Cultura

MAIS AGRESSÃO A HISTÓRIA DA CIDADE DO SALVADOR, POR TASSO FRANCO

Tasso Franco é editor deste site
| 27/07/2009 às 16:10
Monumento heróis da Independência da Bahia e a homenagem a tupinbambá Catarina Paraguaçu
Foto: BJÁ
        Até o experiente jornalista Nelson Rocha, produtor cultural, escreveu e assinou embaixo nesta TRIBUNA DA BAHIA que "o bairro do Rio Vermelho foi descoberto por Diogo Álvares Corrêa, o Caramuru, em 1509" e festejará seus 500 anos. Trata-se, portanto, de um fato inédito na história de Salvador uma vez que a cidade completou 460 anos de existência no último dia 29 de março e, portanto, o Rio Vermelho teria se antecipado 40 anos, sem que Dom João III então rei de Portugal na época soubesse dessa façanha e muito menos Diogo Álvares, sem Corrêa, o real, que sempre morou na Barra e na Graça, naquela época sequer com esses nomes.

      
       Diz ainda Nelson Rocha que será considerado 5 de outubro de 1557, data de falecimento de Diogo Álvares, como Dia do Rio Vermelho e existe até um Projeto de Lei do vereador Pedro Godinho (PMDB) instituindo essa mesma data como Dia de Caramuru. Ainda de acordo com Rocha, a comunidade local está programando uma festa para os 500 anos com desfiles de carros antigos, feira de artesanato e outros.


            Pelo ineditismo da agressão à história seria interessante convidar historiadores locais e nacionais porque se trata, realmente, de algo extraordinário. Até sugiro que convoquem o advogado e historiador Luiz Walter Coelho Filho, autor do bem documentado livro "A Fortaleza do Salvador na Bahia de Todos os Santos"; o professor e historiador Luis Henrique Dias Tavares, autor do renomado "A História da Bahia"; e o escritor Antonio Risério, autor de "Uma História da Cidade da Bahia" para que participem dessa patusca e revejam seus conceitos.


            Ora, brincadeira tem hora. Não se pode zombar da cidade do Salvador, a mãe do Brasil, dessa forma. Isso é uma agressão inconcebível e inaceitável. Agora chega uma nova informação da Câmara de Vereadores dando conta que a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher vai instituir o Prêmio Maria Felipa, "uma alusão à negra baiana considerada heroína na luta contra os portugueses, pela Independência da Bahia, em 1823".


            Diz a nota da Câmara que, conforme a presidente dessa Comissão, vereadora Eron Vasconcelos (DEM), Maria Felipa de Oliveira "comandou 40 mulheres num ato de ousadia e muito desembaraço, quando foram queimados 42 barcos da esquadra portuguesa". Ainda segundo a vereadora "isso permitiu ao povo de Salvador a supremacia nos embates e a definição da situação, com a vitória sobre as tropas de Portugal".


            Diante de tais afirmações seria interessante que a presidente do Instituto Geográfico e História, Consuelo Ponde, convocasse historiadores dessa corte para dar ciência de fatos tão inéditos, desconhecidos da historiografia das lutas pela Independência da Bahia para que também sejam modificados os compêndios sobre a matéria. Há, durante as lutas de 1823, a participação de algumas mulheres - mestiças, brancas e negras - mas, nada que denote heroísmo, mesmo as citadas como tais feitos consagrados como Maria Quitéria e Joana Angélica.


            A descrição sobre as mulheres gameleiras (nativas da localidade de Gameleira, Ilha de Itaparica) está contida num livro de Ubaldo Osório, avô do escritor João Ubaldo Ribeiro, o qual, narra como essas marisqueiras distraiam soldados portugueses que, por determinação do brigadeiro Madeira de Melo, tentavam quebrar o bloqueio a Salvador do abastecimento de víveres às suas tropas a partir de Itaparica na linha do Recôncavo, cercadas pelas tropas do Exército Pacificador.


            Teria, segundo Ubaldo Osório, essas marisqueiras atraído os portugueses da barca Constituição para um local ermo, com atos de sedução, e, depois que os gajos estavam semi-embriagados aplicaram-lhes uma surra com folhas de cansanção. É provável que, de fato, isso tenha acontecido, até porque a embriagues era comum na tropa lusitina, fato inclusive que resultou na morte de Joana Angélica, no Convento da Lapa.


             Seria, assim, Maria Felipa a líder dessas mulheres. Mas, isso está longe de representar um ato de heroísmo para merecer da Câmara de Salvador uma comenda. Porque, se é pra brincar com a história, uma hora dessas vão querer instituir uma comanda para Zecacomunista, personagem de João Ubaldo Ribeiro. A vereadora do DEM ainda teve o acinte de dizer que o ato das marisqueiras permitiu a supremacia dos embates e a vitória nacional.


            Sabe-se, historicamente falando, que nem o almirante Lord Crochane, contratado com sua armada por dom Pedro I, teve a ousadia de atacar as embarcações de Madeira de Melo ancoradas em Salvador, porque não tinha bocas de fogo para isso e seria derrotado, ficando à espreita do cerco em Morro de São Paulo. Tanto que, na madrugada de 2 de Julho, as tropas portuguesas embarcaram nos navios de guerra e outras embarcações e zarparam para Lisboa, sem que um tiro de mosquetão fosse deflagrado.