Cultura

O QUE NIZAN TEM A VER COM O HAITI?, POR MARCO GAVAZZA

vide
| 20/01/2010 às 04:00
As surpresas com o terremoto que destruiu o Haiti
Foto: efe

A semana que passou foi exaustiva.  Na 3ª feira um terremoto praticamente tirou do mapa a cidade de Port Aux Prince, capital do Haiti, país onde já quase nada existia além de miséria e um grupamento de soldados brasileiros tentando manter a calma entre haitianos movidos principalmente por um velho princípio tchecoviano: um cão faminto só tem fé na carne. 


O presidente Lula declarou ter sido surpreendido pelo terremoto. Acredito. Lula está tão convicto de ser uma das mais importantes autoridades mundiais que deve considerar inaceitável um terremoto manifestar-se sem antes informá-lo de suas intenções.  Com tremores nas mãos atingindo uns 6 graus na escala Ricther, resultado ainda das férias em Inema, Lula liberou dinheiro, recursos humanos, logísticos e alimentos para os que insistiram em sobreviver no Haiti. 


Zilda Arns que também não foi avisada do terremoto morreu dentro de uma igreja haitiana, fazendo o que fazia há quase 30 anos, que é lutar pela defesa de inocentes crianças desembarcadas neste planeta encapetado.  "Foi uma morte linda", declarou D. Evaristo Arns, seu irmão e Cardeal Arcebispo Emérito de São Paulo.  Cada um enxerga beleza onde bem entende. 


Também veio de São Paulo dias depois e também cutuca o tema beleza a declaração que entupiu o Twitter de respostas indignadas, com aqui e ali, discretas manifestações de apoio. O ex-publicitário Nizan Guanaes (e por isso eu puxo o assunto aqui) resolveu detonar Salvador com declarações pretensamente criativas e acabou por ser apenas agressivo, vazio, chato e despropositado.


Na verdade Nizan há bastante tempo parece estar precisando de ajuda psicanalítica. A cirurgia para redução do estômago parece ter afetado seriamente os neurônios habitantes daquela área (provavelmente a maioria) levando-o a comportamentos no mínimo inusitados.  Junto com dezenas de quilos, Nizan parece ter perdido senso. Sua conhecida hipocondria saltou diversos níveis e ele passou a carregar no porta-malas do carro um desfibrilador, para o caso de um súbito ataque cardíaco, além de submeter o motorista à prática de primeiros socorros, transformando-o em paramédico. 


Tendo há muito abandonado a criação em propaganda para correr atrás do título de 10º maior empresário do mundo, Nizan está descobrindo que isso não é tão simples quanto temperar idéias de sua equipe criativa e ganhar leões de ouro em Cannes.  A perda do apoio financeiro de seus maiores mentores desde os primeiros dias da DM9, os banqueiros Daniel Dantas e Braguinha; a malfadada saída da propaganda para a web via IG e o sempre amargo retorno à casa; um inesperado casamento; a perda recente de diversos clientes importantes (de seus negócios, apenas a agência África vai bem das pernas, graças à eficiente gestão administrativa de Sergio Gordilho) e outros percalços devem ter tirado do eterno Shirley Temple criança-prodígio o que lhe restava de  discernimento.


A esta altura, pode-se perceber sem dúvidas que não sou exatamente um fã de Nizan Guanaes. Nunca fui e respeito quem o é, porém percebo nele muito mais um voraz negociante, devorador de idéias e pessoas que um puro publicitário. Não deve ser a troco de nada que diversos nomes relevantes na propaganda brasileira declinaram de convites para trabalhar em suas agências, bem como diversos outros que nelas trabalhavam, abandonaram os empregos da noite para o dia. 


Mas voltando à semana em foco, Nizan depois de perder a concorrência para a comercialização do carnaval de Salvador, achou que deveria defender a cidade, atacando-a. Apontou problemas que todos nós estamos cansados de conhecer e lutamos diariamente, dentro deles, para tentar resolvê-los. Buscando tornar sua mensagem mais didática, recorreu ao estilo metafórico do presidente Lula e para dizer que Salvador "fingia ser uma coisa que não é", comparou-a com Bell, do Chiclete, "um careca que finge ter tranças". Palavras dele e que estão gravadas em milhões de HD's espalhadas por aí.  E seguiu atacando. Só faltou dizer que o instrumento de cordas mais adequado ao Bell é a forca.


Também não sou fã do axé music, nem do Chiclete, nem do que atualmente é o Carnaval de Salvador. Logo, não sou fã do músico Bell, independente dele ter ou não cabelos na cabeça. Porém conheço a pessoa Bell desde quando ele trabalhava para o estúdio WR, de Wesley Rangel, musicando e arranjando jingles para o mercado publicitário, com talento e amabilidade. Não tenho nem nunca tive aproximação maior com ele, mas sempre percebi em Bell uma pessoa dedicada e -apesar de artista e ídolo de multidões- reservada. Passado o terror do Carnaval, pouco se ouve falar de Bell e pouco ele tem a declarar, muito menos sobre assuntos que não são da sua especialidade.  Como Nizan, ele também é um bom empresário e fez o seu patrimônio a partir da sua banda e do seu sucesso, o que não se constitui em crime algum. Ao contrário de Nizan entretanto, trabalhou mais no estilo low profile, agregando solidez ao que possui, principalmente ao seu nome, sem buscar ou provocar polêmicas. 


A declaração de Nizan além do incoerente ataque a Bell, é profundamente vazia. Salvador não está tentando fingir nada. Suas feridas estão abertas e expostas, à espera de solução. Gente que aqui vive e trabalha, denuncia e discute seus males diariamente. Formulam-se alternativas e buscam-se instrumentos para resolver os problemas. Enquanto isso o povo de Salvador segue amando a cidade assim mesmo, procurando viver como pode, inclusive pulando atrás do trio de Bell. 


É muito fácil ser baiano da gema quando se mora em Nova Iorque, promove jantares de arrecadação de fundos para a Fundação Clinton e desembarca aqui de vez em quando para encantar platéias de jovens estudantes e levar algum lucro para a matriz. 


Difícil é ficar aqui e ajudar a salvar a soteropolitana Port Aux Prince, se como disse Caetano Veloso, o Haiti é aqui. 


Na verdade, como bem replicou alguém no Twitter, Nizan pertence à classe dos "baianos que se exilaram em São Paulo e agora dizem a Salvador o que ela poderia ter sido se eles não tivessem ido".  Na 5ª feira a Lavagem do Bonfim se encarregou de deixar tudo limpo com água de cheiro. Espero que esta semana seja melhor e que Nizan passe a lembrar da direta observação de D. Juan Carlos, rei de Espanha, ao maluco do Chaves: "Porqué non te calas?"