Cultura

MANIFESTO EM DEFESA DO LIVRO E INGRATIDÃO BAIANA, POR ZÉDEJESUSBARRÊTO

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| 18/11/2009 às 11:22
A ingratidão da Bahia com seus filhos é impressionante
Foto: Simplementepoeta
   Estamos às portas de 2010 e a verba destinada aos autores e editoras vencedores do Edital 2008 da Fundação Pedro Calmon / Secretaria de Cultura do Estado não foi liberada e nem se tem notícia.


   Os projetos vencedores foram anunciados no Diário Oficial, nos primeiros dias de agosto. Desde então, espera-se para a edição dos projetos, os livros contemplados.

Em vão. Não adianta e-mails, telefonemas, nada. Ninguém informa nada.


   A espera torna-se uma agonia, em função dos compromissos assumidos, do final do ano, do chamado ‘exercício findo'.  Nada, nem um alô, nenhum raio de esperança.

E o tititi rasteiro alastra-se, sem que ninguém assuma um ai.  ‘Não há verba', ‘o governo não está pagando', ‘nenhuma perspectiva', ‘ tão guardando a grana para a campanha de paroano', ‘ a Fazenda não está liberando nada' ...     Calote geral?

  Ora, nem é tanto dinheiro assim e fazer e editar livros é uma arte nobre... e essencial nesta Bahia de uma cultura tão rica e que já foi tão pródiga.  Hoje em dia, autores, gráficas e editoras vivem a mendigar... muitas atreladas aos Governos para não fechar  as portas ou morrer de fome.   Ah, fica um sentimento de frustração imeeeenso!

Mas... e livro rende voto ?


  O que se sabe é que o dinheiro sempre aparece para projetos que nada têm a ver conosco, com o fazer local, com a cor de nossa pele. Como a caríssima exposição interativa de uma ‘artista' européia que recebeu uma carta do amante dando-lhe um fora, e...  ela, muito doída e sabida, transformou a amargura num evento pra ganhar dinheiro. 

Ora, pois,  homi quá sinhô me deixe!

Mas é só um exemplo, entre tantas instalações que aparecem por aí e nada dizem.


  Bem, voltando à questão da verba do Edital de 2008 (!!!)  a situação é tão vexatória que  os editais de 2009 sequer foram lançados. Como, se nem falam em pagar os vencedores de 2008, não é mesmo?


  O mais estranho nesse caso é que, a despeito das afinidades político-eleitoreiras, nesse campo da cultura a nossa histórica Bahia vai na contramão do país. Enquanto o ministro Juca Ferreira, baiano, anuncia medidas eficazes estimulando a autoria, a edição e a leitura de livros...  - essenciais na formação dos jovens - , por aqui ... editores, gráficas e os autores novos padecem.   O autor baiano tem de se mudar, buscar editora no Sul.


  As editoras vivem à míngua. As gráficas, a absoluta maioria de má qualidade, penam. As livrarias fecham as portas, buscam diversificar as atividades para sobreviver...

E assim vamos nós, viva o bundalelê, o carnaval vem aí, pra quê mais?


                                                     *


  Na semana passada, ainda sem fugir do tema ‘cultura', a Arfoc comemorou 60 anos e sua nova diretoria (Luis Hermano, Walter Lessa...) realizou um encontro na Câmara Municipal com a presença de Evandro Teixeira, de Sérgio Vital Jorge - fotógrafos reconhecidos e premiados mundialmente -, quando foi feita uma homenagem ao  decano Gervásio Batista, fundador da Arfoc, o fotógrafo dos presidentes da República, de Getúlio Vargas a Lula, baiano que é uma história viva. 

  Pois bem, o plenário da Câmara estava quase vazio. Neca de vereador, neca de prefeito, neca de ninguém da área cultural do Estado.  Nenhum reconhecimento. Ah, Bahia tão ingrata com seus filhos!


                                                 *

  O artista plástico Emanoel Araújo fala disso na bela e forte entrevista que saiu na revista Muito do jornal A Tarde, nesse fim de semana. Leitura obrigatória. Viva Emanoel !


  A gente precisa tomar vergonha. A Bahia precisa resgatar sua identidade, dar valor à sua história, ter orgulho de sua negrice, de sua branquice, de sua caboclice, de sua mistura.

Ou viramos um lixo  de rebolados e gritinhos em cima de trio-elétrico.


   Os livros servem para perpetuar a cultura, o fazer de um povo.  A leitura forja uma civilização.


   Queremos Ruy (o Barbosa e o Espinheira Filho), queremos Castro Alves, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Joca, Aninha Franco ... 

A Bahia se alimenta de fé e de letras !!!   

Estão nos matando, aos poucos, de fome.


*


Pensamento digital,

gosto de livros.

Manuseá-los, guardá-los à vista.


Riscadas no papel

As palavras emanam outros encantamentos.

A mesma palavra dita

Soa perene, escrita.


Na tela inteligente

ela é fugidia

... Zás, mutante

Escorregadia.

Outra serventia !


O signo na pedra carrega uma eternidade

que não o poema escrito na areia.


*

E mais:


O grito chama a atenção

Assusta

Mas não tem o poder de um sussurro

Seduz


Impregnamos de força as palavras ...

escolhendo-as, formatando, sonorizando

engatando-as

enfeitiçando-as com o pensamento

soprando-as ao vento

ou calando-as

a curar nos barris dos sentimentos.  



*

Liberdade é conhecimento.

Ler liberta

Leia livro, seja livre !  


*

Outra:

Não é o tamanho da palavra...

É a grandeza do seu dizer.

Amor e paz

Só.