Cultura

COMO COMPRAR UMA OBRA DE ARTE?, COMENTÁRIO DE LÍGIA AGUIAR

Ligia Aguiar é artista plástica e comentaristas deste site
| 17/09/2009 às 06:12
Uma obra de arte tem que ser avaliada em vários aspectos
Foto: Arquivo
  Para responder a esta pergunta será necessário recorrer a um especialista em arte - um avaliador, um galerista, um marchad - pessoas que têm uma grande vivência e experiência na área, além de possuir um amplo conhecimento de outras culturas e de história da arte.


  São muitos os fatores que envolvem o processo de avaliação de um trabalho artístico. Temos como princípio que cada obra é única, e como tal é necessário que sejam analisados pontos distintos.


  A autoria é o fator principal para valorar uma obra de arte. Saber quem é o artista, investigar a sua trajetória, qual a fase mais importante, enfim, apreciar detalhadamente a sua biografia.


  Outra coisa é a qualidade artística. Os artistas passam por diversas fases e mesmos os mais célebres, nem sempre produzem ótimas obras. É importante comparar com outras do mesmo autor. Verificar também o seu nível de produção, se há mais oferta ou mais procura dos seus trabalhos.


  O estado de conservação da obra também conta muito, ela é mensurada de acordo com a sua condição.


  Às vezes o tamanho pode não ser documento, uma obra de pequenas dimensões pode valer muito mais que uma grande, isso se deve ao grau de cotação que o artista tem no mercado. O que melhor ilustra esta situação é a obra mais famosa e mais cara do mundo: A Mona Lisa de Leonardo da Vinci, que mede simplesmente 77 x 53 e foi pintada em óleo sobre madeira de álamo.


  Outro ponto determinante é a técnica aplicada, as mais valorizadas são a pintura a óleo e a acrílica sobre tela ou madeira. Outras como o desenho, aquarela, guache e pastel sobre cartão ou papel, são consideradas de menor valor. A arte em série, como as diversas técnicas da gravura, também alcançam um valor mais baixo.


  Observar se a obra está assinada e se é autêntica, para isso, exigir o certificado de autenticidade. Na falta da assinatura o preço cai bastante.


  Considero que a melhor maneira de se investir em arte, é comprar o que gosta, sem seguir modismos, que passam, e sem pensar em obter rápido retorno. Isso pode até acontecer, mas é preciso saber que arte não é um fundo de investimento. Aliás, se você quer começar uma coleção não aposte somente no que está fazendo sucesso, vá além disso, siga a sua intuição. Às vezes o artista menos cotado pode reservar boas surpresas.


  Um bom exemplo disso é que na década de 80, com a retomada da pintura, surgiram novos artistas da emblemática exposição da Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio de Janeiro, sob a curadoria de Marcus Lontra, "Como vai você geração 80?" Muitos dos artistas, desconhecidos até então, surgiram das aulas no Parque: Leda Catunda, Beatriz Milhazes, Daniel Senize, Jorge Guinle, Victor Arruda, Cristina Canale. Pois bem, na época, muita gente adquiriu trabalhos deles e hoje, vinte anos depois, são, entre outros, os artistas mais valorizados do mercado brasileiro.


  Mesmo em tempos de crise, o mercado internacional de arte está nos melhores momentos. Isso se deve a inconstância do mercado financeiro americano, os colecionadores estão diversificando seus investimentos e partindo para aplicar em arte. Em um recente leilão na Christie's, uma das maiores casas de leilão de Nova York, faturou mais de seis bilhões de dólares.


Mas no ano passado, no auge da crise, tanto a Christie's quanto a Sotheby's amargaram prejuízo ao não encontrar compradores para obras famosas.


O mercado brasileiro é ainda restrito. As melhores cotações do mercado de arte brasileiro estão centradas no eixo Rio-São Paulo, onde os trabalhos são cotados em dólar, constituindo uma boa opção para os investidores e colecionadores, mesmo com a valorização em longo prazo.


Artistas contemporâneos brasileiros com penetração no mercado nacional estão também alcançando o mercado internacional, são eles: Cildo Meirelles,Vik Muniz, Beatriz Milhazes, Adriana Varejão e Tunga.


Fazendo a ressalva que esse mercado é ainda tímido e está sendo trabalhado com parcimônia, devido ao alto investimento que uma galeria tem que fazer para representar artistas em feiras internacionais.


O mercado baiano


Na Bahia, podemos dizer que praticamente não existe um mercado de arte ativo. Poucos marchands, duas ou três galerias que elegem quatro ou cinco artistas para representarem, e só.


Com a expansão do mercado de decoração baiano, a coisa melhorou um pouco, o que possibilitou uma maior interação com o meio das artes plásticas.


No mercado de arte de Salvador se estabeleceu um valor a partir do  metro quadrado - caso seja uma tela - variável a depender do status do artista. Entretanto, em alguns países, isso é considerado um desmerecimento para com a obra de arte, eles entendem que não deve ser medida como metragem de tecidos.


Acredito ser isso uma prática aplicada no comércio de arte, assim como a taxa estabelecida para a negociação entre artistas e marchands, - de 33% a 50% - fruto de um acordo internacional para compra e venda de obras de arte. Na prática, muitas vezes, este acordo não é cumprido, para mais ou para menos.   


Caso o artista seja contratado, se torna exclusivo da galeria ou do marchand,  ficando, assim, proibida a realização de qualquer venda em seu atelier. O que tem uma boa cotação no mercado e por esta razão vende sempre, a taxa de venda pode ultrapassar o estabelecido em favor do contratante. Já no caso dos não exclusivos, a venda só se concretiza sob o regime de consignação.