Cultura

A COPA DO MUNDO, OS JOGOS OLÍMPICOS E SALVADOR, POR TASSO FRANCO

Vide
| 05/10/2009 às 10:30
Trens empacotados do Metrosal aguardando a conclusão da obra
Foto: A TARDE

            Salvador tem duas oportunidades raras de sair um pouco do atraso em que está mergulhada há anos, de uma cidade com 3 milhões de habitantes, inchada, desordenada, onde tudo se permite na atualidade, desde colocar out-doors de corrida de automóveis em áreas verdes a urinar nas ruas, e melhorar a qualidade de vida de sua população diante dos investimentos que serão feitos no país para sediar a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Ainda que para a capital baiana ficaram somente as sobras faça-se o máximo de aproveitamento delas.

           

Até agora, pelo que se vê e está divulgado, salvo o projeto da nova Fonte Nova, não foi apresentado nada que empolgue a platéia, sobretudo nos pontos mais críticos da cidade, o sistema de transporte e as suas vias estruturais, a ampliação do Metrosal até o aeroporto e a RMS, e a qualificação e melhoramento da mão-de-obra local para que participe de projetos e empreendedorismos. Há muita conversa no ar, mas, pouca ação.

           

            Ora, nos dois casos (Copa e Jogos Olímpicos) como as sedes serão em São Paulo e Rio de Janeiro, os dois estados mais desenvolvidos do país e geograficamente mais próximos, os investimentos maiores serão realizados nesses dois centros urbanos, algo em torno de R$80 bilhões ou mais (só o trem bala estaria orçado em R$40 bilhões) e vai aprofundar ainda mais as desigualdades regionais. Ou seja, o Centro-Sul andará a 100km por hora e a Bahia a 60km.

           

O Rio de Janeiro, por exemplo, desenvolveu uma planta de uma cidade digital integral para sua área urbana e entorno, a ser instalada nos próximos anos, com pontos de web de alta tecnologia e banda larga acessível para todas as camadas sociais, gratuitamente, que sequer sonhamos. Salvador nesse segmento é de um atraso impressionante. Não há programas. Não há projetos. Não há desenvolvimento de tecnologias de softwares. Quase nada. Hoje, não somos capazes sequer de sediar um call-center interamericano.

           

Ou Salvador sai do ciclo vicioso de pintar meios-fios, ajeitar barracas de praia, construir encostas, erguer passarelas, intermediar mão-de-obra de serviços, fazer turismo no exterior entregando fitinhas do Senhor do Bonfim, podar árvores e outros itens que são interessantes para a cidade e sua gente, porém, não cruciais, e ingressa numa outra etapa, de atuar na orientação do segmento da TI, da modernidade, da civilidade, do império das leis e da ordem, ou vamos continuar nesse atraso secular herdado do período colonial e que parece não ter fim.

           

Veja o seguinte: o Rio disputando os Jogos Olímpicos com um projeto competente, bem estruturado tecnicamente, e amparado pela componente política com o presidente Lula à frente, e nesse mesmo dia, algumas autoridades baianas estavam discutindo como organizar a segurança no Pelourinho, um problema crônico e que se decide apenas com vontade política e pequenos investimentos, e um choque de ordem. Ninguém consegue almoçar numa tenda de rua do Pelô porque é impedido por mendigos, trombadinhas e marreteiros. Pois dito, essa questão perdura há decênios e ninguém consegue resolver.


Não cabe aqui citar A ou B, mas somos obrigados a lembrar da trajetória do metrô de Salvador e RMS que começou em 1975, ainda no governo Roberto Santos, que se arrasta que nem cobra pelo chão como diria o menestrel Gil, há 34 anos, sem um trem na linha. No governo Imbassahy prefeito deu-se o ponta-pé inicial, em 1999, com um projeto de pequeno porte, apenas 14 km, e apoio do Banco Mundial e governo federal, época de FHC. Era para ser inaugurado esse tramo em maio de 2002, depois mudou pra dezembro, antes de findar o governo FHC.


Aí veio aquela crise de caixa do governo FHC e a torneira do metrô foi a primeira a ser fechada. As obras paralisaram. Veio à eleição de 2002 e o Brasil elegeu Lula. Em Salvador, ele teve quase 90% dos votos contra Serra. A esperança ressurgiu nas obras do metrô e marcou-se nova inauguração para 2004, antes de Imbassahy deixar o governo. Mesmo com essa montanha de votos, como a Bahia era governada pelo PFL, Lula deu as costas ao Estado e passou mais de um ano sem pisar os pés em Salvador. Nada. Terminou o governo Imbassahy em dezembro de 2004 e zero, nem um trilho.


Entra João Henrique, em 2005, o metrô é reduzido pela metade e ganha o apelido de "calça curta", passando de 14 km para 6 km. As obras são retomadas e João já concluiu seu primeiro mandato e nada. Veio o governador Wagner, eleito em 2006, amigo de Lula, e nova esperança. O deputado Geddel é empossado ministro da Integração Nacional. E o metrô ainda não tem data para ser inaugurado. Então, essa é a nossa realidade. Não adianta ter otimismo quando os fatos estão aí aos nossos olhos.


Agora, o governo do Estado já fala em fazer o projeto do entorno de Pituaçu e um Parque Olímpico. Isso não tem a menor prioridade para Salvador. Porque não se faz um projeto do metrô ligando o Aeroporto ao Centro da cidade e a Lauro de Freitas-Camaçari? Esse sim que seria o importante para a capital baiana, hoje, o nó górdico. Inclusive já existe até a área reservada para tal na Avenida Paralela. Dinheiro existe. Se há R$40 bilhões para um trem bala, na sobra, a Bahia poderia reivindicar 10% (R$4 bilhões) para dar vida ao "calça curta" e transformá-lo em "calça-cumprida".