Cultura

CAUSO DOMINGUEIRO (97): ZÉ CALAMIDADE CONTA O CAUSO DO CORNETEIRO

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| 06/09/2009 às 15:28
Esta quem nos contou foi o geólogo José Carlos Fernandes, o Zé Calamidade, ex-vereador e dirigente da Defesa Civil de Salvador (Codesal) por muitos anos. Ele garante que a situação é rigosamente verídica. E nem precisa avisar: não ria, que o assunto é da maior seriedade. Vamos lá.

Era o ano de 1979 e o Shopping Center Iguatemi, inaugurado quatro anos antes, estava em chamas. As atenções da sociedade baiana se voltavam para o centro comercial, que se constituía na grande novidade do segmento comercial naquela Salvador ainda francamente provinciana. Os bombeiros, coitados, faziam das tripas coração na luta contra o fogo, mas perdiam de dez a zero. Os recursos técnicos sequer tangenciavam as necessidades: os equipamentos eram ultrapassados, de vez em quando faltava água ou caía a pressão nos hidrantes. O sinistro (eta palavrinha feia!) era um prato cheio para a mídia adepta do quanto pior melhor.

Preocupado com a situação e na tentativa de levantar o moral dos chamados soldados do fogo, o então prefeito Mário Kertész resolve ir ao teatro de operações. Acompanhado do comandante da corporação, Sua Excelência entra no shopping, onde persistem alguns focos do incêndio, já debelado em boa parte das instalações.  Devidamente paramentado com os EPIs disponíveis, Kertész enfrenta bravamente a fumaça e o calor nas áreas liberadas pelos bombeiros.

Vale lembrar que o local estava às escuras (a energia fora cortada) e a locomoção era precária por entre os escombros. Em meio à tensão do momento, ouve-se um toque de clarim. Silêncio assustado. E se aquilo fosse um aviso de que o prédio estava desabando? Seria aquele o sinal de "salve-se quem puder?...".

Tentando disfarçar o medo, o prefeito cochicha para o comandante:
- Comandante, o que significa esse toque?
Recém-empossado, o chefe dos bombeiros responde, visivelmente constrangido:
- Prefeito, eu também não sei, não...
Era a deixa. Ninguém sabe quem correu primeiro. Somente algum tempo depois, quando já estavam a salvo de qualquer eventualidade, é que o comandante e o prefeito ficaram sabendo: o tal toque indicava a presença de autoridades no recinto. Era uma saudação e não um, digamos, toque de correr.


* Retirado do Blog de Jaciara Santos