Cultura

461 ANOS DE SALVADOR: BECO SEM SAÍDA NA LITERATURA, POR TASSO FRANCO

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| 28/03/2010 às 22:09
Caminho de pedras e beco sem saída na cidade do já teve literário
Foto: BJÁ
    Salvador completa 461 anos como cidade sem lançamentos literários que possam ajudar a compreender sua história e sua identidade. Aliás, diante de posturas de alguns segmentos reinantes na atual gestão da cultura oficial do Estado, os portugueses estariam fora da história da localidade e os africanos resolveram tudo. Tomé de Souza não teria existido e muito menos o mestre-de-obras Luis Dias, arquiteto inicial de implantação do projeto fortaleza, e a comunidade não teria sido lusófona na planta inicial como foi e ainda é até os dias atuais.

           
   Os portugueses pouco falam e o Gabinete Português de Leitura é uma múmia assim como o Consulado Português. De vez em quando dão um coquetel numa data festiva e nada mais. O último bom lançamento que aconteceu em Salvador sobre a cidade data ainda do "reinado de Dom Paulo Gaudenzi I" na Secretaria da Cultura, ano 2004, com o precioso livro de Luiz Walter Coelho Filho intitulado "A Fortaleza do Salvador na Baía de Todos os Santos". Lá se vão, portanto, seis anos.

           
   Não me recordo, posso até estar enganado, que tenha acontecido algo parecido em densidade de dados e conhecimento da história, como o livro de Walter Coelho Filho. É só lembrar que Salvador durante as comemorações dos 200 anos da chegada da família Real Portuguesa a Bahia e ao Brasil, em 2008, se comparado ao que foi publicado no Rio de Janeiro e até em São Paulo, esta capital que não tem mar nem naus, passou vergonha.

           
    E vergonha das grandes porque foi aqui nas terras da Bahia que a Corte aportou pela primeira vez no Brasil, primórdios do Reino Unido Brasil Portugal, por pouco Portugal não se transformando em colônia do Brasil, o que seria um fato da maior dimensão. E olhe que tem muita história para ser contada e ninguém narra porque faltam pesquisadores, estímulo e incentivos e por ai segue essa pasmaceira cultural que se tornou a cidade.

           
    Um exemplo dessa gritante situação foi a saída do poeta Antonio Lins da Fundação Gregório de Mattos, o órgão da estrutura oficial municipal que cuida dos bens culturais de memória da cidade, o qual, disse que se mandaria para outro sítio porque acá ninguém está interessado em cultura e sim em pagar coquetéis de acarajés e abarás, enquanto o patrimônio histórico municipal está entregue às traças.

           
     Não entro em mérito de questões dessa natura porque não sou gestor municipal e poeta estou longe de ser, nem tenho a mínima vontade de versar, pois, me faltam competência e humor. Mas essa situação retrata bem o que se passa na Cidade da Bahia. O Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) repleto de demandas, sem recursos, sem projetos editorias mais consistentes faz o que pode. Editoras locais são poucas e magras. As que existem passam dificuldades e só sobrevivem porque se apegam a Lei Rouanet e a benefícios oficiais.

           
    Salva-se, hoje, o projeto editorial que vem sendo executado no "reinado de dom Marcelo II", na Assembleia Legislativa, herança do "reinado de dom Ferraz V", e dos seus conselheiros Paulo Bina e Délio Pinheiro, assessor de imprensa mor e ouvidor de feitos literários, que têm organizado boas e interessantes publicações. A mais recente delas, reeditando Cascalho, de Herberto Sales, obra prima da literatura brasis, que, se nada tem com a Cidade da Bahia pelo menos é um alento nessa terra de seja lá o que Deus quiser.