Cultura

CRÔNICA: O PEIXE DA SEMANA SANTA DOS PREFEITOS, POR TASSO FRANCO

Assim diz o povo
| 22/03/2010 às 09:28
Tem que dar o peixe e cumprimentar o eleitor para entrar no reino dos céus
Foto: Arquivo
 

Os produtos típicos da mesa à Semana Santa já estão com preços nas alturas. O bom e saudável vermelho atingiu R$17,00 o quilo e só está acessível à classe média alta. O bacalhau magro, o mais barato, alcançou R$32,00 o quilo e aquele bacana vindo da Noruega para as melhores mesas brasis, o filezudo, está por R$70,00 e só dá pra comprar 200 gramas e olhe lá. De sorte que ainda resta a nosotros a velha e bondosa corvina a 9 mangos, mas ainda encontrada por 7 pilas em algumas balanças.


      Nada assustador para as famílias pobres do interior da Bahia porque se tem um costume que não tem TSE, TRE, STJ e ou qualquer supremo desses da vida, inclusive aquele que rasgou meu diploma de jornalista da UFBA depois de tantos anos de estudos, que evite a distribuição do "peixe da semana santa" pelas Prefeituras municipais. É claro que nosso João não vai cometer uma "barbaridade" dessa natureza na capital porque vão colocar o "home" crucificado na cruz.


      Mas, no interior do Estado, aí não tem jeito. Até porque, se os nobres prefeitos e prefeitas não derem o "peixe da semana santa" estarão no inferno, assim diz o povo e agoura os ditos e ditas, sendo que os alcaides têm que fornecer a corvina, o baiacu, a piranha, a tilápia, a traira de açude, o peixe cachorro dentudo, seja já o que for para garantir a entrada no bendito céu. Entre perder o mandado numa denúncia junto a um tribunal pode até ser admissível, pois, o mais importante é garantir a entrada no reino de Deus.


      E como essa morada é eterna o prefeito, a prefeita vai ficar lá por resto de seu tempo, então é mais agradável morar com santos, anjos e São Pedro, quiçá dando uma palavrinha com o próprio Deus numa boa, residindo em ambiente limpo, arejado, ar condicionado, nas nuvens, do que habitar o caldeirão do inferno que é uma miséria, quente, fervendo, cheio de aranhas peçonhentas e ainda por cima com ferrões, espetos e outros tridentes nas mãos dos diabinhos e demos.

     

     Conheço um prefeito que pode não fazer obras por absoluta falta de recursos, porque é um sujeito sério, cumpre todas as obrigações com a Lei de Responsabilidade Fiscal, pode faltar alguns medicamentos básicos nos postos de saúde, pode atrasar os salários dos professores, agora, o "peixe da semana santa" é sagrado. E quando possível, com caixa da Prefeitura mais folgado, rola até uns garrafões de vinho São Jorge, porque o pobre também tem o direito de ser feliz.


      Ora, que pecado faz - diz-me ele - dar o peixe e o sangue de Cristo ao povo se isso reza na bíblica, e o Salvador multiplicou os pães e ofereceu corvinas na Galiléia, visto que no Sertão da Bahia nesse pedaço de terra de meu Deus, é muito pior do que na Cisjordânia, muito pior do que no Iraque, a necessidade é enorme pro pequeno, então não tem sentido esses doutores dos tribunais querem proibir tal iniciativa meritória.


      Também concordo com esse alcaide porque esse povo de tribunal ganha uma baba em dinheiro, agora mesmo saiu uma lista de supersalários que é uma coisa absurda, gratificações estratosféricas que dá pra comprar o bacalhau do bom, aquele que fica em destaque nos supermercados quase protegidos por seguranças, e o pobre curau também tem direito a corvina, a uma pimenta e um dendê, nem que saiba somente na semana que o povo cumpre a determinação de orar pela morte do Salvador e sua ressurreição.


      Pior esse gente bacana faz por aí e não acontece nada. Sêo Maluf, que é um político bastante conhecido, pode ser preso em 181 paises pela Polinter, menos no Brasil. Então, que a corvina da semana santa seja servida ao povo com vinho de garrafão, de preferência, Sangue de Boi, apelidado em francês pelo povo de "Sangue de Boá".