percebe que ou se transforma imediatamente editorialmente num admirador autêntico do Estado-Anunciante ou caminha a passos largos para a falência. O que você escolheria? Não precisa responder.

Bem, esta é a forma indireta com que o Estado democrático com sombras, que resiste a deixar o capital ocupar seus espaços porque precisa alimentar uma máquina insaciável, consegue dominar os veículos de comunicação. Até aqui não contei novidade alguma. Qualquer pessoa com o mínimo de informação sabe que é assim.

A grande questão é: onde então a sociedade pode buscar a informação limpa, o fato não distorcido, a opinião verdadeira, mesmo que não concordemos com ela? Onde o cidadão vai encontrar a denúncia fundamentada sobre as coisas que estão acontecendo na sua cidade, no seu estado, no país e que afetam a sua vida? A qual interpretação dar preferência diante de uma questão em que ele tem dúvidas? Restou-nos, nas democracias cinzentas, após a evolução tecnológica dos veículos de comunicação de massa, a internet como única fonte possível de informação democrática, segura e isenta.

O custo de manutenção de um blog é infinitamente inferior ao de qualquer meio de comunicação de massa e se o comunicador não for exigente, consegue montar o seu blog de graça através de alguns softwares free. Poderá assim expor suas opiniões independente de pressões financeiras. Se o blogueiro é um jornalista de longo curso, ele terá acesso a informações novas, fontes confiáveis e métodos de confirmação garantidos. Neste caso, além da opinião pessoal de quem assina o blog, o internauta terá também à sua disposição a informação limpa.

O complicador disso tudo está no fato da internet ser também e ao mesmo tempo, um vasto universo de mentirosos, malucos, maníacos, interesseiros, exploradores e tantos outros tipos de igual calibre que seria impossível listar aqui. Como saber então em que águas podemos navegar? Filtrar tudo isso é muito complicado.

Alguns nomes são aparentemente inatacáveis, como Noblat, Cláudio Humberto, Reinaldo Azevedo e outros, em nível nacional. Localmente, cada internauta tem sua preferência e confiança em nomes já definidos. Ainda assim, às vezes é difícil saber quando eles estão sendo eles mesmos.

Creio que ao cidadão interessado no que está acontecendo ao seu redor num raio superior a 1 km e espera por uma visão absolutamente nítida, surge em primeiro lugar o Google. Ele digita o assunto que o interessa no momento, sai lendo tudo o que aparecer no resultado da busca e em seguida comprara com o que está circulando na cidade. Depois usa o bom senso para chegar às suas próprias conclusões. Ou seja: vira uma espécie de jornalista doméstico.

Tempo para fazer tudo isso? Bem, você pode contratar uma assessora para fazer a clipagem e a primeira filtragem, passando para você aquilo que mais se aproxima da realidade. Em seguida, você faz a segunda leitura, registra os destaques e compara com o que está no noticiário formal.

Pensando bem, porque v. não cria logo o seu blog e faz a sua própria notícia?