Cultura

A MORAL JUDAICO CRISTÃO E SEUS ATALHOS, POR MARCO GAVAZZA

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| 27/01/2010 às 07:23

Considera-se heroísmo morrer pela pátria e nunca matar pela pátria. Os Estados Unidos adoram espalhar pelo mundo fotos de urnas funerárias cobertas com a sua bandeira, descendo às dúzias daqueles aviões imensos.  Até o Brasil tem um monumento niemeyriano no Rio de Janeiro, o Túmulo do Soldado Desconhecido, homenageando aqueles que morreram na Itália durante a II Guerra Mundial. Vale acrescentar que curiosamente em todo o mundo este tipo de monumento recebe o mesmo nome.  


Entretanto dificilmente se encontra alguma homenagem pública aos que voltaram vivos depois de ter liquidado inimigos, exceto permitirem que eles marchem no dia Sete de Setembro abrindo os desfiles.


Toda esta distorção -ou no mínimo parcialidade- deriva da moral judaico-cristã, na qual matar é pecado, ainda que em tempo de guerra. Morrer, não. Antes que estes códigos fossem estabelecidos e que Moisés descesse do Monte Sinai para explicar ao mundo o certo e o errado, herói era quem aniquilava mais inimigos.


Julio César, o primeiro imperador romano, era aclamado por seus extermínios durante a conquista de territórios estrangeiros. Na Gália, com 10 legiões e 30 mil soldados ele matou mais de 120 mil gauleses. Aquiles entrou para a história porque conseguia sozinho reduzir à pó exércitos inteiros, afundar navios e derrubar fortalezas com as mãos, desde que lhe deixasse em paz o calcanhar.


Depois que Roma converteu-se ao cristianismo tudo começou a mudar.  Júlio II era considerado melhor guerreiro que Papa, mas foi um dos últimos "representantes de Deus na Terra" a empunhar uma espada, montar num cavalo e sair lutando por territórios romanos ameaçados. Daí pra frente matar tornou-se pouco louvável, mesmo que para ganhar uma guerra isso fosse -e continue sendo- obrigatório.


Com a modernidade, o culto aos mortos em batalhas cresceu mais ainda, como uma forma dos governos de desviar a atenção do verdadeiro painel dos conflitos, mostrando o quanto o inimigo é cruel e eles, não. E desviar um pouco do código judaico-cristão. Quando um soldado apertou um botão e deixou cair uma bomba atômica sobre Hiroshima, dando praticamente por encerrada a II Guerra Mundial, seu nome foi apagado dos registros e o Presidente Trumann, que deu a ordem para apertar o botão, passou a ser olhado meio de lado.


Hoje, mais de 60 anos depois, muçulmanos ainda se explodem por aí para matarem inimigos e são heróis cultuados em seus países. Morrer tornou-se oficialmente, uma honra.  O heroísmo está em morrer e não em matar, que é o objetivo real da ação.  James Bond dificilmente concordaria com isso.


Acho que na história moderna, Hitler foi o único a entrar na contramão deste comportamento. O Marechal Goebbels vivia catando pelas zonas de combate um soldado que matasse muitos inimigos para fazer filmes de propaganda com ele, exibir pela Alemanha inteira e transforma-lo em herói.  Como caçador de judeus -e por passatempo de cristãos também- Hitler não teria porque respeitar os seus códigos e assim herói nazista era aquele que matava mais.


A esta altura, os que ainda insistem em ser meus leitores devem estar querendo saber o que matar e morrer tem a ver com propaganda e comunicação.  Nada.  Tem a ver com distorções e desvios éticos e aí entra a propaganda. 


Quando você vai a uma festa usando um belíssimo vestido De La Renta,  emprestado por uma prima que tem muita grana,  não há qualquer obrigação de  anunciar aos presentes que o modelito não te pertence.  Se alguém te perguntar Pôxa, quanto custou este vestido? você pode simplesmente dizer que não lembra ou dar um valor qualquer aproximado. Mas se alguém perguntar Onde você comprou este vestido?  a coisa muda de figura.


Pelos conceitos que conhecemos de ética, necessariamente v. deverá explicar que não comprou em lugar nenhum porque não é seu, é emprestado. Mas, para a moral judaico-cristã, sempre há uma saída. Você poderá responder Este tipo de vestido a gente não compra, encomenda. Ou seja, sua resposta não é uma mentira total, mas está muito longe da verdade que deveria ser. 


A propaganda faz desvios semelhantes, escapando aqui e ali tanto do Procon quanto da ética.  Quando você corre até uma loja para comprar um TV de plasma 30 polegadas por apenas R$ 500,00 e ao chegar à loja ouve do vendedor  Que pena, acabamos de vender o último tem meia hora  você não pode questionar a propaganda nem acionar o Procon. E como v. já está lá mesmo, que tal olhar aquele outro modelo mais moderno e só um pouquinho mais caro?


A mesma coisa acontece quando você vai atrás do tênis importado baratíssimo e na hora de comprar só tem tamanho 34.


É a moral judaico-cristã, elaborada milhares de anos atrás e que hoje tenta sobreviver de meias mentiras. E todos nós sabemos que duas meias mentiras não formam uma verdade.  A propaganda, assim como algumas instituições que compõem regimes democráticos republicanos, costuma utilizar estes artifícios com freqüência.  Muitas vezes em parceria.


O problema é que depois de correr até estas lojas duas ou três vezes e sempre ouvir que o último foi vendido agora ou esperar várias horas por um prato de macarrão e quando restaurante já vai fechar, os garçons já estão retirando as mesas e o cozinheiro já foi embora, o maitre vem te dizer que agora vai sair o peixe maravilhoso que o senhor pediu, dificilmente alguém volta à loja ou ao restaurante.


Parece incrível que ainda existam pessoas acreditando que estes truques possam dar certo, mas existem e a explicação para sua existência pode ser encontrada numa frase de Gandhi, tão genial quanto óbvia: a mediocridade não consegue reconhecer nada além dela própria.


Assim como a moça do vestido De La Renta não percebe que todo mundo no salão de festas sabe que aquele vestido não pode ser dela.