Cultura

LEITORES ELETRÔNICOS CHEGAM PARA AMEÇAR OS LIVROS, POR TASSO FRANCO

Vide
| 26/10/2009 às 15:02
Um ambiente não destrói o outro, mas, os livros de papel vão perder espaço
Foto: Divulgação

            As teorias e os sonhos vão se aproximando da realidade a cada dia que avança a primeira década do século XXI e todos asseguram que estamos apenas no início da nova era tecnológica impulsionada pela Tecnologia da Informação. É fascinante e prazeroso vivenciar e participar desse processo. E, nossa geração, aqueles nascidos logo após a II Guerra Mundial, está presenciando essas mudanças como nenhuma outra, porque saiu da mecânica para a eletrônica; do rádio para a TV; da carta de ABC aos e-reades, os leitores eletrônicos.


            Já tive oportunidade de falar aqui neste Ponto-de-Vista sobre as transformações ocorridas no jornalismo e esta Tribuna da Bahia foi a pioneira em alguns procedimentos, há 40 anos, quer no segmento industrial; quer nas relações entre à sociedade e o profissional de comunicação, até então, com exceções, bastante promíscuas e comprometidas. Faziam-se, como infelizmente alguns setores ainda fazem, o jornalismo da barganha e da comissão.


            Há 15 dias fiz uma palestra no aniversário de 43 anos da Biblioteca Pública Juracy Magalhães Jr, em Salvador, para um grupo de professores e bibliotecários. A professora Bernardete Argolo, escritora, educadora de longo curso, fez-me a seguinte pergunta: - Se os e-reades (leitores eletrônicos) iriam sepultar os livros? Disse, com absoluta convicção, até porque presenciei o advento da TV sem o fim do rádio, e da internet sem que o mesmo tivesse ocorrido com a TV, que isso não ocorreria, mas, os e-reades, no decorrer do tempo serão mais poderosos do que o livro.


            Nesta semana aporta no mercado nacional através da Amazon o leitor eletrônico kindle, criado em 2007, por menos R$1 mil e permitindo acesso a acervo de 1.500 livros em um único exemplar de modelo. O kindle é do tamanho de um gibi e já está revolucionando o mercado editoral americano, antes mesmo que o Google, com sua poderosa infraestrutura entre no mercado, o que deverá acontece no primeiro trimestre de 2010 disponbilizando a sua Google Edition, uma gigantesca livraria digital.

           

Há, inclusive, entre as bibliotecas, os editores, os escritores e outros atores temor em relação ao Google dado a sua volúpia, o seu gigantismo. Mas, não há para onde correr porque a empresa já dispõe de 150.000 livros digitalizados e vai chegar, em breve, a milhões. E esse negócio, longe de incluir somente a literatura em sua forma clássica, a ficção, os ensaios, contos e crônicas, vai abocanhar os segmentos técnicos e científicos, os didáticos e demais.

           

Recentemente tivermos já no Brasil, país que sempre acolhe esse tipo de novidades com atraso de alguns anos, um exemplo interessante na classe média alta paulistana quando aconteceu uma greve na rede escolar privada. Muitas faculdades adotaram o ensino à distância, de imediato, e a prática dos deveres de casa via web. Ou seja, o ensino clássico, se no presente já sofre transformações à distância, isso será ainda mais intenso.

           

As discussões que se seguirão daqui pra frente entre autores, editores e escritores regionais que não dispõem de trabalhos literários publicados em grandes editoras para participar desse novo ambiente de difusão da cultura serão intermináveis. Sobretudo a nós, autores baianos que publicamos livros com pequenas tiragens, e que não teremos acesso às redes que controlarão esse mercado.

           

O que fazer? Acompanhar a evolução dos acontecimentos e, no futuro, criar um banco de dados de autores locais para fazer parte desse clube, pois, acontecerá a mesma coisa que ocorreu com autores que demoraram de trabalhar em computadores ou por que não queriam abandonar suas máquinas de escrever ou por que achavam complicado as plantas webs. Hoje, praticamente ninguém mais trabalha com remingtons ou escrevendo a bico de pena, salvo raríssimas exceções, e a maioria quase absoluta dos autores usam sistemas com banda larga.

             

            Então, a disseminação dos leitores eletrônicos - a japonesa Sony já tem alguns modelos; a coreana Sansung idem-idem - estão batendo à nossa porta e não se trata de um brinquedinho tecnológico, como alguns querem situá-lo. É só verificar o que aconteceu com os telefones celulares. Até bem pouco tempo eram equipamentos que funcionavam apenas como telefones, agendas, áreas para jogos, música e outros. E, hoje, estão interligados a internet permitindo que acessem sites, blogs e ambientes diferenciados.


            Voltando, pois, a pergunta da professora Bernadete, livros de papel e capas chamativas ainda vão resistir ao tempo. Mas, perderão milhões de leitores com o passar dos anos. A web é fatal, uma máquina de destruir mitos.