Cultura

É NECESSÁRIO OUVIR AS CANÇÕES DO MAR EM 2010, POR ZÉDEJESUSBARRÊTO

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| 01/01/2010 às 09:27
Oxaguian, o comandante de 2010
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A fila do ferry foi pra lá de Roma. Rodoviária loucura. Vôos atrasados. Hotéis lotados. Todos querem ir. E você vai pra onde? Um tumulto na BR-Brasilgás a cada parada de buzu. Todos precisam pongar.


Do Natal até o fim do ano aconteceram mais de 100 assassínios na Bahia. Nunca se viu. O governo diz que vem mais viatura, mais armamentos, que a guerra é tirana, e tome-lhe bala.


É preciso comprar, comer, beber, dançar. Temos ânsias de festança. Vai buscar... correndo! E ligeiro.


Tão sós, seguimos em bandos, aos soluços (vômitos?), sob os estímulos vigentes,

no ritmo que ecoa.


Filas, correria, estresse, euforias, foguetes, champã, regalos, procuras, desejos, promessas, (des)encontros... Quero mais, não há tempo de temer a sorte.

Quero mais... é só o começo, vem aí muita festa, carnaval.


É só quentura, barril!

Tribais rituais. Celebramos o quê? O gregário humano.

Gosto de perigo no ar, aquele travo de felicidade, coletivo.


É noite.


Pés descalços na areia úmida que reflete o dourado da lua cheia,

brinco de seguir sozinho pisando nos bordados das franjas  brancas que as ondas vindas

do mar escuro vão desenhando na praia. Tantos!

De longe, o rumorejar das águas, um pulsar profundo que se espraia como um

expirar cansado.

Belo, sedutor.

É necessário ouvir as canções do mar.

O que nos dizem as águas.

Bença mãe.


(31dez/2009)


*


Agulhadas na fé


O cardeal arcebispo primaz do Brasil, Dom Geraldo Majella, autoridade maior da Igreja Católica Apostólica e Romana, na Bahia, foi visitar no hospital o menino agulhado pelo padrasto. 


O ato de enfiar cerca de 30 agulhas numa criança de dois anos chocou.

Entendo que por ignorância (inexplicável, no caso) o noticiário falou de um ritual religioso, de  participação de uma  rezadeira ou mãe-de-santo, coisa de magia-negra.

O noticiário televisivo, mal informado ou de má fé, também chocou.

‘Não existe religião verdadeira que pregue ou faça o mal', disse o cardeal.


*


Mãe Stella de Oxóssi, ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, tradicional terreiro de candomblé de nação keto/nagô fundado por Mãe Aninha  em 1910, também falou com autoridade e serenidade de sacerdotisa:


‘O candomblé, religião dos Orixás, não faz mal às pessoas. Nosso compromisso é com o bem e a verdade. Cuidamos do espiritual'.


Mãe Stella deixou claro que esse fato, chocante, não tem qualquer ligação ou referência com a crença nos Orixás. Dela é a mensagem, que deve ser refletida sobretudo pelos responsáveis pela comunicação, pela informação:

"No candomblé não existem esses tipos de rituais com agulhas, nem existe magia negra na religião. O próprio termo já é preconceituoso".


 A Ialorixá ainda está perplexa com a invasão do centenário terreiro de São Gonçalo do Retiro, numa noite desse dezembro que se finda, por um grupo de vândalos que fizeram um arrastão, invadiram locais sagrados, derrubaram portas, profanaram espaços e objetos do culto, saquearam casas...  A roça do Afonjá é uma comunidade.

Quem terá sido?  Voltarão na madrugada escura?

          

O povo-de-santo da Bahia merece  respeito.

E proteção. Cuidados.

Terreiros são locais sagrados.

Como são as catedrais, as sinagogas, as mesquitas...


Que seria da Bahia, nossa Mãe Preta, não fosse seu povo-de-santo?


*

Dois mil e dez me chama.

Acudam.