Cultura

VAMOS LÁ EM CASA PARA EU TE MOSTRAR MEU BLOG?, POR MARCO GAVAZZA

Para contatar com autor gavazza@mg3brasil.com
| 16/09/2009 às 00:21
Samuel Johnson e as profecias para a perfeição na publicidade
Foto:
Annabelle, morena deliciosa, completíssima. Acompanhante discreta e carinhosa. Atendimento selecionado. Você não vai se decepcionar. http://www.anaacompanha.blogspot.com/". 


Em 1759, Samuel Johnson, um dos mais ecléticos escritores ingleses, autor até de dicionários, dizia que "o ofício da publicidade está hoje tão próximo da perfeição que vai ser difícil aperfeiçoá-lo ainda mais."


Ou seja: a publicidade e suas manhas são antigas, mas a explosão que a levou a algo remotamente próximo da perfeição presumida por Johnson duzentos anos antes, só aconteceu realmente no  século 20. E não parou por aí.


Entre o final dos anos 90 e o início do século 21, por exemplo, os classificados de todos os jornais do país passaram a publicar incontáveis anúncios classificados de supostas massagistas, acompanhantes e outros eufemismos para anunciar a prostituição. Isto não foi nada que configurasse uma perfeição, mas foi uma novidade, uma quebra de tabus e preconceitos, conduzida pela comunicação sob a forma de propaganda doméstica. 


Já de um certo tempo para cá estes mesmos anúncios trazem ao final de seus curtos textos, não um número de celular, mas um endereço na internet. Lá o potencial "cliente" poderá verificar os dotes anunciados pela  moça em fotos bastante esclarecedoras e decidir se vale a pena investir 200 dólares na bolsa da mesma. O site ou blog contém as informações necessárias à marcação do encontro e outros detalhes. Isto é mais um avanço em direção à suposta perfeição, que entretanto nunca se dará completamente.


Citei este exemplo apenas como mais um diante da crescente utilização da web nas mais diversas situações, necessidades e oportunidades. E pela publicidade, é claro. A internet mostra a sua versatilidade como ferramenta da propaganda nos mais diversos setores da atividade empresarial e comercial, incluindo esta a que nos referimos.  


Menos para o Governo Federal que entende em relação à campanhas eleitorais, que  a web não é um instrumento adequado e precisa ser regulamentado.  Assim, caso eu mencione nesta coluna algumas respostas a perguntas feitas a Geddel, poderei ser processado por Paulo Souto ou Wagner, pois segundo a "inteligentzia"  palaciana, todos devem ter oportunidades iguais. Ou seja, ninguém como cidadão e eleitor pode manifestar preferência por algum candidato, publicamente. 


Daí para proibirem que eu cole um adesivo no meu carro é um passo. E querem que a gente acredite que isso é uma república democrática. 


Internet para candidatos só no site ou blog do próprio. Ou seja: vamos conhecer a opinião de Paulo Souto sobre Paulo Souto, a de Wagner sobre Wagner e a de Geddel sobre Geddel. Além de outras opiniões postadas no mesmo endereço e que -acho difícil não ser assim- somente reforçarão umas às outras.


Além de burra, a regulamentação pede e implora para não ser cumprida, pois é incalculável a quantidade de blogs, sites, comunidades e outras coisas existentes na internet, abrigando opiniões de todas as espécies.  Porque a internet é isso: liberdade e ressonância de expressão prolongada até o cidadão comum e não apenas aos jornalistas e outros que possuem o privilégio de acesso aos meios de comunicação para dar suas opiniões, penadas, palpites, versões e soluções definitivas para qualquer coisa.


Se o poder público consegue controlar direta ou indiretamente os meios de comunicação, por serem concessões públicas ou por outras formas de influência, com a internet entretanto ele é impotente. Pensa então que pode por decreto, determinar o que o Blog do Chiquinho ou o LavaRoupaTodoDia deve ou não mostrar. É o Estado autoritário e controlador vestindo a fantasia da igualdade de direitos.


Maluf -sim ele, o eternamente inocente Paulo Maluf- diz que Lula ia ser o Fidel Castro do Brasil e não o foi porque Palocci fez a cabeça do metalúrgico, desviando-o para as praias do capitalismo, bem mais confortáveis e recheadas de atrações. Maluf se diz hoje um comunista, se comparado a Lula.  Daria pra rir se não fosse trágico. Ou pra chorar se não fosse cômico, não sei bem. Mas é o que está na mídia e por mais absurdo que possa parecer, é verdade. A estrela vermelha hoje representa o mais puro capitalismo de Estado.


Como nosso assunto não é a política -embora ela esteja atualmente tão pegajosa que até em papo de botequim sobre futebol surgem menções a algum político corrupto que é dono do time tal e por aí vai-  vamos voltar à internet.


Cada vez mais a rede mundial de computadores ganha importância, materializando as previsões do surgimento de uma aldeia global feitas por McLuhan há quase meio século.


Embora ainda tenha grande parte de sua utilização voltada para comunicação pessoal, o que também é um avanço histórico, pois que antes dela -e após o interurbano ser incorporado ao cotidiano- as pessoas só trocavam correspondência comercial; a rede vem crescendo em presença no dia a dia de todos. 


O uso da web pelas mais diferentes pessoas e nas mais inusitadas situações é um fato.


Por exemplo: virou notícia nacional o flagrante de um juiz do STJ aqui na Bahia, em sessão do Pleno, com uma página de jogo de xadrez aberto em seu note book. O magistrado alega que abriu o site antes de começar a sessão e esqueceu de fechá-lo. Tudo bem. Palavra de magistrado contra de jornalista e eu estou fora. Mas é a web presente. 


Uma das últimas edições da revista Época traz matéria mostrando a integração da Amazônia -quantas vezes a gente já ouviu falar em projetos com essa finalidade?- ao resto do Brasil sendo finalmente concretizada através da internet, com dezenas de blogs e sites mostrando a realidade daquele pedaço do país meio sem jeito.  A Amazônia é um verdadeiro mistério para quase todos nós e aos poucos está entrando na pauta com notícias outras que não desmatamento ou incêndios.


Diante de  tudo isso, podemos concluir que a "perfeição" avistada por Johnson jamais acontecerá. A cada avanço tecnológico a comunicação acaba incorporando alguma coisa desta tecnologia e em seguida a propaganda entra em cena para continuar sua missão de expandir vendas e mercados.  Isso torna a propaganda -ao contrário do que muita gente pensa- uma atividade em que a perfeição é algo extremamente passageiro e a inovação uma tarefa cotidiana.  O que é perfeito hoje amanhã está ultrapassado.


Talvez por ainda não termos plena consciência desta realidade é que parte da propaganda brasileira -e imensa parte  da propaganda baiana-  em pleno século 21, se pensa e faz digna e merecedora da visão de Samuel Johnson no século 18.