Cultura

IR ONDE O POVO ESTÁ É TAREFA DA PROPAGANDA, POR MARCO GAVAZZA

Vide
| 19/08/2009 às 09:24
Le Soliel presença do governador e do prefeito no içamento da lona
Foto: Vaner Casaes

Captação de recursos para patrocinar um evento é uma coisa; captação de recursos para ganhar uma concorrência, é outra. 


No primeiro caso, uma empresa qualificada desempenha o difícil trabalho de convencer anunciantes de que vale a pena espetar sua marca aqui e ali no cenário da festa, pois ela dará um retorno institucional de não sei quantos por cento, que será exposta via mídia espontânea milhões de vezes e por aí vai.  Isto é um dos braços mais importantes do trabalho de agências de propaganda, marketing e comunicação.


No segundo caso,  é convencer pessoas influentes junto ao poder público de que se ela forçar o leme em direção à sua empresa para que esta vença a concorrência, será não apenas bem atendida em seus objetivos como ainda sempre lembrada com carinho e até -quem sabe- presenteada com alguns mimos. Isto é falsidade ideológica ou coisa pior.


Faço estes comentários após ler notícia sensacionalista no L'Observattore Romano dando conta de que na licitação aberta pela prefeitura de Veneza para o seu tradicional carnaval, que dura quase uma semana e reúne centenas de trios elétricos e milhões de foliões vindos de toda parte da Itália para cantar e dançar em majestosos camarotes, foi detectada a formação de uma ação entre amigos, para criar uma empresa capacitada a ganhar a concorrência logo de saída. Tudo invenção da mídia macarroni.


Segundo eles, uma cantora belíssima e muito popular em toda a Itália, que começou sua carreira de sucesso em cima de um trio elétrico pelas ruas de Veneza, estaria associando uma de suas diversas empresas à uma produtora de eventos que é ligada por laços familiares a uma linhagem de políticos de grande influência em Veneza  e no resto do país.  Esta nobre descendência de senadores, governadores, prefeitos e outras ilustres posições na política italiana e veneziana, teria ainda indicado o atual  responsável pelo turismo na linda Veneza e que irá comandar a tal concorrência.  


Essas coisas são comuns na Itália.  Quem além de se encantar com Roma, Nápoles, Verona e suas magníficas obras de arte, acompanha também a política italiana sabe que a cada minuto surge um escândalo e que todas as licitações em Veneza viram uma formidável troca de acusações, xingamentos, e-mails anônimos e matérias indignadas nos jornais antes que a paz volta a reinar e todos se reúnam para comemorar no restaurante Graticola  entre generosas doses de caipiroska, bebida típica italiana.


Como não estamos aqui para comentar licitações, nem na Itália nem na Terra da Felicidade, passamos ao assunto que realmente interessa.  Captação de recursos. Este é um trabalho de grande importância para a retomada do crescimento da propaganda na Bahia e que deveria ser mais utilizado tanto pela iniciativa privada quanto pelo poder público.  Prefeituras do interior que realizam anualmente micareta, grandes festas de São João, festas dos santos padroeiros ou exposições agro-pecuárias poderiam entregar a empresas especializadas o trabalho de conseguir patrocinadores -e verba por conseqüência-  para a realização dos eventos.


A iniciativa privada também poderia desenvolver eventos, sejam eles esportivos, culturais, de moda ou gastronômicos e através das empresas de captação viabilizá-los, gerando receita e demanda de público extras.


Salvador é uma cidade com pouca atrações além da praia e dos shoppings.  Prova disso é que a realização de uma prova da stock car, uma das categorias menos emocionantes do automobilismo, causou verdadeiro tumulto urbano, com ingressos desaparecendo antes mesmo de serem colocados à venda e convites sendo disputados a tapa.


No dia da prova, todas as autoridades civis, militares e -talvez- eclesiásticas locais,  estavam presentes com suas roupas mais chamativas e um imenso crachá pendurado no pescoço. Teve até deputado que compareceu com carro oficial. Fotógrafos faturaram alto com álbuns digitais de poses entre políticos e pilotos, em especial aquele que é filho do tão querido Galvão Bueno e terminou vencendo a prova principal.


A chegada do Cirque du Soleil foi outro acontecimento destinado a entrar para a história da Salvador. No dia do levantamento da lona teve presença oficial do Prefeito e do Governador, com direito a capacetes, coletes reflexivos, botas e tudo mais que de direito. A cidade recebeu com pompa e honra o circo,  lembrando as calorosas recepções que recebia a Caravana Holliday em suas aventuras por este brasilsão de meu deus, no maravilhoso filme Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues. Minha vida é andar por este país, pra ver se um dia me sinto feliz.


Ou seja; é aquilo que todo mundo já sabe: baiano adora festa. Porque então não promovê-las com maior freqüência?


Grandes exemplos disto são a SIM-Semana Iguatemi de Moda e o Festival de Verão, que já ganharam contornos internacionais.


Porque então -por exemplo- o Shopping Barra não promove corridas da motos em suas pistas de acesso aos estacionamentos e que formam um dos mais complexos circuitos automobilísticos já desenhados? Ou a Perini não promove um daqueles festivais internacionais, com barracas de comidas típicas de diversos países, também em seu espetacular estacionamento na Princesa Isabel? Não poderia a Unijorge  criar um festival de inverno, com música, dança, teatro, literatura e sei lá mais o que em pleno canteiro central e passarelas da Paralela?


Isto sem falar nos órgãos públicos que podem promover eventos nas praias, nas mansas águas da Baía de Todos os Santos, no céu e onde mais lhes aprouver.


Para uns ou para outros, público é o que não faltará.


Uma empresa de captação de recursos consegue viabilizar propostas em todos os setores do entretenimento -talvez até estas maluquices que inventei como exemplos- junto a grandes anunciantes, locais ou nacionais, criando novos canais de comunicação não apenas no local do evento, mas em toda a sua fase de divulgação.  É uma injeção de recursos e de ânimo no mercado, viabilizando até a presença de quem andou fora da mídia por cautela ou falta de verba suficiente.


As empresas especializadas em captação possuem profissionais, estrutura, rede de parcerias de prestadores de serviços e principalmente canais de acesso aos anunciantes, podendo transformar um evento num grande negócio  para todos os envolvidos.  Ir até onde o povo está não é tarefa apenas de artistas e políticos. É também -e principalmente- da propaganda.