Cultura

A ARTE DA GUERRA. VERSÃO BAIANA, POR MARCO GAVAZZA

Vide
| 28/07/2009 às 23:55
A Arte da Guerra no tabuleiro da baiana
Foto: MG

A Concorrência n° 001/2009 da Agecom para escolha das agências de propaganda que trabalharão para o Governo da Bahia, mais uma vez  volta a ser notícia nas páginas jurídicas. A Maianga teve deferida a liminar defendendo sua posição conquistada, o que impede a conclusão do processo e embola pela menos dois lotes da licitação.


Não entro mais no mérito das irregularidades, da validade ou não do resultado, dos protestos públicos e processos judiciais gerados pelo Edital nem me importa mais saber se a Maianga é agência de propaganda ou deixa de ser. 


Tenho agora uma certeza: os assessores de comunicação do Governador Wagner nunca leram A Arte da Guerra,  de Sun Tzu,  bíblia dos grandes empresários e políticos embrenhados em ferozes batalhas por consumidores ou  votos.  Se o tivessem feito certamente não teriam cometido o erro estratégico de conduzir a escolha das agências que o atenderão até o final do atual mandato, seguindo o princípio  "quem não está comigo está contra mim".


Vejo agora apenas a conseqüência da estratégia adotada ou da falta dela e que teve como resultado (até agora contestado, o que piora tudo) a escolha de cinco agências supostamente leais aos princípios partidários e ao direcionamento político da administração estadual. O que -rigorosamente- não tem nada a ver com boa propaganda.   


Uma boa agência de propaganda não tem partido, time ou religião: tem a obrigação de obter os melhores resultados possíveis em imagem ou em vendas para seus clientes, independente de gênero, tamanho ou produto. Um  pouco parecido com os direitos individuais previstos na Constituição.  Ao menos esse é o princípio ético da nossa atividade que vem na frente.


Mas o Governo da Bahia assinalou como prioridade a lealdade.  Com isso resultou cercou-se de agências  de diferentes perfis, formatos,  capacidades e -é claro-  competências.  Como o verdadeiro trabalho destas agências será asfaltar o caminho de Wagner até julho/2010 e a partir daí entrar em campanha oficialmente pela reeleição, não é pouco nem fácil o trabalho que as espera. 


Reeleger Wagner não é uma tarefa simples. Por mais sorridente que ele apareça sob aqueles chapéus de couro, em remotas localidades do território baiano, sua identificação com a Bahia permanece frágil. É difícil olhar Wagner e ver nele alguém que entende a Bahia ou se preocupa com ela. Vê-se com clareza um político de carreira, sem pressa. Uma espécie de Rubinho Barichello petista. Mantê-lo por mais quatro anos sentado na cadeira principal do palácio não será fácil.  Ainda mais com este resultado que teima em não proclamar as agências aliadas.


Com a sistemática, os critérios e a avaliação que foram aplicados na concorrência, chegou-se a um resultado que (além de gerar esta confusão toda) deixou de fora do time wagneriano algumas agências das mais competentes do mercado. 


Deixou para quem? É simples. Para todos que forem seus adversários,  com Geddel alegremente à frente da fila.  Estes poderão dispor dos serviços das melhores agências de propaganda da Bahia, livres e desimpedidas em relação a 2010. 


Agências poderosas, como a que pegou João Henrique em 2008 em estado terminal, de acordo com as pesquisas e o reelegeu prefeito de Salvador contra todas as previsões possíveis. Ou a que coleciona  prêmios em campanhas eleitorais desde quando ainda nem existia o marketing eleitoral e lançou um negócio chamado kit político. Lembram disso? Ou ainda uma dirigida por um profissional que se posiciona como pioneiro a tratar um candidato como marca, grife que precisa ser "comprada"  por uma quantidade considerável de consumidores e assim elegeu Waldir Pires e FHC duas vezes.  Entre outros.


Eu, se tivesse que montar um time de basquete para jogar uma partida decisiva contra os Laker's, certamente o último critério que usaria para escolher meus jogadores seria a amizade.  Poria como pivô até um  inimigo de infância desde que ele fosse o mais competente pivô em atividade.   Se ele é o melhor, ele vai jogar a partida contra o adversário e não contra mim. Vai defender sua imagem,  credibilidade, reputação e história. Mas isso sou eu; é o meu raciocínio e eu não estou montando time nenhum e menos ainda sou candidato a qualquer coisa.


Se a assessoria de comunicação de Wagner tivesse lido Sun Tzu, teria  tratado de por ao seu lado o que há de melhor em propaganda na Bahia, deixando os futuros adversários em 2010 sem ter muito pra quem apelar e forçando-os a "importar" profissionais e equipes. Isso além de caro é sempre arriscado, pois quem desembarca hoje na Terra da Felicidade, precisa de muito tempo para entender  os caminhos,  subterrâneos e labirintos que levam a esta felicidade e nas mãos de quem está o mapa.


Como diz o nosso editor: é complexo.


Mas deixaram Sun Tzu de lado para criar estratégias SunAxé, baseadas talvez na  filosofia popular  conhecida por afirmar que "Deus não escolhe os qualificados, mas qualifica os escolhidos".  Pode ser por aí.  Ele escolhe quem lhe parece mais fiel e depois qualifica. Mas Deus é Deus e se quiser pode qualificar o universo inteiro -não o fez ainda mas teoricamente poderia- num piscar dos seus divinos olhos. 


Aqui na Terra -da Felicidade- é mais complicado, principalmente se considerarmos que resta menos um ano para o jogo eleitoral oficial começar e que os adversários, com Geddel novamente sorridente e à frente, já estão no aquecimento. Pode ser que dê certo.  Como disse o ex-ministro Ibrahim Abi-Ackel: em política não se pode fazer previsões para além de oito dias.