Cultura

PAINÉIS DA SANTA CASA RECUPERADOS RETRATAM HISTÓRIA DO BRASIL COLÔNIA

Veja
| 17/11/2009 às 10:14
No próximo sábado, 21, a Santa Casa reabre a área para visitação pública e pesquisas
Foto: Santa Casa

No ano do seu 460º aniversário, a Santa Casa de Misericórdia da Bahia promove neste sábado (dia 21), às 18 horas, uma solenidade no Museu da Misericórdia, para  entregar à população os painéis de azulejos portugueses da Igreja da Misericórdia totalmente restaurados.  Raros e de grande valor artístico e histórico, eles foram feitos em Lisboa por Antonio de Abreu e remontam ao século XVIII.


Agora, voltaram a ter a aparência original e serão colocados à disposição do público, graças a uma minuciosa ação de restauro realizada sob a coordenação da Associação Espírito Santo Cultura e patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, com supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).


Entre as cenas religiosas retratadas nos azulejos está o que é considerado um dos raros registros em forma de linguagem visual existentes na Bahia da Procissão do Fogaréu - importante cerimônia religiosa que, nos séculos XVIII e XIX, se realizava na quinta-feira da Semana Santa. A procissão era uma dramatização da procura de Jesus pelos judeus que o prenderam no Jardim das Oliveiras.


O outro painel, que também foi recuperado, retrata a Procissão dos Ossos, realizada com o intuito de recolher os corpos que por ventura viessem a ser expostos. A Procissão dos Ossos aconteceu pela última vez na Bahia em 1825.


Todos os painéis de azulejos restaurados estão situados dentro da Igreja da Misericórdia, num prédio onde funcionava a sede da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, que começou a ser construída em 1549 e marcava o início da cidade de Salvador na época. Esse espaço secular abriga ainda o Museu da Misericórdia, que possui exposição permanente do acervo e é o mais visitado da Bahia


"O acervo artístico e histórico da Santa Casa é de especial interesse para todos que
queiram apreciar e compreender a história da Bahia e do Brasil", acrescenta José Antonio Rodrigues Alves, provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia. 


 Precisão 

A operação de restauro dos azulejos foi realizada em quatro meses e

exigiu precisão cirúrgica. A equipe técnica utilizou ferramentas como bisturis, seringas, pincéis, espátulas e lâminas e seguiu com rigor as determinações do consultor Mário Mendonça de Oliveira, professor da Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBa.


"Foi um trabalho minucioso, que exigiu estudo, técnica, atenção e dedicação", disse Mário Mendonça.


Especialista em restauração de monumentos e centros antigos e Irmão da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, ele acrescenta que as ações de conservação e restauro foram precedidas por um levantamento fotogramétrico dos painéis, onde estão anotadas todas as irregularidades encontradas.


Em seguida, de forma conjunta com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a equipe de restauradores optou por promover uma intervenção precisa, mas que não fosse muito invasiva.


O técnico em Restauro de Azulejos, Edson Félix, concorda com as colocações do professor e acrescenta que o trabalho foi realizado de modo a permitir que os painéis tenham uma "respiração natural" com uma vida útil maior.


 A conservação e restauro dos azulejos da Igreja da Misericórdia é uma realização da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, com projeto desenvolvido e executado pela Associação Espírito Santo Cultura e patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian - ambas instituições portuguesas.


Essa inciativa contou com o apoio do Museu Nacional do Azulejo e foi acompanhada e fiscalizada pelo Iphan. Segundo a arquiteta do órgão, Maria do Carmo Baltar, a Bahia tem o privilégio de possuir riqueza espetacular em arte azulejar. "Muitos estudiosos avaliam esses painéis da Santa Casa como dos mais importantes do País", afirmou Maria do Carmo.